Agronegócio desacelera e deixa de injetar ânimo na economia no terceiro trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de dezembro de 2021

O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, no cálculo realizado a quatro mãos pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), vem perdendo fôlego neste segundo semestre e passou a indicar queda em setembro, deixando de injetar ânimo na economia como um todo. Mesmo analisado sob o ponto de vista da renda, ou seja, considerando os volumes produzidos e os preços recebidos pelos produtores, conceito que difere daquele adotado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a aferir o PIB do País, o agronegócio deixou para traz taxas de crescimento de 1,93% e de 1,33% em maio e junho para avançar 0,79% e 0,64% em julho e agosto, caindo 1,02% em setembro e acumulando variação de 0,40% no terceiro trimestre, depois de experimentar salto de 9,81% no primeiro semestre do ano.

A queda em setembro atingiu praticamente todos os grandes ramos do setor, com exceção para o segmento de insumos, que registrou elevação de 3,52% em relação a setembro do ano passado, principalmente em função dos preços mais altos. Os setores primário, indústria e de serviços encolheram, pela ordem, 1,10%, 1,23% e 1,28% sempre na comparação entre o nono mês deste ano e igual período do ano passado. O crescimento mais acelerado observado nos primeiros meses deste ano, com taxas de 1,94% e 1,69% em janeiro e fevereiro, seguidas de altas de 1,60% e 1,44% em março e abril, e de 1,44% e 1,93% em maio e junho, conforme já anotado acima, asseguraram à renda do agronegócio como um todo um avanço ainda bastante confortável na comparação entre os primeiros nove meses deste ano e o resultado acumulado em igual intervalo de 2020.

Como tendência, no entanto, o agronegócio não conseguiu, desta vez, distanciar-se do cenário de estagnação observado para o conjunto da economia. Em consequência, a tração exercida pelo ritmo da atividade no setor em outros momentos passou a perder sua força e tende a ter influência menor sobre o restante da economia, colaborando, desta vez, para que os números mais gerais da atividade econômica continuem fracos. Embora a alta dos preços tenha turbinado os resultados da agricultura ao longo do ano, produzindo alta de 17,06% no PIB do ramo agrícola no acumulado até setembro, essa elevação significou custos mais salgados para o setor pecuário, que acumulou, em igual período, tombo de 4,76%. Em setembro, mais especificamente, a agricultura sofreu recuo de 0,44% diante do mesmo mês de 2020, mas a pecuária encolheu 2,58%

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Volumes em queda

Quando são tomados os mesmos critérios adotados pelo IBGE para medir o comportamento da economia, considerando-se apenas os volumes de bens e serviços produzidos, a preços constantes, o PIB do agronegócio sofreu baixa de 1,0% na comparação entre os nove meses iniciais deste ano e os mesmos meses de 2020. A retração foi influenciada pelo recuo de 1,15% no setor de serviços prestados ao campo e pelo tombo de 4,57% acumulado no setor primário do agronegócio. Nesta área, agricultura e pecuária sofreram reveses de 5,79% (com queda na produção de milho, café, cana, feijão, algodão e laranja) e de 2,07% (com queda na produção de bovinos para corte e de leite). A agroindústria apresentou variação positiva de 0,48% nos nove meses analisados pelo Cepea, com a alta de 2,62% na indústria de base agrícola amortecida pela queda de 6,85% na indústria ligada à pecuária, o que parece estar associado ao menor abate de animais ao longo do ano.

Balanço

  • A alta dos juros básicos (da taxa Selic) vai gerar outra sorte de dificuldades para o lado real da economia, atingindo de frente micro e pequenas empresas mais afetadas pela crise e que recorreram aos recursos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criado em junho do ano passado para evitar que milhares de negócios de pequeno porte naufragassem durante a retração gerada pela pandemia.
  • Em sua primeira fase, realizada em 2020, os juros cobrados das micro e pequenas empresas que conseguiram acessar a linha de crédito criada pelo programa haviam sido fixados em 1,25% ao ano, mas a taxa Selic, que estava ainda em 2,25% ao ano em junho do ano passado. A partir de 6 de agosto de 2020, os juros básicos foram reduzidos para 2,0% – nível mantido até 17 de março deste ano.
  • Isso significa dizer que as empresas que contrataram o crédito do Pronampe a partir da segunda semana de agosto do ano passado tiveram que fazer frente a um custo final muito próximo de 3,28% ao ano. Entre 18 de março e 8 de dezembro deste ano, a taxa Selic saltou de 2,0% para 9,25% e tende a sofrer mais uma correção em fevereiro, atingindo provavelmente 10,75%.
  • Além da alta da taxa básica, os juros do Pronampe subiram de 1,25% para 6,0% ano na segunda fase do programa, iniciada neste ano. Considerando os juros básicos fixados na semana passada, o custo para micro e pequenas empresas subiria para 15,8% ao ano (4,8 vezes mais). Em fevereiro de 2022, a nova elevação da taxa básica faria o custo do Pronampe subir para 17,4%, o que corresponderia a uma alta de 5,3 vezes desde o final do ano passado. A tendência é que esse custo muito mais pesado para empresas já combalidas pela crise acabe elevando ainda mais a inadimplência nesta área, que já frequentava níveis muito mais altos do que a taxa média registrada para todo o mercado, que vinha rondando entre 1,4% e 1,6% para pessoas jurídicas até outubro.
  • No caso das operações contratadas no ano passado, já com prazo de carência vencido, a inadimplência havia alcançado 10,5% e 7,2% para micro e pequenas empresas, respectivamente, de acordo com dados divulgados pelo jornal Valor Econômico. Os empréstimos contratados neste ano ainda estão em período de carência (quando as empresas ficam liberadas de pagar juros e amortizações), exatamente para permitir que as empresas utilizem os recursos contratados para reforçar o caixa, honrar compromissos e movimentar seus negócios, voltando a respirar e a gerar receitas.
  • A carência pode variar entre oito e 11 meses, com prestações e juros passando a ser exigidos ao final daqueles prazos. O custo mais salgado do Pronampe tenderá a elevar a inadimplência, principalmente a partir de 2022.