Alimentos e serviços determinam o ritmo da inflação em 12 meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de fevereiro de 2023

Uma análise mais detida do comportamento dos preços entre os grandes grupos de despesas das famílias indica que a alta nos custos da alimentação e dos serviços continuava a determinar o ritmo da inflação acumulada nos 12 meses encerrados em janeiro deste ano. Os preços dos alimentos consumidos dentro de casa pelas famílias ajudaram a explicar mais de um terço da taxa inflacionária registrada no período, após acumularem salto de 12,29% entre fevereiro de 2022 e janeiro passado. Para relembrar, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anotou variação de 5,77%.

A inflação dos alimentos correu, portanto, a uma velocidade mais de duas vezes maior, atingindo mais duramente as faixas de renda mais baixa da população, que destinam a parcela mais elevada de seus rendimentos à alimentação. Produtos panificados, leite e derivados, bebidas, aves e ovos, na sequência, produziram maior estrago na inflação dos alimentos, com altas, pela ordem, de 19,39%, de 21,36%, de 10,55% e de 7,47% nos 12 meses analisados. Em conjunto, os quatro grupos de gastos responderam por praticamente 53% taxa de variação dos preços da alimentação no domicílio e por pouco mais de 18% do IPCA geral.

Entre os 12 meses finalizados em janeiro de 2022 e igual período terminado em janeiro deste ano, a taxa de inflação perdeu 4,61 pontos percentuais, depois de ter alcançado 10,38% no primeiro período. Na contramão, o índice inflacionário dos alimentos no domicílio avançou de 8,64% (perto de 1,6% abaixo do IPCA “cheio”) para 12,29% em 12 meses até janeiro deste ano, numa variação de quase 6,2% acima do índice geral. A alta foi compensada pela retração dos preços administrados, com destaque para energia e combustíveis.

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Compensação eleitoreira

Na média, segundo avaliação da equipe macroeconômica do Itaú BBA, os preços de bens e serviços administrados, que respondem por praticamente 27% na composição do IPCA, saíram de uma elevação de 16,8% até janeiro do ano passado para um recuo de 2,8% nos 12 meses terminados em janeiro deste ano. Os preços dos combustíveis, que haviam disparado 44,11% no primeiro período, passaram a registrar queda de 22,40% nos 12 meses seguintes, sob influência notória das medidas adotadas pelo governo anterior, que havia reduzido a cobrança de impostos federais e obrigado os governos estaduais a engolirem o limite de 17% na cobrança do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente nesta área, assim como sobre energia e comunicações. A tarifa da energia residencial, que chegou a subir 27,02% até janeiro de 2022, reflexo da crise hídrica enfrentada no ano imediatamente anterior, entre outros fatores, embicou para baixo nos 12 meses seguintes, desabando 17,98%.

Balanço

  • Excluídos aqueles dois itens (combustíveis e energia), a taxa média de variação dos preços nos demais setores da economia continuou avançando, elevando-se de 5,54% para 7,74% num cálculo aproximado. A contribuição dos alimentos para a inflação no restante da economia girou ao redor de 30% a mais de 31%.
  • Dito de outra forma, a inflação caiu especificamente por conta de medidas artificiais e eleitoreiras adotadas pelo desgoverno que tentava sua reeleição. Os dados do IBGE mostram que a tendência de alta prevaleceu mesmo diante da exclusão dos alimentos. Se desconsiderados os custos da energia, dos combustíveis e dos alimentos no domicílio e fora, a inflação saiu de 3,88% para 5,31%.
  • A influência sobre os preços em geral foi maior no setor de serviços, influenciado pela alimentação fora de casa, que havia registrado um índice de 6,46% nos 12 meses finalizados em janeiro de 2022 e passou a subir 7,82% no período seguinte, encerrado em janeiro de 2023.
  • No acompanhamento feito pelo Itaú BBA, a inflação dos serviços cresceu de 5,10% para 7,80% entre os dois períodos considerados aqui, contribuindo com quase 46,0% na formação do IPCA cheio. A alta da alimentação fora de casa foi responsável, por sua vez, por volta de um sexto da inflação dos serviços.
  • Embora venha se mantendo acima da tendência geral, o custo dos serviços vem experimentando alguma desaceleração, depois de ter alcançado em torno de 8,9% nos 12 meses encerrados em julho do ano passado. O movimento acompanha, de certo modo, o desaquecimento observado para o nível de atividade produzido pelo segmento de serviços, nitidamente o mais afetado pelas medidas de distanciamento social e de restrição à circulação de pessoas nos primeiros meses da pandemia.
  • Mas uma boa parte da inflação continua sendo determinada por fatores que guardam baixa relação com os níveis alcançados pela demanda total na economia e, portanto, pouco ou nada influenciadas pelo arrocho monetário (vale dizer, pela política de juros estratosféricos). Os preços dos alimentos em geral explicavam algo como 42,0% do IPCA acumulado entre fevereiro de 2022 e janeiro deste ano.
  • No curtíssimo prazo, a inflação parece ter perdido fôlego, mas num processo muito gradual. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), baixou de 0,80% nas quatro semanas terminadas em 31 de janeiro para 0,52% na quadrissemana concluída em 15 de fevereiro, levemente abaixo da taxa de 0,57% acumulada em 30 dias até a primeira semana deste mês. A “desinflação” no segmento da educação, que havia experimentado alta de 3,28% em janeiro, por conta da renovação de matrículas e do aumento de mensalidades e dos materiais escolares, ajudou a reduzir o IPC-S geral, anotando variação de 0,94% em 30 dias até 15 de fevereiro.
  • Custos de alimentos e de transportes igualmente pressionaram menos, saindo de taxas de 0,48% e 0,92% ao final de janeiro, respectivamente, para 0,21% e 0,45% na primeira quinzena de fevereiro, igualmente considerando períodos quadrissemanais.
  • O indicador de atividade econômica do Banco Central (BC) parece confirmar a tendência de desaceleração da economia ao antecipar uma variação em torno de 2,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, o que se compara com um avanço de 4,99% em 2021. Enquanto as taxas de comparação eram mais reduzidas, o PIB chegou a crescer 5,16%, como ocorreu nos 12 meses finalizados no primeiro trimestre do ano passado. Essa taxa já havia murchado para 2,96% no terceiro trimestre.