BC sugere queda de 5,1% na economia goiana desde março

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de outubro de 2023

Numa tentativa de “antecipar” o desempenho da economia, o Banco Central (BC) calcula mensalmente o seu Índice de Atividade Econômica (IBC) e um versão regional que tenta estimar, com base em indicadores de produção industrial, dos setores de serviços e do varejo, entre outros já disponíveis, como a economia tem se comportado nos Estados. Trata-se de uma aproximação que nem sempre chega a ser confirmada pelos dados da realidade, mas utilizada pelos mercados e instituições de estudos econômicos para alimentar seus modelos e projeções sobre o futuro da economia. Os índices elaborados mais recentemente pelo BC mostram uma tendência de desaquecimento da economia em todo o País e também em Goiás no começo do segundo semestre, sugerindo desempenho mais modesto do aquele observado nos trimestres anteriores.

No caso goiano, a despeito de previsões mais otimistas de institutos de pesquisa, o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR) mostra cinco resultados negativos nos últimos seis meses, sugerindo uma retração de 5,11% entre março e agosto deste ano na série de dados dessazonalizados, quer dizer, com a exclusão de fatores e eventos que se repetem nos mesmos períodos a cada ano e que poderiam distorcer a comparação mês a mês. Em abril, maio e junho, pela ordem, o IBCR goiano sofreu baixas de 0,87%, de 1,90% e de 1,09% em relação aos meses imediatamente anteriores, numa sequência interrompida pela alta de 3,73% observada na passagem de junho para julho. Em agosto, comparada a julho, a atividades despencou 4,90%.

Considerando os resultados das pesquisas do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), a retração em agosto parece ter sofrido influência da queda nas vendas do varejo (restrito e ampliado) e também na redução do nível de atividade no setor de serviços frente a julho. Neste último caso, os dados dessazonalizados mostram queda de 2,7%, com baixas de 0,7% e de 1,4% respectivamente para o varejo mais convencional e para as vendas do chamado varejo amplo, com inclusão de concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais de construção e atacado de alimentos. A elevação de 1,0% na produção industrial na mesma comparação, na sequência de um recuo de 0,3% em julho, não parece ter compensado os números negativos daqueles dois outros setores.

Continua após a publicidade

Perda de ritmo

A desaceleração no ritmo de crescimento da atividade econômica no Estado, ainda conforme as projeções do BC, teria ocorrido também na comparação trimestral, considerando períodos idênticos de 2022. No primeiro e segundo trimestres deste ano, o indicador da autoridade monetária havia sinalizado altas de 4,48% e de 5,71% frente aos mesmos trimestres do ano passado. No bimestre julho e agosto, a economia teria recuado 0,64%. Quando considerado o trimestre encerrado em agosto deste ano e igual intervalo do ano passado, o indicador do BC anota uma redução de 1,87%. Neste caso, a tendência antecipada pela instituição parece menos consistente, já que o próprio indicador do banco aponta altas de 5,43%, de 9,52% e de 6,27% em junho, julho e agosto, respectivamente, em relação aos mesmos meses de 2022, no indicador sem ajuste sazonal.

Balanço

  • Numa avaliação mais ampla, considerando os resultados de levantamentos do IBGE nos últimos meses, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) registra que, em agosto, “o nível de atividade econômica do País se contraiu, puxado pela queda das vendas do comércio varejista e dos serviços”. Os números positivos vieram da produção industrial, depois de meses de números negativos ou de estagnação. “Desta vez”, anota o instituto, “a indústria evitou o terreno negativo, mas como tem sido a regra, sua expansão foi fraca e não compensou os resultados dos demais setores”.
  • O Iedi relaciona o modesto avanço de 0,4% na produção industrial em agosto diante de julho, “já descontados os efeitos sazonais”, mas contrapõe com os números do varejo amplo, em baixa de 1,3% na mesma comparação, e com a baixa de 0,9% no setor de serviços. “Com isso, o indicador IBC-Br (o indicador do BC para o nível de atividade em todo o País), que funciona como uma proxy do PIB (Produto Interno Bruto), recuou 0,77% (em agosto), anulando as altas” de 0,22% e de 0,42% em junho e julho.
  • Como consequência, “a contar pelo acumulado em julho e agosto de 2023, o terceiro trimestre do ano parece ser de desaceleração”. Recorrendo novamente ao indicador do BC, o Iedi reforça sua avaliação indicando que aquele índice saiu de crescimento de 4,4% no primeiro trimestre e de 3,1% no segundo, “sempre em relação ao mesmo período do ano passado”, para variação de 1,1% no bimestre julho/agosto. “Tal trajetória é acompanhada por quase todos os grandes setores econômicos”, arremata o instituto.
  • Mesmo no caso da indústria, prossegue o Iedi, os números de agosto não deverão evitar um trimestre “no vermelho”. Conforme lembra o instituto, a produção industrial total, incluindo o setor de transformação e a extrativa, “encolheu, respectivamente, 0,4% e 0,2% nos dois primeiros trimestres de 2023 e em julho/agosto acumula retração de 0,3%”, diante dos mesmos períodos do ano anterior.
  • A “sinalização de menor dinamismo atinge três dos quatro macrossetores industriais, notadamente aqueles cujos mercados dependem mais do crédito e, por isso, são mais afetados pelos elevados níveis das taxas de juros praticados no País”, comenta o instituto. Incluem-se nessa categoria a produção de bens de capital, com ritmo de declínio mais intenso (-12,5% no segundo trimestre e -16,1% em julho-agosto), e dos bens de consumo duráveis, “cuja expansão de 2,6% no segundo trimestre foi sucedida por uma variação de -0,1% em julho-agosto”.
  • Considerando os parques industriais implantados nos Estados, acrescenta o Iedi, “cabe notar que 61% perderam produção em julho/agosto, mas os indícios de piora parecem menos disseminados geograficamente: em 39% deles o resultado deste último bimestre foi inferior ao do segundo trimestre. Para uma mesma parcela de 39% a sinalização é de melhora e para 22% das industriais regionais o desempenho está muito próximo ao do trimestre anterior”.