Apesar de recordes, vendas do comércio perdem fôlego neste ano
O ritmo de crescimento das vendas no primeiro trimestre deste ano nitidamente entrou em desaceleração quando comparado ao desempenho observado nos trimestres anteriores, no que parece ser um sintoma de uma tendência mais ampla de desaquecimento da atividade em toda a economia,
como reflexo da política já bastante prolongada de arrocho ao crédito, com aplicação de juros escorchantes, e ainda das turbulências globais que têm
marcado o período, acirrando incertezas neste começo de ano. A trajetória recente das vendas, seja no varejo mais convencional, seja no comércio
mais amplo, incluindo o “atacarejo”, colocou o volume de vendas em níveis históricos e, daqui para frente, qualquer oscilação – desde que positiva, evidentemente – corresponderá a quebras sucessivas de recordes.
A intensidade desse crescimento, portanto, ganha maior relevância na análise sobre as tendências em curso e na tentativa de antecipar cenários
para a atividade econômica daqui para frente. Ao longo do ano passado, as taxas trimestrais de avanço das vendas anotaram sensível aceleração na
comparação com 2023, atingindo quase todos os principais setores. Mas puxada especialmente pelos setores de hipermercados e supermercados,
veículos e motos, outros artigos de uso pessoal, e também por móveis e eletrodomésticos (a partir do segundo trimestre do ano passado) e roupas e
calçados (neste caso, uma reação mais concentrada no segundo semestre de 2024).
Os dados consolidados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que responde pela pesquisa mensal do comércio, mostram que o varejo convencional havia registrado seu melhor momento em 2023 no terceiro trimestre, quando as vendas cresceram 2,8% com alta de 3,0% para o varejo ampliado (igualmente, a maior variação trimestral naquele ano). Nos quatro trimestres do ano seguinte, as vendas no varejo
restrito apresentaram altas de 5,4%, de 4,0%, de 3,3% e de 3,8% (respectivamente, no primeiro, segundo, terceiro e quatro trimestres), com incrementos de 4,4%, de 3,6%, de 3,8% e de 3,3% para o varejo amplo, na mesma sequência, e sempre em relação aos mesmos períodos de um ano
antes.
Sinais de desaceleração
No primeiro trimestre deste ano, a perda de ritmo está registrada nas taxas de 1,2% e de 1,1% observadas respectivamente no varejo tradicional e no
varejo em seu conceito mais ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças, lojas de material de construção e o atacado de produtos alimentícios,
bebidas e fumo. Os números mais magros refletem principalmente a perda de vigor nos supermercados, que haviam crescido 3,1% no trimestre final
de 2024 e anotaram variação de apenas 0,3% no primeiro trimestre deste ano, a menor variação das vendas de perfumes, cosméticos e medicamentos
(saindo de 5,3% para 3,6%), assim como no segmento de veículos e motos (de 10,0% para 5,3%, ainda um crescimento relativamente importante) e a
retração no “atacarejo” de alimentos, bebidas e cigarros (baixa de 6,8% nos primeiros três meses deste ano, no quinto trimestre consecutivo de perdas).