Agronegócio registra saldo recorde de US$ 1,16 bi, mas guerra acirra dúvidas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de março de 2022

As exportações do agronegócio goiano mais do que duplicaram no primeiro bimestre deste ano, comparado aos dois primeiros meses do ano passado, lideradas pela soja e seus derivados, carnes e milho. A variação muito tímida das importações fez com que o saldo comercial do setor experimentasse um aumento proporcional ao avanço registrado pelas vendas externas. De fato, o agronegócio continuou respondendo por todo o superávit da balança comercial do Estado, consolidando uma tendência já histórica.

A expectativa do setor, diante da valorização das commodities agrícolas, acelerada na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, sugere uma continuidade na tendência de alta das exportações, ainda que persistam dúvidas relativamente consistentes em relação aos reflexos do conflito sobre a economia global e principalmente sobre o comércio mundial. Numa primeira análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “uma forte desaceleração ou uma recessão da economia global em 2022 resultará numa perda de ritmo muito mais expressiva do comércio global do que o previsto pelo FMI”.

No cenário traçado pelo fundo ainda em janeiro passado, já surgia a estimativa de uma desaceleração no ritmo de crescimento do comércio global, saindo de 9,3% em 2021 para 6% em neste ano, “o que terá efeitos negativos sobre o volume das exportações brasileiras, afetando, principalmente, as vendas externas de manufaturados”. Para o Iedi, o “ponto de interrogação”, entre vários outros colocados pela guerra no leste da Europa, “é se a alta dos preços das commodities será suficiente para mais do que compensar o eventual menor volume exportado de manufaturados, resultando num aumento ou atenuando a queda do valor total de nossas exportações em 2022”.

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Déficits

De volta à balança comercial de Goiás, excluído o agronegócio, todo o restante da economia goiana continuava a apresentar saldo negativo em suas transações com o restante do mundo, ainda que uma fatia não desprezível das importações nesta área, ocupada pelos fertilizantes, tenha como destino final o próprio agronegócio. Mas a metodologia adotada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não contabiliza as compras de adubo importado na balança comercial do agronegócio, embora adote um conceito amplo o bastante para incorporar as vendas externas de fios e tecidos a base de algodão, calçados de couro e outros bens manufaturados de base agropecuária nas estatísticas de exportação do setor.

Balanço

  • Os dados do Mapa mostram que o agronegócio em Goiás exportou um valor recorde no acumulado dos primeiros dois meses deste ano, saindo de praticamente US$ 486,650 milhões em janeiro e fevereiro de 2021 para algo próximo a US$ 1,179 bilhão, num avanço de 142,2%. A participação do agronegócio nas exportações totais do Estado cresceu de 63,78% para 74,34%. Sozinho, o complexo soja respondeu por 42,49% do total exportado a partir de Goiás.
  • As importações ficaram limitadas a meros US$ 18,401 milhões neste ano, diante de US$ 18,325 milhões no bimestre inicial do ano passado, numa variação de modesta de 0,41%. A diferença foi um superávit de US$ 1,160 bilhão, o mais alto da série histórica, correspondendo a um salto de 147,7% na comparação com o saldo de US$ 468,325 milhões nos mesmos dois meses de 2021.
  • Nos demais setores, as exportações cresceram com algum vigor, mas de forma menos intensa do que no agronegócio, com os embarques passando de US$ 276,323 milhões para US$ 406,865 milhões, numa alta de 47,24%. As importações nesta área cresceram apenas 4,49%, avançando de US$ 915,850 milhões para US$ 956,931 milhões – a variação modesta está relacionada ao fim, até aqui, das operações de compra de energia de fornecedores de fora do País.
  • Ainda sem o agronegócio, a balança comercial teria sido deficitária em US$ 550,066 milhões, um rombo quase 14,0% mais baixo do que no primeiro bimestre de 2021, quando havia somado US$ 639,527 milhões.
  • As compras externas de adubos e fertilizantes, realizadas pelo Estado mais uma vez em janeiro e fevereiro de cada ano, subiram fortemente em 2022, atingindo US$ 287,873 milhões, frente a US$ 123,816 milhões e influenciando o desempenho das importações como um todo. Excluídos os fertilizantes, Goiás teria importado 15,17% a menos, passando a comprar no exterior US$ 687,459 milhões diante de US$ 810,359 milhões no primeiro bimestre de 2021.
  • Transferindo-se a conta dos fertilizantes para o agronegócio, seu saldo comercial teria baixado para US$ 872,242 milhões em janeiro e fevereiro deste ano. Mas manteria firme crescimento em relação a 2021, quando teria realizado um superávit de US$ 344,509 milhões (incluindo os fertilizantes na conta das importações do setor). O crescimento, nesta comparação, teria alcançado 153,2%. Na mesma linha, o déficit nos demais setores da economia goiana teria experimentado tombo de 49,16%, passando de US$ 515,711 milhões para US$ 262,193 milhões.
  • Uma fatia de 41,16% das compras de fertilizantes foi ocupada pela importação de potássio, que chegou a quadruplicar entre 2021 e este ano (sempre no primeiro bimestre), saltando de US$ 29,251 milhões para US$ 118,477 milhões – em grande parte por conta da alta dos preços do insumo no mercado internacional antes mesmo do conflito. O principal fornecedor de potássio foi o Canadá, com 44,0% de participação e alta de 880,7% nas vendas a Goiás (de US$ 5,318 milhões para US$ 52,156 milhões). A Rússia, na sequência, respondeu por 31,6% das importações, com aumento de 284,4% (de US$ 9,746 milhões para US$ 37,464 milhões, antes da guerra). O terceiro principal mercado de origem foi o Chile, num salto de 1.127,4% (de apenas US$ 1,230 milhão para US$ 15,097 milhões) e participação de 12,7%.