Com exclusão de combustíveis, energia e educação, IPCA recua em fevereiro

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 15 de março de 2023

Especialistas, consultores, analistas do mercado e economistas de diversos organismos públicos e privados dedicados ao acompanhamento dos preços desenvolveram, aqui dentro e lá fora, uma montanha de indicadores para aferir o comportamento da inflação, numa tentativa de antecipar cenários e tendências. A atividade premonitória ganhou relevância nos últimos tempos diante da necessidade de abastecer os bancos centrais em todo o mundo de dados e informações que tornem a tomada de decisões sobre a política monetária menos aleatória, muito embora o Banco Central (BC) brasileiro tenha desenvolvido seus próprios modelos, que não levam em conta os efeitos de suas decisões sobre o mercado de trabalho e, mais especificamente, sobre o desemprego. Vale dizer, o grau de sofrimento imposto aos desempregados e a suas famílias não move e nem comove a alta direção do BC, irremediavelmente capturado pelos interesses do mercado financeiro.

Aquela montanha de indicadores inclui índices diversos, médias de preços, “núcleos” de inflação e outras medidas com as quais se pretende dar ares de ciência às decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), que volta a se reunir nos dias 21 e 22, respectivamente, terça e quarta-feira da próxima semana, para decidir se mantém os juros básicos em inacreditáveis 13,75% ao ano.

A economia caminha para mais um período de esfriamento neste começo de ano, como já vinham indicando, por exemplo, os resultados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados sobre operações de crédito do próprio BC, assim como já anotavam os dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) referentes aos dois últimos trimestres do ano passado e, mais recentemente, os últimos números da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

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Encolhimento

As vendas e a produção de veículos sofreram baixas de 1,8% e de 4,6% na comparação entre fevereiro deste ano e o mesmo mês do ano passado. O número de veículos licenciados caiu de 132,331 mil para 129,949 mil unidades, com a produção recuando de 165,935 mil para 161,181 mil. O número de empregos registrou algum avanço na mesma comparação, passando de 119,126 mil para 122,320 mil, num avanço de 2,68% – correspondendo à abertura de 3,194 mil vagas. Os números estão, no entanto, muito abaixo daqueles alcançados ao longo de 2012 e 2013, anos que observaram os melhores resultados da indústria automobilística em toda a série histórica da Anfavea. A começar pelo total de empregados, que somava 159,648 mil em outubro de 2013. Desde lá, portanto, foram demitidos 37,328 mil trabalhadores, com a indústria reduzindo sua força em 23,4%. O número de veículos licenciados em agosto de 2012 havia atingido 420,080 mil, pouco mais de três vezes acima do total vendido em fevereiro deste ano – a queda desde agosto daquele ano chegou a 69%. Mais claramente, o mercado brasileiro de veículos encolheu a ponto de representar pouco mais de 30% de seu tamanho há pouco mais de uma década. A produção, da mesma forma, experimentou queda de 54,3% desde abril de 2012, quando a indústria havia montado 352,328 mil veículos, frente a 161,181 mil em fevereiro deste ano, como visto.

Balanço

  • Fazer a economia encolher ainda mais a pretexto de conter a alta dos preços, que tem como causa central aumentos de custos associados aos abalos sofridos pelas cadeias mundiais de suprimento de peças, acessórios, componentes eletrônicos, como reflexo da paralisação das economias no auge da pandemia, e a altas nos preços dos combustíveis, causadas, por sua vez, ao encarecimento do barril de petróleo no mercado internacional numa consequência direta da guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito teve impacto ainda sobre preços de grãos, dada a condição da Ucrânia de exportadora principalmente de milho, e de fertilizantes.
  • Esgotados aqueles fatores, ao longo do tempo, as taxas de inflação naturalmente tenderiam a refluir, como tem ocorrido, por exemplo, nos Estados Unidos. Não por coincidência, incertezas passaram a rondas a economia estadunidense, desde o último final de semana, pela quebra de dois bancos de médio porte. No primeiro caso, como resultado da alta das taxas de juros e do que parecem ser más práticas de gestão, diante da ausência de provisões ou da constituição de provisões em volume insuficiente para fazer frente às perspectivas de perdas trazidas pelo aumento dos juros (gerando consequente desvalorização de títulos federais detidos pelo referido banco).
  • A corrida contra o banco, com depositantes e investidores buscando sacar seus recursos, gerou sua quebra. No segundo caso, a quebradeira foi gerada pela desvalorização vigorosa das chamadas criptomoedas.
  • Aqui dentro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, calculado pelo IBGE, marcou 0,84% e mostrou aceleração relativa na saída da primeira para a segunda quinzena de fevereiro, já que o IPCA-15 havia alcançado 0,76%. A aceleração, no entanto, perdeu força, indicando uma taxa 0,08 pontos percentuais acima da inflação medida nos 30 dias finalizados em 13 de fevereiro. Entre o IPCA de janeiro, que havia registrado variação de 0,53%, e o IPCA-15 de fevereiro, a alta havia sido de 0,23 pontos.
  • A perda de força esteve relacionada ao grupo alimentos e bebidas, com a taxa média de alta dos preços recuando de 0,39% para 0,16%. E ainda pelo ligeiro desaquecimento nos preços do grupo educação, que sazonalmente aumentam no começo do ano, refletindo o reajuste de mensalidades e matrículas e despesas com material escolar. A inflação no setor de educação havia saltado de 0,36% em janeiro para 6,41% nas quatro semanas encerradas em 13 de fevereiro. Nos 28 dias de fevereiro, a educação passou a indicar variação de 6,28%.
  • Com a ajuda dos alimentos, agora com taxas em desaceleração, e descontadas as despesas com energia, combustíveis e educação, o índice inflacionário saiu de 0,46% em janeiro para 0,40% tanto na marcação do IPCA-15 de fevereiro quanto no IPCA “cheio” daquele mês.