Avanço modesto em julho não “refresca” situação da indústria

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 03 de setembro de 2022

Depois de derrapar ao longo de toda a primeira metade deste ano, a produção industrial abriu o segundo semestre com ligeiro avanço, mas que não refresca muito a situação do setor diante da disparidade de desempenho entre seus diversos segmentos, onde os resultados negativos continuam a predominar. O cenário é especialmente preocupante nos segmentos que em geral costumam antecipar o comportamento dos investimentos em renovação e atualização do parque de máquinas e equipamentos, agravando o desgaste natural da base industrial instalada no País.

Em julho deste ano, a produção registrou variação modesta de 0,6%, recompondo-se do recuo de 0,3% anotado em junho, sempre em relação ao mês imediatamente anterior e com o expurgo de fatores sazonais (como feriados, por exemplo) que eventualmente poderia gerar distorções nesse tipo de comparação. O desempenho entre os 26 setores de atividade acompanhados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, foi novamente muito desigual, com perdas para 16 segmentos (61,5% do total) e avanços para dez deles (38,5% do total).

O avanço em julho foi puxado principalmente pela indústria de produtos alimentícios, que experimentou elevação de 4,3% frente a junho, repetindo idêntico percentual na comparação com julho do ano passado. Mês a mês, o setor tem apresentado comportamento irregular, saindo de dois meses muito negativos, com baixas de 2,2% e de 4,8% em março e abril, para oscilar entre avanço de 2,0% em maio e variação tímida de 0,8% em junho, acumulando em sete meses um incremento de apenas 0,9%. Comparado a fevereiro de 2020, a indústria de alimentos esboça reação de somente 0,3% (mesmo assim, os níveis da produção registrados em julho deste ano ficaram 5,8% abaixo dos resultados alcançados em abril de 2020, já no segundo mês da pandemia).

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Sinais negativos

Olhando a indústria como um todo, o setor não tem conseguido sustentar taxas positivas na comparação com o ano passado, com a produção recuando 0,5% diante de julho de 2021, depois de experimentado queda na mesma proporção em junho. Na verdade, nos sete primeiros meses deste ano, a produção só anotou um único resultado positivo em maio, quando chegou a superar igual período do ano passado em 0,5%. No ano, a indústria reduziu sua produção em 2,0% em relação aos sete meses iniciais de 2021, mantendo-se em queda de 3,0% no acumulado em 12 meses até julho deste ano. O setor como um todo sequer conseguiu ainda superar os números de fevereiro de 2020, mantendo-se 0,8% abaixo do período imediatamente anterior ao começo da pandemia. Em relação a maio de 2011, quando a indústria registrou seu melhor desempenho na série histórica do IBGE, a produção despenca 17,3%.

Balanço

  • Analisando o desempenho dos diversos setores pesquisados pelo IBGE e comparando ainda com fevereiro de 2020, quase 70% deles não experimentaram condições suficientes para retomar os níveis de produção realizados antes da pandemia. De fato, 18 deles continuam produzindo menos do que naquele período e apenas oito respiram com certo alívio nesse tipo de comparação, o que pode ser um retrato mais preciso de como a indústria veio capengando até aqui.
  • Esse tipo de comportamento certamente será traduzido em uma contribuição bastante modesta para o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, conforme anota a equipe de analistas do Itaú BBA.
  • Os principais segmentos associados à produção de bens de capital têm sofrido baixas recentemente, sinalizando perda de vitalidade do investimento, que chegou a ensaiar recuperação no segundo trimestre. Na composição do PIB do período, o investimento havia avançado 1,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, depois de desabar 7,2% no primeiro trimestre. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o investimento avançou 4,8% no segundo trimestre, depois de ter sofrido baixa de 3,0% no primeiro trimestre. A conta do investimento fechou o primeiro semestre em retração de 2,9% na comparação com os seis primeiros meses do ano passado.
  • Na pesquisa mensal da produção industrial, os números para a indústria de bens de capital e para o setor de produção de insumos para a construção civil (como cimento, areia, brita e outros agregados) não sinalizam resultados melhores no começo do terceiro trimestre. No primeiro setor, a produção sofreu a segunda baixa mensal consecutiva, caindo 3,7% na comparação entre julho e junho, quando já havia recuado 1,9%. Em relação a igual mês do ano passado, a produção de bens de capital caiu 5,8% em julho, saindo de variação de somente 0,2% em junho. Nos sete meses iniciais deste ano, o setor recua 1,6%.
  • A produção de insumos para a construção, ainda de acordo com o IBGE, caiu 6,6% em julho frente ao mesmo mês do ano passado e manteve-se em virtual estabilidade na passagem de junho para julho deste ano, variando apenas 0,3%. No trimestre encerrado em julho deste ano, frente ao trimestre maio-julho do ano passado, o segmento anotou retração de 6,1% e já havia encolhido 10,0% no primeiro quadrimestre de 2022.
  • No acumulado entre janeiro a julho deste ano, frente aos mesmos sete meses de 2021, os principais segmentos da indústria de bens de capital apresentam dados negativos, com perdas de 2,5% e de 13,3% para a produção, respectivamente, e de máquinas e equipamentos em geral e de máquinas e aparelhos elétricos. A indústria de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, associada parcialmente à produção de bens de capital e também de bens de consumo duráveis, apresentou redução de 2,6%.
  • A produção de bens duráveis devolveu com sobras todo o crescimento de 6,0% registrado em junho, comparado a maio, e despencou 7,8% em julho, com recuo ainda de 0,8% frente a julho do ano passado. Como aponta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o setor entre os “mais vulneráveis aos efeitos negativos da perda de poder de compra das famílias devido à alta da inflação e dos juros e, no caso dos duráveis, também estão mais sujeitos aos gargalos nas cadeias de fornecedores”.