Alta nos custos dos serviços tende a inibir demanda nos próximos meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de agosto de 2022

A reabertura dos negócios, com a retomada das atividades presenciais e incremento na circulação das pessoas desde o ano passado, continua a favorecer o ritmo dos serviços, um dos setores mais afetados pelas medidas de restrição e distanciamento social adotadas nos primeiros meses da pandemia, ainda em 2020. O “mini boom” observado no setor, na descrição da economista Silvia Matos, Boletim de Conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), tende a perder fôlego especialmente a partir do quarto trimestre deste ano, esgotados os efeitos iniciais gerados pela própria reabertura, após meses de interrupção parcial ou quase geral das atividades nesta área.

Na visão da economista, o ritmo aparentemente vigoroso de crescimento dos serviços pode ser explicado exclusivamente pela reabertura e não guarda relação com decisões de política econômica. Por isso mesmo, o impacto da retomada das operações aqui tende a não se alongar no tempo, esperando-se desaquecimento ao final do semestre em curso em função da ausência de fatores que possam sustentar um ciclo mais longo de crescimento. A aceleração nos custos dos serviços, da mesma forma, tende a inibir a demanda. Além do mais, deve-se levar em conta os reflexos retardatários do arrocho monetário imprimido pelo Banco Central (BC) desde meados de março do ano passado sobre a atividade econômica como um todo.

A inflação no setor de serviços experimentou aceleração nos últimos meses, refletindo-se num ritmo de crescimento muito mais acelerado das receitas nominais quanto comparado ao avanço do volume de serviços prestados, nas estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parte do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação dos serviços havia alcançado 0,39% em janeiro deste ano, numa alta de 5,09% acumulada em 12 meses. O índice geral de inflação no mesmo mês havia se aproximado de 0,54%, subindo 10,38% em 12 meses, pouco mais do que o dobro da taxa registrada pelos preços dos serviços em igual período.

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Aceleração

Nos últimos três meses, a inflação dos serviços flutuou entre 0,85%, 0,90% e 0,80% respectivamente em maio, junho e julho, com o indicador acumulado em 12 meses passando de 8,01% em maio para 8,73% em junho e daí para 8,87% no mês seguinte, aproximando-se do IPCA geral, que anotou elevação de 10,07% nos 12 meses encerrados em julho passado. Como se pode observar, os custos dos serviços passaram a registrar um ritmo mais acelerado a partir do final do primeiro semestre, num cenário de juros mais altos e ritmo de atividade muito mais tímido e mesmo em estagnação ou contração nos demais setores da economia, o que sugere espaço reduzido para que as atividades no setor de serviços mantenham a velocidade atual.

Balanço

  • Na série estatística do IBGE, a variação dos serviços, medida em volume, apresenta já certo desaquecimento na comparação com idênticos períodos do ano passado. A taxa mensal saiu de 9,4% em abril para 9,1% em maio, chegando a 6,3% em junho, o que continua sendo um incremento nada desprezível, mas inferior ao crescimento observado nos meses anteriores. A variação acumulada no primeiro semestre deste ano chegou a 8,8% (depois de um avanço de 9,5% no acumulado dos primeiros quatro meses, frente a igual intervalo de 2021).
  • As receitas nominais do setor, no entanto, acusaram elevação de 16,5% também entre o primeiro semestre do ano passado e igual período deste ano, significando uma taxa de variação praticamente 87,5% maior do que a variação indicada pelo volume. Os serviços prestados às famílias, que inclui os setores de bares e restaurantes, hotelaria e outros, experimentaram salto de 36,2% e as receitas no setor aumentaram 44,2%.
  • Aquele foi um segmento muito afetado nos meses iniciais da pandemia, o que explica a forte expansão observada agora. Para se ter uma noção do tamanho do tombo anotado, mesmo com as taxas mais vigorosas registradas mais recentemente, o nível dos serviços prestados às famílias ainda apontava retração de 14,5% em relação a maio de 2014, melhor mês na série histórica do IBGE para o setor.
  • A atividade naquela área tem sofrido desaquecimento mais recentemente, com a variação mensal saindo de 2,8% e 2,2% em abril e maio, frente aos meses imediatamente anteriores, para “apenas” 0,6% em junho. O crescimento em relação a igual mês de 2021, na mesma ordem, passou de 62,0% para 39,7% e, na sequência, para 28,2% em junho, encerrando o semestre com salto acumulado de 36,2%.
  • Em Goiás, os serviços cresceram no semestre em torno de 8,4% diante da primeira metade de 2021, taxa muito próxima daquela registrada em todo o País. As receitas nominais subiram no mesmo período perto de 15,8%, numa intensidade em torno de 88,0% maior, mostrando o efeito da inflação sobre os preços do setor. Os serviços prestados às famílias avançaram 30,0% em volume, com alta de 39,5% nas receitas. As receitas no segmento de transportes, armazenagem e correios, por sua vez, aumentaram 32,1%, diante de variação de 22,7% no volume dos serviços.
  • As demais categorias mantiveram números negativos na comparação semestral, com baixas de 2,1%, de 3,7% e de 0,7% para serviços de informação e comunicação, serviços profissionais, administrativos e complementares e para o grupo “outros serviços”. Na mesma sequência, agora na comparação entre junho deste ano e idêntico mês de 2021, aqueles setores anotaram predas de 1,7%, de 3,1% e de 2,6%.
  • Comparado ao mês imediatamente anterior, a taxa de crescimento dos serviços em geral no Estado voltou ao terreno positivo em junho, numa elevação de 0,9% depois de ter recuado 0,3% em maio. O indicador mensal, por sua vez, anota certa desaceleração. Depois de saltar 10,8% em abril, frente ao mesmo mês do ano passado, os serviços avançaram 7,2% em junho.