Agronegócio explica todo saldo comercial do Estado e 87,5% das vendas externas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de julho de 2023

Com a baixa ligeiramente menos intensa nas exportações do setor frente à queda de 8,09% experimentada pelas vendas externas totais originadas em Goiás, a dependência do Estado em relação ao agronegócio elevou-se na primeira metade do ano. Com importações em níveis relativamente muito reduzidos – até porque alguns itens importados pelo setor e de grande peso na balança comercial como um todo não entram na conta feita pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) –, o agronegócio continua respondendo por todo o superávit comercial do Estado, num comportamento já histórico e estrutural, refletindo o perfil de baixa densidade e complexidade da indústria instalada em Goiás.

Os dados do Mapa deixam evidente a concentração das exportações e a extrema dependência da balança comercial em relação aos resultados apresentados pelo agronegócio. Entre janeiro e junho deste ano, dado liberado ontem pelo ministério, o agronegócio goiano exportou pouco mais de US$ 6,105 bilhões, o que correspondeu a uma redução de 2,51% na comparação com os mesmos seis meses do ano passado, quando as vendas externas do setor chegaram a somar qualquer coisa ao redor de US$ 6,262 bilhões. A perda, portanto, chegou a US$ 157,315 milhões, concentrada nos complexos soja (grão, farelo e óleo) e carnes (bovina, suína e de aves).

Mas a participação do setor nas vendas externas totais do Estado avançou, já que as exportações estaduais sofreram queda mais intensa, baixando 8,09% (US$ 614,327 milhões a menos, com as vendas externas baixando de US$ 7,592 bilhões para US$ 6,978 bilhões, como já anotado neste espaço). Como consequência, a fatia do agronegócio foi elevada de 82,49% para 87,50%. Numa outra leitura, portanto, a degradação das vendas totais ao exterior e a resiliência maior do agronegócio, com alta concentração na soja e seus derivados, contribuíram para agravar a concentração.

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Planejamento inexistente

A escolha do verbo acima não é aleatória, considerando-se que aquele aumento na dependência torna mais evidente a incapacidade de a economia estadual gerar excedentes exportáveis de maior valor agregado e com conteúdo tecnológico mais relevante, a despeito de políticas agressivas de incentivos fiscais teoricamente destinados a atrair investimentos. O fato é que esses investimentos têm ocorrido sem um planejamento estrutural, que se ocupe de direcionar esses recursos para tornar o sistema industrial mais robusto, atraindo de fato indústrias que contribuam para preencher vazios na estrutura industrial, ajudando a reforçar cadeias faltantes, agregando valor e complexidade a todo o sistema. Esse direcionamento contribuiria, ainda, para a geração de empregos de maior qualidade, com salários mais elevados, maior renda e, portanto, maior consumo, turbinando o crescimento da economia como um todo e, por óbvio, a arrecadação de impostos. Não basta, portanto, ter incentivos se não se sabe o que fazer com eles além de engordar resultados das empresas beneficiadas.

Balanço

  • As importações do agronegócio, mantidas em níveis muito reduzidos em relação ao tamanho das exportações, experimentaram um salto de 21,47% no primeiro semestre, subindo de US$ 57,728 milhões para US$ 70,124 milhões (ou seja, em torno de US$ 12,396 milhões a mais). O crescimento pode ser explicado principalmente pelo avanço das compras lá fora de “produtos oleaginosos” (excluído o óleo de soja), que passaram de apenas US$ 3,701 milhões para US$ 15,054 milhões, quer dizer, um aumento de 306,75%.
  • A variação entre os dois semestres chegou a US$ 11,353 milhões, correspondendo a 91,59% do aumento geral experimentado pelas compras externas do agronegócio. Os dados desagregados do Mapa mostram que a maior influência veio das importações de óleo de dendê, que subiram 384,4% entre os primeiros seis meses de 2022 e igual período deste ano. Em dólares, subiram de US$ 1,237 milhão para US$ 11,388 milhões.
  • Antes de prosseguir, não deixa de causar certo estranhamento pela forma como o Mapa e outros organismos, incluindo departamentos econômicos de grandes bancos e consultorias badaladas, apropriam dados de importações na balança comercial do agronegócio. Na ponta de exportações, são incluídos todo e qualquer produto que de alguma forma utilizou e agregou produtos de origem agropecuária (calçados e móveis, num exemplo). Mas as importações desconsideram produtos importados e utilizados pelo agronegócio, como máquinas agrícolas, suas peças e acessórios, e até adubos.
  • Feita a ressalva, a estatística do Mapa mostra que a balança comercial do agronegócio apresentou um saldo positivo de US$ 6,035 bilhões entre exportações e importações. Houve queda de 2,74% em relação ao superávit de US$ 6,205 bilhões nos seis meses iniciais de 2022, refletindo muito mais a queda nas vendas externas.
  • Para comparar, o superávit comercial acumulado por toda a economia chegou a US$ 4,493 bilhões na primeira metade deste ano, variando apenas 0,68% em relação aos mesmos seis meses de 2022. Descontado o agronegócio, portanto, as exportações dos demais setores da economia desabaram 34,37% entre os dois semestres analisados, caindo de quase US$ 1,330 bilhão para US$ 872,533 milhões (US$ 457,012 milhões a menos, sob influência de quedas de 51,05% nas exportações de ouro; queda de 25,58% nas vendas de ferroligas; e de 10,98% nos embarques de minérios de cobre).
  • Novamente descontadas as compras do agronegócio, as importações restantes baixaram de US$ 3,071 bilhões para US$ 2,414 bilhões, num tombo de 21,39% (baixa de US$ 657,071 milhões). Paradoxalmente, a redução de 59,22% nas importações de adubos, que desabaram de US$ 1,092 bilhão para US$ 445,450 milhões), explica 87,13% da queda experimentada pelas compras externas (descontadas as importações de produtos agropecuários).