Caminhos para conciliar preservação ambiental e maior produção na lavoura
Criado há 17 anos pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), o Fórum de
Máxima Produtividade, espécie de concurso para escolher os “campeões de
produtividade” no cultivo da oleaginosa, mostrou que é possível conciliar
aumento da produção com redução de impactos ambientais, por meio de
ganhos expressivos no rendimento das lavouras. O ponto mais positivo é
que todos os recursos já estão à disposição dos produtores, ressalta Sérgio
Abud, vice-presidente do Cesb.
“Uma de nossas metas principais é conscientizar o produtor que é possível
produzir mais na mesma área, com maior eficiência no uso de insumos e
das tecnologias disponíveis, técnicas apropriadas de uso do solo,
planejamento adequado da atividade, manejo de pragas e doenças com
integração entre produtos químicos e biológicos”, resume ele. Abud afirma
que a eficiência operacional continua muito baixa no campo, abaixo dos
45% quando se considera o tempo de utilização do maquinário. “As
máquinas permanecem ociosas por um prazo longo, seja para manutenções
que poderiam ter sido realizadas preventivamente, seja por alguma outra
razão”.
A utilização mais racional e eficiente do maquinário, associada ao manejo
adequado do solo, com uso correto de técnicas de plantio direto,
manutenção de cobertura vegetal e de palhada durante todo o ano, como
forma de proteção contra irradiação solar e prevenção de erosões nos
períodos chuvosos, combinado com manejo integrado de pragas, ajudariam
a incrementar as produtividades médias, com menores danos ambientais.
Rentabilidade
Considerando os 10 produtores melhor colocados no concurso promovido
pelo Cesb, detalha ainda, a produtividade experimentou um salto de quase
40% quando comparados os dados médios coletados entre 2023 a 2025
com o período entre 2009 a 2012, aproximando-se de 126 sacas por hectare
na edição deste ano. Para comparação, o rendimento médio das lavouras de
soja, aferido pela Conab no mesmo período, anotou variação de 20,9% e
deve fechar a safra 2024/2025 em torno de 59,4 sacas por hectare, perto de
52% abaixo da média colhida pelos 10 melhores selecionados pelo Cesb.
Ainda de acordo com Abub, o investimento em produtividades mais altas
se paga integralmente, com sobras mesmo. O campeão nordestino em
produtividade, detalha ele, alcançou um retorno líquido de R$ 2,55 a cada
real investido e uma produtividade média de 130 sacas por hectare.
Balanço
Para o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a 30ª edição da
conferência das partes sobre o clima abrira espaço para “uma visão
mais próxima da realidade para o agronegócio brasileiro,
contribuindo para desmistificar narrativas falaciosas apresentadas
sobre o setor”. O Plano Safra 2025/26, que destacou R$ 516,2
bilhões para financiar a agricultura, acrescenta o Mapa, embute
recursos para financiar ações voltadas para a sustentabilidade, com
desconto de meio ponto percentual sobre juros para atividades mais
sustentáveis, com foco, entre outros, “no plantio de culturas de
cobertura e proteção do solo na entressafra”.
Na corrida em busca de sustentabilidade, os produtores rurais tendem
a manter aquecido o mercado de bioinsumos, abrindo espaço para
taxas anuais de crescimento de dois dígitos pelo menos até 2030,
estima Wladimir Crancianinov, diretor comercial e sócio da Allbion,
fabricante de biorreatores e bioinsumos. Com unidades em Cajuru
(SP) e Sorriso (MT), a empresa investe na expansão da linha de
produtos biológicos e deve ampliar sua capacidade dos atuais 800
mil litros para 1,5 milhão de litros de bioinsumos até o próximo ano.
A fábrica de biorreatores, que entregou anualmente em média 30
equipamentos nos últimos três anos, deve ter sua capacidade dobrada
a partir de abril de 2026, expandindo igualmente a fabricação de
peças para atender à demanda de reposição para clientes que já têm
instalado o equipamento.
“O mercado de bioinsumos e de bioprocessos tem descolado em seu
crescimento, com aumento da demanda e surgimento de novas
fábricas, atualmente estimadas em três centenas”, comenta
Crancianinov. Além disso, prossegue, os resultados da aplicação de
biológicos têm se mostrado “muito confiáveis na lavoura e os
produtores também aprenderam a manejar os biosinsumos”.
Especializada em sensoriamento remoto e no acompanhamento de
áreas de produção agrícola em tempo real, a EarthDaily confirma os
primeiros sinais de recuperação dos níveis de umidade do solo nas
principais regiões produtoras de grãos na safra de verão, depois de
meses de estiagem em sequência. Segundo os modelos climáticos
analisados pela empresa, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, sul
do Paraná e parte de Goiás tendem a registrar volumes mais
significativos de precipitação nos próximos dias. Em Mato Grosso
do Sul, no entanto, as chuvas tendem a ser mais limitadas.
A tendência de temperaturas próximas ou ligeiramente abaixo das
médias para o período na maior parte das regiões produtoras, de toda
forma, deve contribuir para reduzir a evapotranspiração, com
menores níveis de perda de umidade no campo, conforme a empresa.
O cenário esperado para os próximos dias sugere condições mais
estáveis para o desenvolvimento das lavouras, ao mesmo tempo em
que a umidade mais elevada indica “um sinal positivo para o início
do plantio da safra de verão marcando a transição gradual de um
cenário de seca para condições mais equilibradas de umidade,
especialmente nas áreas centrais do País”, avalia Felippe Reis,
analista de safra da EarthDaily.
Para Goiás, o modelo europeu ECMWF (Centro Europeu de
Previsões Meteorológicas de Médio Prazo), considerado de alta
resolução e precisão, indica elevação da umidade no curto prazo,
ainda que os níveis esperados continuem entre os mais baixos em
uma década, o que antecipa um ritmo de semeadura ainda lento, na
observação de Reis.