Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Com queda nas importações, déficit nas contas externas desaba 48,5%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 05 de dezembro de 2023

A melhora nas contas externas do País neste ano pode ser explicada principalmente pela retração das compras de bens e mercadorias importadas, o que ajudou a produzir um salto no superávit da balança comercial, derrubando, como consequência, o déficit na conta de transações correntes. A redução das importações pode estar associada em parte ao esfriamento da economia neste segundo semestre, o que passaria a funcionar como um freio à entrada de bens importados. Entre outros fatores, a queda nos preços de adubos e fertilizantes e do petróleo e seus derivados no mercado internacional igualmente tiveram influência na redução dos valores importados pelo Brasil ao longo dos últimos meses.

Os dados do Banco Central (BC) para os primeiros 10 meses deste ano mostram um tombo de 48,51% no déficit em transações correntes, conta que inclui receitas e despesas do País lá fora, envolvendo exportações e importações de produtos em geral, despesas com o pagamento de serviços no exterior, como gastos com frete, viagens, aluguel de equipamentos, além de remessas de juros, lucros e dividendos. No balanço geral, o déficit desabou de US$ 40,491 bilhões entre janeiro e outubro do ano passado para US$ 20,847 bilhões nos mesmos 10 meses deste ano, caindo em equivalentes US$ 19,644 bilhões.

A série histórica de dados do BC aponta ainda que o rombo na conta de transações correntes, acumulado em 12 meses, atingiu em outubro deste ano perto de US$ 33,976 bilhões, correspondendo a 1,62% do Produto Interno Bruto (PIB). Em valores, foi o menor déficit para um período de 12 meses desde julho de 2021, quando havia alcançado US$ 31,053 bilhões. Em relação ao PIB, o dado de outubro foi o mais baixo desde dezembro de 2017, quando o déficit havia representado 1,23% do PIB.

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Superávit recorde

A retração vigorosa do déficit corrente veio na sequência de um salto de 81,47% no superávit da balança comercial (exportações menos importações), na medição feita pelo BC para efeito de cálculo dos resultados na conta do balanço de pagamentos (que consolida todas as relações do País com o resto do mundo, incluindo, além das transações correntes, receitas e gastos de capital, investimentos estrangeiros diretos e movimentações no mercado financeiro envolvendo não residentes no País). O saldo comercial, que caminha para bater novo recorde, saiu de US$ 36,574 bilhões entre janeiro e outubro do ano passado para US$ 66,372 bilhões nos primeiros 10 meses deste ano, equivalente a um incremento de US$ 29,798 bilhões. Esse avanço compensou por larga margem o aumento do déficit na conta de renda primária, que contempla pagamento de juros e remessas de lucros e dividendos realizados aqui dentro por investidores estrangeiros no mercado de ações e por empresas estrangeiras que operam no País, e foi essencial para explicar a redução do déficit em transações correntes.

Balanço

  • Praticamente todo o ganho acumulado pela balança comercial brasileira deveu-se à redução das importações, que saíram de US$ 248,318 bilhões entre janeiro e outubro de 2022 para US$ 220,638 bilhões em igual intervalo deste ano, recuando 11,15%. Em termos absolutos, as compras foram reduzidas em US$ 27,680 bilhões, o que explica praticamente 93,0% da melhora no saldo comercial.
  • Os dados considerados pelo BC diferem daqueles utilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) para aferir os resultados da balança comercial, porque incluem transações entre residentes e não residentes, mesmo que os bens transacionados não tenham cruzado a fronteira, exportações e importações de criptoativos (a exemplo de bitcoins e outras “moedas” virtuais) e compra e venda de mercadorias de pequeno valor realizadas por meio de encomendas internacionais ou outros formatos de pagamento.
  • Nas contas do Mdic, a queda das importações chegou a ser ainda mais severa, num tombo de 25,80% naquela mesma comparação. Nesses registros, o País gastou perto de US$ 202,279 bilhões em compras externas nos primeiros 10 meses deste ano, em torno de US$ 18,359 bilhões abaixo do valor considerado pelo BC. No mesmo período do ano passado, os registros do ministério indicam importações próximas de US$ 272,611 bilhões, o que significa dizer que, neste ano, essa despesa ficou menor em US$ 70,331 bilhões.
  • Praticamente um quarto dessa redução está relacionado a uma queda de 36,86% nas compras externas de petróleo, carvão mineral, coque e gás natural, que encolheram de US$ 48,045 bilhões para US$ 30,337 bilhões (em torno de US$ 17,708 bilhões a menos). A segunda maior contribuição para a queda geral veio das importações de produtos químicos, com exclusão dos gastos com adubos importados. Neste caso, o País havia realizado uma despesa de US$ 54,737 bilhões para importar produtos químicos nos primeiros 10 meses de 2022 e reduziu o gasto para US$ 39,331 bilhões neste ano, numa queda de 28,15% (ou US$ 15,406 bilhões a menos).
  • A redução de quase 17% nas importações de máquinas e equipamentos de transporte, refletindo a redução dos investimentos em geral aqui dentro, explica em torno de um quinto da baixa nas compras externas totais. Neste segmento, as compras baixaram de US$ 84,959 bilhões para US$ 70,569 bilhões, ou seja, em torno de US$ 14,390 bilhões a menos.
  • A queda nos preços de adubos e fertilizantes abriu espaço para uma redução de US$ 12,958 bilhões nos valores importados nesta área, que baixaram de US$ 25,891 bilhões para US$ 12,933 bilhões em valores aproximados, representando um tombo de 50,05%.