Coluna

Anúncios de investimentos em Goiás encolhem 25,7% até maio

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 23 de junho de 2020

Ao
longo dos primeiros meses de pandemia, oficialmente instalada por aqui a partir
da segunda metade de março, o Estado não registrou um único anúncio de
investimento, o que fez encolher os valores anunciados nos cinco primeiros
meses deste ano, segundo acompanhamento realizado pela
Rede Nacional de Informações
sobre o Investimento (Renai), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (MDIC). Entre janeiro e maio, com apenas dois projetos, aqueles
anúncios somaram US$ 267,705 milhões, diante de US$ 360,567 milhões em igual
período do ano passado, num tombo de 25,75%.

A
retração foi mais intensa, em termos proporcionais, do que aquele observada em
todo o País. Nos cinco primeiros meses deste ano, os anúncios em todos os
Estados somaram quase US$ 43,810 bilhões, diante de US$ 57,472 bilhões em igual
intervalo de 2019, mostrando uma redução de 23,77%. A hipótese aqui sugere que
as perdas teriam sido menos severas nos demais Estados e, na verdade, os
números podem estar de certa forma distorcidos por um comportamento que parece
um tanto anômalo observado em São Paulo. Os dados da Renai mostram, por exemplo,
que o valor dos anúncios ocorridos naquele Estado simplesmente saltou qualquer
coisa em torno de 429%, o que parece ser um contrassenso levando-se em conta a
situação da atividade econômica desde março. Em todo caso, a Renai indica que
os anúncios paulistas teriam saltado de US$ 1,16 bilhão para US$ 6,13 bilhões.

No ano
passado, os anúncios em Goiás estiveram concentrados numa única operação,
encabeçada pela CMOC Brasil, subsidiáriada China Molybdenum (CMOC), que havia
antecipado seu projeto de expansão das plantas de nióbio e fosfato em Catalão,
num investimento estimado em US$ 308,483 milhões, neste ano, representando
85,55% do total. Neste ano, a Cervejaria Cidade Imperial chegou a anunciar em
janeiro planos para instalar uma unidade em Jataí, prevendo investimento de R$
900,0 milhões (algo em torno de US$ 219,512 milhões na conversão feita pelo
Mdic). Em torno de 22% do investimento total, ou qualquer coisa em torno de R$
200,0 milhões) deverão ser financiados pelo Fundo Constitucional de
Financiamento do Centro-Oeste (FCO).

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Matemática básica

O
segundo projeto refere-se ao anúncio feito pela São Salvador Alimentos
(Superfrango) de seus planos de construção da segunda fase de sua planta
recentemente inaugurada em Nova Veneza, que deverá acrescentar perto de 320,0
mil aves por dia em sua capacidade de produção, o que significaria dobrar a
produção nominal verificada na primeira etapa já em operação. O investimento
esperado aqui deverá atingir qualquer coisa ao redor de US$ 48,193 milhões. Na
soma dos dois únicos projetos apresentados até maio, o Estado foi responsável
por 0,61% de total captado em todo o País pela Renai (não muito distante dos
0,62% anotados nos cinco meses iniciais de 2019). No ano passado, os anúncios
registrados de janeiro e maio representaram 23,3% do total acumulado em todo o
período. Portanto, como indica a matemática básica, perto de 73% dos projetos
surgiram de junho em diante. Como a pandemia mudou tudo, não se deve contar com
uma recuperação tão acentuada que permita compensar a queda já registrada.

Balanço

·  
Divulgado
ontem, o Monitor do Produto Interno Bruto da Fundação Getúlio Vargas (PIB-FGV)
antecipa quedas históricas para a atividade econômica no Brasil. Entre março e
abril, a retração chegou a 9,3%, com tombo de 13,5% em relação a abril do ano
passado.

·  
A
indústria desabou 15,7% também comparando abril, quando as medidas de restrição
e isolamento haviam sido mais duras, com março. A queda foi puxada por tombos
respectivamente de 24,3% e de 11,7% para a indústria de transformação e para o
setor de construção. Os serviços, na mesma comparação, encolheram 7,3%.

·  
O
investimento (aquele que recebe o nome pomposo de “formação bruta de capital
fixo” nas contas nacionais) embicou em queda de 23,0% na comparação com março e
desabou 29,4% diante de abril do ano passado – um recorde na série histórica da
FGV. A produção de máquinas e equipamentos, um dos principais componentes do
investimento, despencou nada menos do que 54,2%. Para deixar ainda mais claro:
mais da metade da produção deixou de ser realizada. Funciona como se mais da
metade das indústrias do setor tivessem paralisado suas plantas.

·  
A taxa
de investimento chegou a um dos menores níveis em toda a história do setor,
aproximando-se de 12,1% do PIB. Para comparar, na média de janeiro de 2000 a
abril de 2020, já incluindo os meses de baixo investimento na pandemia, aquela
taxa havia sido de 18,0%.

·  
No texto
distribuído pela assessoria do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre),
o coordenador do Monitor do PIB, Claudio Considera, afirma: “O dado de abril
mostra que, a retração recorde da economia, não apenas no PIB, porém
disseminada em diversas atividades e componentes da demanda, é a pior da
história recente. A indústria e o setor de serviços, que respondem por
aproximadamente 95% do valor adicionado total da economia também tiveram os
maiores recuos de sua série histórica iniciada em 2000, assim como o consumo
das famílias e a formação bruta de capital fixo. Em um país que, após três anos
de fraco crescimento, ainda não havia conseguido se recuperar da última
recessão, finda em 2016, que causou uma retração de 8,1% no PIB ao longo de 11
trimestres, o resultado de retração de 9,3% do PIB em apenas um mês, registrado
em abril não é nada animador e só evidencia os enormes desafios que serão
enfrentados pela economia no decorrer de 2020.”