Ainda incipiente, energia gerada a partir de resíduos urbanos avança

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 04 de junho de 2022

Quarto maior gerador de resíduos sólidos no mundo, produzindo 82,5 milhões de toneladas de lixo por ano, de acordo com Carlos Silva Filho, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil registra apenas 49 projetos de recuperação de biogás no Brasil segundo a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Clima – muito embora 2.612 municípios em todo o País disponham de aterros sanitários, que recebem em torno de 60% dos resíduos urbanos gerados ou algo próximo a 50,0 milhões de toneladas anualmente, conforme Silva Filho.

Até 2040, segundo o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o país terá que destinar 63,4% dos resíduos para a recuperação e aproveitamento de biogás, o que seria suficiente para gerar energia para abastecer 9,5 milhões de domicílios. Estudo patrocinado pela Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), presidida por Yuri Schmitke, identificou viabilidade técnica e econômica para instalação de 274 usinas voltadas para o aproveitamento energético de resíduos urbanos gerados por 28 regiões metropolitanas com mais de 1,0 milhão de habitantes, incluindo 95 plantas para produção de combustíveis derivados de resíduos, outras 94 unidades de recuperação energética e 85 usinas de biogás obtido por meio de biodigestão anaeróbica. Isso exigiria um investimento muito próximo de R$ 80,0 bilhões, estima Schmitke, gerando 15,0 mil empregos diretos e mitigando emissões ao redor de 64,5 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que significaria o plantio de 192,0 milhões de árvores numa área equivalente à do município de São Paulo por ano.

Estratégico

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Aquelas termelétricas teriam capacidade para abastecer até 3% da população, numa potência estimada em 2,5 gigawatts, saindo de uma participação do biogás na matriz energética atualmente inferior a 0,1%. A Abren relaciona meia dúzia de projetos de unidades de recuperação energética a caminho, com capacidade final para 208 megawatts e aproveitamento de 8.235 toneladas por dia de resíduos urbanos. Caso venham a ser instalados, apenas os seis projetos relacionados pela associação teriam capacidade para processar alguma coisa em torno de 4,0% de todo o lixo urbano. O potencial para a produção de insumos energéticos a partir de resíduos urbanos é notoriamente elevado e ajudaria a agregar previsibilidade ao mercado de energia, já que a produção pode ocorrer o ano todo, livre da influência de preços externos e do câmbio. São fatores nada desprezíveis, que se somam aos impactos ambientais representados pela mitigação de gases do efeito estufa e pela redução do volume de resíduos atualmente despejado em aterros e lixões, com danos ambientais relevantes.

Balanço

  • A integração dos ativos da Estre, finalizada em abril deste ano, deverá contribuir para que a Orizon Valorização de Resíduos amplie a produção de biogás de alguma coisa entre 1,3 milhão a 1,5 milhão para quase 2,5 milhões de m³ por dia, atingindo uma potência instalada próxima a 100 MW nas suas 12 plantas em operação, conforme Jorge Rogério Elias, diretor de engenharia e implantação da companhia. Em junho, a Orizon coloca em operação a primeira termelétrica movida a biometano, em Paulínia (SP). Foram investidos aproximadamente R$ 240,0 milhões, detalha Elias, dos quais R$ 180,0 milhões na termelétrica e R$ 50,0 milhões na planta de biometano, que deverá produzir entre 70,0 mil a 100,0 mil normal metros cúbicos (Nm³).
  • Vencedora do leilão A-5 realizado em setembro do ano passado para venda de energia, a Orizon investe perto de R$ 500,0 milhões para construção em Barueri (SP) da primeira planta na América Latina a gerar energia a partir da queima controlada de resíduos sólidos. Ainda conforme Elias, a unidade terá capacidade para 20 MW e consumirá perto de 850 toneladas por dia de resíduos.
  • A ZEG Biogás tem planos para multiplicar em onze vezes sua capacidade de produção de biometano até 2025, saindo de 26,0 milhões atualmente para mais de 280,0 milhões de m³ por ano, num investimento próximo R$ 1,45 bilhão, adianta Carlos Augusto Jacob, CEO da empresa. A primeira leva de projetos deverá entrar em operação entre 2023 e 2024, quando deverá somar 60,0 milhões de m³ à capacidade atual, investindo em torno de R$ 250,0 milhões. Em torno de 200,0 milhões de m³ deverão ser acrescidos até 2025, afirma Jacob, com mais R$ 1,2 bilhão investidos.
  • “O biogás passa agora por um momento de aprovação crescente, mostrando-se uma alternativa importante não só para diversificar a matriz energética, mas como parte relevante da estratégia para a destinação e tratamento adequados dos resíduos sólidos urbanos”, Luiz Serrano, sócio e diretor da RZK Energia, empresa do Grupo Rezek. Quatro entre oito plantas operadas pela empresa são movidas a biogás, três das quais instaladas em São Paulo (nos aterros de Juazeiro, São João e Bandeirantes) e a quarta no Rio de Janeiro (em Nova Iguaçu), com capacidade para gerar, no total, perto de 38,8 MW, pouco mais de 17% da energia gerada pelo biogás proveniente de aterros sanitários no país. Segundo ele, a empresa investiu em torno de R$ 100,0 milhões no setor desde 2019 e pretende dobrar seu portfólio nos próximos anos, “por meio de projetos greenfield ou brownfield”.