Coluna

China passa a responder por 80% do superávit comercial de Goiás

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 09 de junho de 2020

Destino
de mais da metade das vendas externas do Estado, o mercado chinês respondeu
ainda por quase 80,4% de todo o saldo comercial goiano com o restante do mundo
nos primeiros cinco meses deste ano, evidenciando a dependência crescente da
balança comercial do Estado em relação à China, como esta coluna já havia
apontado me edições anteriores. Entre janeiro e maio deste ano, as exportações
realizadas a partir de Goiás atingiram US$ 3,107 bilhões, crescendo 12,2% em
relação ao mesmo período de 2019, quando haviam alcançado US$ 2,769 bilhões, e
registraram novo recorde para o período no Estado. As importações baixaram 7,4%
na mesma comparação, saindo de US$ 1,453 bilhão para US$ 1,346 bilhão, o que
contribuiu para elevar o saldo comercial em 33,9% frente aos cinco primeiros
meses do ano passado, de US$ 1,316 bilhão para US$ 1,762 bilhão – o mais
elevado para o período na série histórica da Secretaria de Comércio Exterior
(Secex).

O
desempenho do Estado no mercado externo contrasta com a tendência de baixa
experimentada pela balança comercial em todo o País. No acumulado entre janeiro
e maio, sempre comparando com igual intervalo de 2019, as exportações
brasileiras chegaram a cair 7,17%, com tombo de 15,6% nas vendas externas da
indústria de transformação. As importações brasileiras no mesmo período
baixaram 2,54% e o saldo comercial encolheu 23,3%. Antes de soltar rojões pelo
comportamento as exportações goianas, uma avaliação mais detalhada dos dados da
Secex mostra um cenário um pouco mais preocupante. Entre outros motivos porque
o crescimento esboçado no período foi sustentado quase que exclusivamente em um
único produto – a soja em grão –, que respondeu por 40% de toda a exportação
goiana, diante de uma participação (já expressiva) de 34,88% nos primeiros
cinco meses de 2019.

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Graças à soja

Em
grande medida, as exportações do Estado cresceram porque as vendas externas do
grão foram recordes para o período, saltando 28,67% em valor e 32,8% em volume,
o que compensou largamente o recuo de 3,11% registrado pelos preços médios de
venda da soja. O Estado exportou mais de 3,645 milhões de toneladas de soja
entre janeiro e maio deste ano, diante de pouco menos de 2,745 milhões de
toneladas nos mesmos cinco meses de 2019. As receitas de exportação, no caso,
avançaram de US$ 965,822 milhões para quase US$ 1,243 bilhão, num acréscimo de
US$ 276,947 milhões. Isso significa dizer que a soja em grão contribuiu sozinha
com 81,84% para o incremento registrado pelo total das exportações estaduais. A
participação é claramente excessiva e desnuda às dificuldades enfrentadas por
grande parte da economia goiana para competir no mercado internacional. O
cenário se agrava ainda mais quando se considera, em outro dado da Secex, que
91,1% das exportações goianas de soja foram destinadas à China (tanto em valor
quanto em volume).

Balanço

·  
Além
disso, a soja ainda foi responsável por 70,91% de tudo o que Goiás vendeu para
os chineses nos últimos cinco meses. As exportações do Estado para a China
somaram US$ 1,597 bilhão, crescendo 35,1% em relação a menos de US$ 1,183
bilhão exportados entre janeiro e maio do ano passado.

·  
As
vendas externas para os demais países do globo, excluída a China, sofreram
baixa de 4,8%, saindo de US$ 1,586 bilhão para US$ 1,510 bilhão.

·  
Como
apenas 13,5% das importações goianas foram provenientes
da China, isso significa dizer que o Estado sustenta níveis elevados de
superávit com aquele mercado, o que deveria ser levado em conta quando o
governo estadual tiver que analisar quais tipos e formatos de alinhamento
internacional seriam mais convenientes para o Estado.

·  
As
compras de bens e mercadorias chinesas, concentradas em produtos químicos
orgânicos, veículos, suas partes e acessórios e produtos farmacêuticos,
avançaram 3,94%, passando de US$ 174,596 milhões para US$ 181,467 milhões. Como
as exportações para aquele mercado são muito mais relevantes, o saldo comercial
entre Goiás e China saltou nada menos do que 40,45%, elevando-se de US$ 1,008
bilhão (76,61% do total) para praticamente US$ 1,416 bilhão (80,36% do total).

·  
Os
dados permitem ainda outro tipo de comparação, que torna a “dependência
chinesa” ainda mais pronunciada. Afinal, o país asiático contribuiu com algo em
torno de 91,4% para o aumento no saldo comercial total do Estado.

·  
Não
bastassem todos esses números, os chineses foram ainda os principais atores por
trás do avanço de três outras categorias que ajudaram a sustentar a exportação
recorde de Goiás. As vendas de carnes e miúdos de aves saltaram 65,0% até maio,
saindo de US$ 15,923 milhões para US$ 26,276 milhões, com alta ainda de 45,88%
para as exportações goianas de ferroligas (de US$ 234,785 milhões para US$
342,500 milhões) e aumento de 13,0% nos embarques de carne bovina congelada (de
US$ 315,913 milhões para US$ 356,961 milhões).

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Nada
menos do que 93,4% das vendas goianas de aves foram destinadas à China, que
teve participação ainda de 65,7% e de 40,96% nas exportações de carne bovina
congelada e de ferroligas, pela ordem. Excluídos a soja em grão e os três itens
mencionados na sequência, as exportações despencaram 14,09% para todo o
restante da economia estadual, encolhendo de US$ 1,188 bilhão para US$ 1,020
bilhão.