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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Com juros no “espaço”, economia tende a acirrar desaquecimento no semestre

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 23 de setembro de 2025
Foto : Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Foto : Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

A política continuada de juros escorchantes, especialmente com a confirmação de que a taxa básica tenderá a se manter em 15% ao ano por um período mais longo do que o esperado anteriormente, deverá impor à atividade econômica uma desaceleração mais acentuada no restante do ano.

As tendências projetadas para a economia daqui para frente já vinham sendo afetadas pela elevação persistente dos juros em curso desde setembro do ano passado – ainda que o cenário de incertezas domésticas e turbulências na geopolítica global, acirradas pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos, não tivesse sido contemplado propriamente nos modelos construídos pelo setor financeiro, por consultorias e institutos independentes para antecipar o desempenho da atividade econômica, diante das dificuldades notórias para estimar seus impactos.

As projeções para o PIB de 2025, de todo modo, já vinham contemplando algum desaquecimento, com as apostas girando em torno de 2,2%, conforme estimativas da Tendências Consultoria e Itaú Unibanco, que já antecipava, há algumas semanas, a possibilidade de revisar aquela taxa para baixo, conforme Igor Barreto Rose, economista do banco.

O relatório Focus do Banco Central (BC), que captura as expectativas do setor financeiro, chegava ao requinte de estimar uma variação de 2,16% para o PIB deste ano. Numa trajetória diversa àquela observada para o restante da economia, comenta Barreto, a agropecuária pode dar alguma sustentação extra para a atividade em geral. “O agro continua sendo um dos grandes motores do PIB e teve seu crescimento revisado pelo banco de 7,0% para 8,3% neste ano”, indica.

A visão da FGV
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) trabalhava, até o final de agosto, com uma previsão de 2,0% para a economia neste ano, com perspectiva de baixa a depender do comportamento do produto no restante do segundo semestre.

A economista e pesquisadora Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do instituto, sugere que a atividade tenderia a uma variação nula no segundo semestre, acenando com a possibilidade de uma taxa negativa para o PIB no quarto trimestre. Esse processo refletiria principalmente os efeitos retardatários da política monetária sobre as decisões de consumo e investimento na economia, na sua visão.

Sílvia lembra que os juros reais, calculados com base nas taxas do Swap de 360 dias, deflacionadas pela inflação projetada para os próximos 12 meses, saltou de algo em torno de 6,0% em dezembro de 2023 para 9,7% na média observada em julho deste ano.

Balanço
A economista avalia que a alta das tarifas alfandegárias certamente trará algum resultado ruim setorialmente, mas, para todo o agregado da economia, “se você colocar como equilíbrio geral, não consigo ver resultado negativo”. Sílvia argumenta que é preciso colocar nessa conta o enfraquecimento do dólar, que tem acompanhado as escolhas feitas pelo governo estadunidense.

A desinflação dos preços dos bens já em curso, pondera ainda, guarda muita relação com o câmbio mais baixo, potencializando os efeitos do esfriamento da economia sobre os preços. A influência do dólar mais barato, na sua análise, “torna o processo de desinflação menos doloroso”. Uma esperada redução na demanda por bens no mercado global, com queda das importações nos EUA, antevê Sílvia, reforçaria a tendência de preços em baixa no cenário internacional.

Com participação de 53% no PIB geral, o nível da atividade no País continua balizado pelo comportamento da economia no Sudeste, que teria avançado 3,6% no ano passado, acima da taxa de 2,8% projetada para 2023, e pode crescer 1,8% neste ano, anota a economista Camila Sato, da Tendências.

A desaceleração deve ser ditada sobretudo, sugere ela, pelo menor crescimento da indústria de transformação. Além da desaceleração no setor industrial, Barreto antevê dificuldades adicionais em função da maior exposição do setor de manufaturas na região ao mercado dos EUA.

“Como realocar mercados neste caso é mais complicado, a tarifação deve ter algum impacto, considerando que o consumo doméstico também desacelera”, registra o economista do Itaú. Na mesma linha, Barreto lembra que praticamente 90% das vendas externas de rochas ornamentais e pedras naturais do Espírito Santo têm a mesma destinação.

No primeiro semestre deste ano, anota Camila, os EUA foram destino de 17% das exportações do Sudeste, seguido pelo Nordeste, que registrou participação de 13,4% daquele mercado em suas vendas externas. Norte e Centro-Oeste, pelo perfil de sua pauta de exportações, registram participações ao redor de 5,0% e de 3,1% para o mercado estadunidense.

A indústria deve caminhar mais lentamente também no Sul, assinala Camila, que espera um crescimento de 2,2% para o PIB regional neste ano, diante de 3,3% no ano passado, com o produto industrial saindo de alta próxima de 3,7% para apenas 1,4%.

À exceção do Rio Grande do Sul, que tende a amargar queda de 9,6% na produção de grãos neste ano, agora por conta da seca, Paraná e Santa Catarina devem colher, pela ordem, 22,4% e 14,5% mais grãos, favorecendo a elevação de 2,3% no PIB da agropecuária local, contrapondo-se à redução de 2,4% estimada para 2024, segundo a economista. Ela reforça que as projeções ainda não haviam incorporado os possíveis impactos do tarifaço, considerando que o programa de socorro aos setores mais afetados, lançado em agosto pelo governo, tenderá a amortecer estragos eventuais.

A lógica do desaquecimento, de toda forma, prevalece como visão geral, pondera Barreto. O PIB das regiões Norte e Nordeste, que havia crescido respectivamente 4,3% e 3,5% em 2024, na previsão da Tendências, poderá avançar, neste ano, a um ritmo de 3,5% e de 2,3% naquela mesma ordem.

A exceção caberá ao Centro-Oeste, com crescimento estimado em 3,3% para este ano, diante de 1,7% em 2024. “Quando considero os indicadores de nível de atividade do BC, por exemplo, praticamente não houve recessão no Centro-Oeste em 2015 e 2016, porque é uma região muito dependente do agronegócio”, avalia Sílvia.

Neste ano, conforme estima Camila, o PIB da agropecuária na região deverá saltar 11,0%, no melhor desempenho entre todas as regiões.

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