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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Alta das despesas com juros supera “gasto extra” com IOF em 12 vezes

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 29 de maio de 2025
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Há uma generosa dose de hipocrisia no debate e nas críticas endereçadas por analistas e pela grande imprensa à decisão da equipe econômica de
aumentar as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), não apenas em relação ao impacto direto da medida sobre empresas e, parcialmente, sobre cooperativas de grande porte, transações com dólar (e outras moedas estrangeiras) e algumas formas de aplicação em fundos de
previdência complementar, a exemplo do Vida Garantidos de Benefícios Livres (VGBL). Mas também em relação às mudanças na forma de cobrança do imposto, considerando sua linha no tempo, o que tende, em alguns casos, até mesmo a desautorizar a gritaria claramente desproporcional promovida pela mídia corporativa e entidades empresariais.

A “esquadrilha austericida” ocupou-se imediatamente de tratar o aumento do imposto como abusivo, em mais uma demonstração do (suposto)
descaso da equipe econômica em relação ao cenário fiscal (a despeito do salto de 154,2% no superávit primário no primeiro trimestre, já descontada
a inflação). Nessa visão muito enviesada, a correção do IOF – ainda sujeita a alterações de rumo, dada a pressão crescente do setor corporativo,
incluindo o sistema financeiro – demonstraria que o governo não teria a menor disposição para cortar despesas e assim frear a “gastança”, o que
seria o caminho mais indicado para fazer o famigerado ajuste fiscal e recuperar o equilíbrio entre receitas e despesas.

Obviamente, como as raras leitoras e os raros leitores já notaram, a gastança dos juros continua fora do cardápio reclamado pela “esquadrilha de austericidas”. Numa aproximação feita pela coluna, tomando dados oficiais, as despesas com juros das empresas e pessoas físicas registram
elevação de R$ 671,30 bilhões em 12 meses, ou seja, um gasto adicional praticamente 12,4 vezes maior do que o impacto a ser gerado pelo aumento do IOF.

Nas estimativas do Ministério da Fazenda, o aumento do IOF sobre uma série de operações deverá gerar uma arrecadação adicional de R$ 54,0
bilhões em 12 meses, caso não ocorram alterações no trajeto com novas mudanças naquela taxação. Ressalva feita, a comparação com o aumento
das despesas de empresas e famílias com o pagamento de juros ajuda a dar uma dimensão mais apropriada aos efeitos do IOF mais alto.

Juros recordes

O que mostram as estatísticas do Banco Central (BC)? Entre março do ano passado e o mesmo mês deste ano, o saldo do crédito ampliado tomado
pelas empresas aumentou 14,47% em valores nominais, subindo de R$ 5,731 trilhões para quase R$ 6,560 trilhões. Na comparação com o Produto
Interno Bruto (PIB), aquele estoque avançou de 51,6% para 54,7%. O saldo da dívida ampliada das famílias cresceu de R$ 3,885 trilhões para R$ 4,339 trilhões, passando de 35,0% para 36,2% do PIB. Os juros médios no sistema financeiro subiram de 18,88% em março do ano passado para
22,77% em igual mês deste ano nas operações com empresas, atingindo um novo recorde na série de dados do BC. Nas transações com pessoas físicas, os juros médios subiram de 32,83% para 35,38%.

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