Balança comercial bate recordes e China passa a concentrar 81% do saldo goiano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de março de 2022

O ano começou com exportações e importações em ritmo acelerado em Goiás, antes que a guerra entre Rússia e Ucrânia e os embargos financeiros, econômicos e comerciais decorrentes do conflito assumissem as proporções observadas atualmente. Nas duas pontas, os dados acumulados nos primeiros dois meses deste ano pela balança comercial romperam marcas históricas, sustentados principalmente pelo chamado “complexo soja” (grão, farelo e óleo)nas exportações e pelos fertilizantes, nas compras externas – classe de produtos que pode ter o suprimento para a próxima safra sob risco, já que Rússia e Belarus estão posicionados entre os grandes fornecedores globais, especialmente de cloreto de potássio, substância que respondeu por 41,1% de toda a importação de adubos e fertilizantes realizada pelo Estado no primeiro bimestre de 2022.

De volta ao ponto inicial, as exportações goianas experimentaram alta de 107,79% no acumulado entre janeiro e fevereiro deste ano, comparado ao mesmo bimestre de 2021, saltando de US$ 762,973 milhões para US$ 1,585 bilhão. Foi a primeira vez na série histórica que as vendas externas superaram a casa do bilhão de dólares num primeiro bimestre. As importações foram igualmente recordes, mas cresceram modestamente, variando 4,41% entre os dois períodos analisados, saindo de US$ 934,175 milhões para US$ 975,332 milhões. A balança comercial (exportações menos importações), que havia sido negativa em US$ 171,202 milhões na soma dos dois meses de 2021, apresentou um robusto superávit de US$ 610,049 milhões, estabelecendo novo recorde para o período.

As questões mais problemáticas estão precisamente no detalhamento daqueles dados. Destino de 40,8% das vendas goianas, a China passou a concentrar nada menos do que 80,68% do saldo comercial do Estado – um nível concentração muito elevado, que sugere riscos preocupantes num momento em que a Eurásia se encontra em convulsão (ainda que o governo chinês tenha se preocupado em manter certa distância do conflito, embora tenha firmado acordo histórico com os russos momentos antes da guerra).

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Dependência chinesa

Goiás havia exportado US$ 207,439 milhões para o mercado chinês e importado US$ 94,020 milhões em janeiro e fevereiro de 2021, resultando num superávit bilateral de US$ 113,419 milhões (ante um déficit de US$ 284,620 milhões com o restante do mundo). Neste ano, sempre no bimestre inicial, as exportações para a China foram triplicadas, atingindo US$ 646,738 milhões(211,77% a mais), com alta de 64,38% para as compras goianas de produtos chineses, que somaram US$ 154,551 milhões. A China sozinha respondeu por todo o crescimento das importações goianas, com compras mais relevantes de veículos, partes e acessórios, adubos e produtos químicos orgânicos. Mais do que isto, pouco mais de US$ 80 a cada US$ 100 do superávit goiano vieram da China. O saldo goiano em relação aos chineses subiu para US$ 492,187 milhões, saltando 333,96% em 12 meses. Destaque absoluto para a soja em grão, que passou a responder por 63,84% de tudo o que Goiás vendeu à China no primeiro bimestre deste ano, diante de pouco mais de um quarto em igual período do ano passado.

Balanço

  • O crescimento das exportações veio sustentado, desta vez, pelo salto nos volumes embarcados, impulsionados pelo complexo soja. Os preços médios, a despeito da tendência da valorização das principais commodities – movimento acelerado desde a guerra ucraniana –, registraram queda de 9,38%. Os volumes somaram 1,832 milhão de toneladas, frente a 798,811 mil toneladas em janeiro e fevereiro do ano passado, num incremento de 129,30%.
  • O complexo soja representou quase 71,0% dos volumes exportados, com embarques superiores a 1,330 milhão de toneladas, em alta de 380,52% em relação a embarques de 270,590 mil toneladas no primeiro bimestre de 2021. Registrou-se acréscimo de pouco menos do que 1,030 milhão de toneladas. Mais claramente, soja em grão, farelo e óleo de soja foram responsáveis por quase todo o aumento dos volumes exportados pelo Estado (mais precisamente, a contribuição foi de 99,69%).
  • Em valores, as exportações do complexo subiram de US$ 111,501 milhões, perto de 14,6% do total exportado em janeiro e fevereiro de 2021, para US$ 673,642 milhões no mesmo período deste ano, passando a representar 42,49% do total. Como se pode observar, as vendas externas nesta área foram multiplicadas em seis vezes (alta de 504,16%) e sua contribuição para o aumento do total exportado ficou na faixa de 68,35% (quer dizer, em torno de US$ 68 a cada US$ 100 exportados a mais pelo Estado saíram do complexo soja).
  • Não por coincidência, as vendas goianas de soja em grão para a China experimentaram altas de 669,34% em valor, saindo de R$ 53,670 milhões para US$ 412,905 milhões, e de 504,9% em volume, passando de 135,252 mil para 818,125 mil toneladas. Isso significa que a soja respondeu por 87,2% de todas as vendas externas de Goiás para o mercado chinês.
  • Considerando as importações em seu todo, como já destacado, as compras de adubos e fertilizantes cresceram 132,5% ente o ano passado e este ano, subindo de US$ 123,816 milhões para US$ 287,873 milhões (mais US$ 164,057 milhões). Como se observa, o acréscimo foi mais substancial do que o aumento registrado para o total das compras externas goianas. De fato, excluídos adubos e fertilizantes, as demais importações sofreram tombo de 15,17% naquela comparação, encolhendo de US$ 810,359 milhões para US$ 687,459 milhões, sob influência das quedas de 53,68% nas importações de energia (de US$ 358,683 milhões para US$ 166,140 milhões) e de 16,63% nas compras de produtos farmacêuticos (que baixaram de US$ 183,916 milhões para US$ 153,325 milhões).
  • As compras de cloreto de potássio aumentaram quatro vezes, de US$ 29,251 milhões para US$ 118,477 milhões. Os principais fornecedores foram Canadá (com US$ 52,156 milhões e participação de 44,0%), Rússia (US$ 37,464 milhões, 31,6% do total) e Chile (US$ 15,097 milhões e 12,71% de participação). Na mesma ordem, as importações da substância aumentaram 880,7%, 284,4% e 1.127,4%.