Coluna

As referências internacionais de Bolsonaro no mundo pós-Trump (parte 1)

Publicado por: Marcelo Mariano | Postado em: 15 de fevereiro de 2021

Marcelo Mariano*

Na última sexta-feira, dia 12 de fevereiro, o presidente do
Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, Robert Menendez,
enviou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro em um tom ameaçador.

Menendez disse que, se Bolsonaro não condenar a invasão do
Capitólio, ocorrida no dia 6 de janeiro, as relações entre Brasil e Estados
Unidos podem ser prejudicadas. Na carta, o senador americano também criticou o
ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Continua após a publicidade

Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a
independência do Brasil, e a primeira embaixada brasileira foi inaugurada em
Washington, D.C. Historicamente, nossas relações com os americanos sempre foram
relativamente boas. Houve momentos de maior alinhamento. Outros, de maior
independência.

“O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”,
disse, nos primeiros anos do regime militar, o então ministro das Relações
Exteriores, Juraci Magalhães. Este, sem dúvida, foi um dos principais momentos
de alinhamento entre os dois países.

Por outro lado, também durante o regime militar, o Brasil
buscou uma política externa mais independente, especialmente com Ernesto Geisel
a partir de 1974, quando, no contexto de Guerra Fria, o governo brasileiro se
aproximou até mesmo de países do bloco comunista.

Com Trump, Bolsonaro teve um grande aliado – pelo menos no
discurso –, apesar de não ter recebido uma visita sequer do agora ex-presidente
americano e de ainda não estarem muito claras as vantagens adquiridas pelo
Brasil – seguimos fora da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), por exemplo.

Sem Trump, Bolsonaro fica isolado no cenário internacional.
Atualmente, não temos boas relações com os nossos principais parceiros
comerciais, como China, Argentina e países importantes da União Europeia, como
França e Alemanha.

Esses países precisam mais do Brasil do que o Brasil precisa
deles, alguns poderiam argumentar. Vale lembrar, então, que os produtos que
vendemos não têm muito valor agregado e, por isso, poderiam ser substituídos, a
médio prazo, por outros mercados fornecedores – a China, que pensa mais a longo
do que a curto prazo, já está de olho na soja produzida em solo africano.

Com Biden, o Brasil pode sofrer pressão ambiental, tendo em
vista o discurso do presidente americano durante a campanha. Na verdade, porém,
ainda é cedo para dizer exatamente como será a relação entre os dois países.

Em linhas gerais, a minha aposta é que o Brasil não será,
como nunca foi, uma grande prioridade dos Estados Unidos – o Brasil, por sua
vez, sempre teve os Estados Unidos entre suas prioridades. Nem mesmo na América
Latina somos prioridade.

Para os Estados Unidos, o México e a questão migratória como
um todo são mais importantes que o Brasil. Cuba e Venezuela também. E até mesmo
a Colômbia, já que o governo americano considera as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc) um grupo terrorista e, portanto, está
inserida, mesmo que em uma escala menor na comparação com outros países, no
contexto de combate ao terrorismo.

Diante desse cenário – em que o Brasil não tem mais um
aliado na Casa Branca –, quais serão, afinal, as referências internacionais de
Bolsonaro no mundo pós-Trump? A parte 2 deste texto, a ser publicada na coluna da próxima-segunda feira, dia 22 de fevereiro, trará a resposta.

*Assessor internacional da Prefeitura de Goiânia e
vice-presidente do Instituto Goiano de Relações Internacionais (Gori). Escreve
sobre política internacional às segundas-feiras.