AEB projeta queda de quase 12% no superávit comercial em 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de julho de 2022

Movido pela arrancada nos preços das commodities, especialmente depois de deflagrada a guerra entre Rússia e Ucrânia, o comércio exterior tende a acumular recordes tanto nas exportações quanto nas importações ao longo deste ano, nas projeções mais recentes da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O feito, de toda forma, pouco ajudará no desempenho da economia brasileira, diante do crescimento mais vigoroso das compras externas e da perspectiva, antecipada pela associação, de queda no saldo comercial – a diferença entre exportações e importações –, o que deverá se traduzir em menor empuxo para a atividade econômica doméstica em uma quadra já estressante e desafiadora para o País.

“O aumento projetado de 13,8% nas exportações e crescimento de 21% nas importações brasileiras contribuirão de forma negativa no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas por um país) de 2022”, comenta a AEB. Numa estimativa que considera o comportamento daquelas duas variáveis no primeiro semestre do ano e expectativas sobre o que pode ser o segundo semestre para a balança comercial, com “sinalizações futuras, sob a perspectiva de preços e volumes”, a associação espera exportações ao redor de US$ 319,471 bilhões, diante de US$ 280,633 bilhões em 2021, com as importações passando de US$ 219,409 bilhões para US$ 265,345 bilhões.

Diante do incremento mais do que proporcional das compras externas (variação de US$ 45,936 bilhões diante de um acréscimo de US$ 38,838 bilhões na conta das vendas externas), o saldo comercial deve cair em torno de 11,9%, baixando de US$ 61,224 bilhões para US$ 54,126 bilhões (US$ 7,098 bilhões a menos). A própria associação se antecipa em mostrar que essas previsões estão sujeitas a chuvas e trovoadas diante do conjunto de incertezas e de fatores que ainda podem alterar o cenário daqui em diante. “Muito mais impactantes do que em anos anteriores, em 2022 têm sido observadas constantes e expressivas oscilações de preços e quantum (volume) nas operações de comércio exterior. Com isso, as estruturas dos parâmetros para elaborar projeções estão sendo corroídas, dificultando sua realização com um grau adequado de segurança, pois fortes oscilações estão ocorrendo, para cima e para baixo, num curtíssimo prazo”, anota a AEB.

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Sem controle

A ponderação faz todo sentido quando se consideram os fatores anotados pela mesma AEB, interferindo na capacidade de projeção, na verdade, em todas as áreas da economia. “A pandemia, a guerra Ucrânia e Rússia, a desaceleração econômica global, a inflação mundial, o bloqueio de containers e lockdowns na China, o aumento dos custos de fretes internacionais, a falta de matérias primas, a elevação das cotações das commodities, as operações-padrão (pela fiscalização da Receita Federal) no Brasil, a elevação das taxas de juros, entre outros cenários e fatores, estão sendo considerados na revisão da balança comercial para 2022”, acrescenta o texto distribuído ontem à imprensa pela associação. Tudo somado, as chances de que as estimativas se concretizem dependem de um amplo leque de circunstâncias em sua maioria fora do controle do País e de seus exportadores.

Balanço

  • Mesmo diante de uma “discreta acomodação” dos preços das principais commodities exportadas pelo País, a AEB lembra que as cotações médias continuam em níveis historicamente muito elevados, o que ajudará a elevar as exportações para níveis recordes (assim como as importações tenderão a atingir a marca mais elevada na série histórica).
  • Esse movimento certamente deverá contribuir para melhorar os resultados do setor exportador, ainda que esse desempenho não gere impactos relevantes para o conjunto da economia. Sob um ponto de vista mais estratégico e de longo prazo, a AEB observa um aumento da dependência do Brasil às exportações de commodities, “produtos com níveis reduzidos de agregação de valor” e sobre as quais o País e seus exportadores “não têm controle de seus preços e quantum, ficando na dependência de decisão dos importadores, normalmente países desenvolvidos que fazem valer sua larga tradição de negociação internacional”.
  • Os volumes a serem embarcados com destino a portos no exterior tendem a certo equilíbrio entre altos e baixos, mas a AEB chama a atenção para a queda projetada para “os três principais produtos de exportação”, a saber, soja em grão, petróleo e minério de ferro. Os embarques de soja, espera a associação, deve cair de 86,0 milhões para algo próximo a 75,0 milhões de toneladas, em baixa de 12,8%. No caso do petróleo, projeta-se recuo de 7,9%.
  • As vendas de minério de ferro, em volume, tendem a sofrer queda de 10,4%, saindo de 357,0 milhões para 320,0 milhões de toneladas. Com um agravante, neste caso. Os preços do minério ensaiam baixa de 25,4%, encolhendo de US$ 125 para US$ 93,30 por tonelada, na média de 2021 e de 2022 respectivamente. Para soja em grão e para o petróleo, ao contrário, os preços médios devem subir 29,7% (de US$ 449 para US$ 582,60 por tonelada) e 39,2% respectivamente.
  • O resultado final da balança comercial, mais uma vez, dependerá largamente do saldo comercial no setor agropecuário, que tende a crescer 22,2%, saindo de US$ 49,824 bilhões para US$ 60,892 bilhões (resultado de um crescimento de 20,9% nas exportações de uma variação de apenas 8,4% nas importações). Em contrapartida, a balança comercial de produtos manufaturados, prevê ainda a AEB, deverá apresentar déficit comercial (importações maiores do que exportações) em torno de US$ 120,0 bilhões – um novo recorde nesta área.
  • Se confirmado, o déficit deve crescer em torno de 8,0% diante do recorde anterior, registrado em 2021, quando havia sido registrado um resultado negativo de US$ 111,278 bilhões. Nos seis primeiros meses deste ano, o déficit no setor de manufaturas chegou a atingir US$ 59,511 bilhões.
  • Na visão da AEB, os “produtos manufaturados mantêm sua contínua queda de participação na pauta de exportações”. Depois de alcançar 59% em 2000, as vendas de manufaturados atualmente respondem por 28,5% do total exportado, “ou seja, queda de participação acumulada de 51,7%, significando importante perda de divisas e empregos qualificados”.