Quinta-feira, 28 de março de 2024

Com queda nos preços e em volume, balança comercial encolhe em Goiás

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de março de 2023

A queda no saldo comercial do Estado com o restante do mundo reflete o que parece ser uma mudança na tendência observada nos últimos dois anos, quando o crescimento vigoroso dos volumes embarcados e a alta dos preços das commodities agrícolas e minerais impulsionaram as exportações goianas a níveis históricos. Os dados acumulados no primeiro bimestre ainda não são suficientes para definir uma tendência para o restante do ano, mas indicam recuo para os volumes exportados e importados e retração para os preços dos produtos vendidos e comprados lá fora, com queda mais acentuada no lado das importações.

Essa diferença no ritmo de baixa dos preços, que pode ser resultado de uma mudança no perfil dos bens importados, com perda de espaço para aqueles de maior valor agregado, trouxe uma melhoria relativa nos chamados termos de troca. Em grandes linhas, houve uma redução na distância entre os preços recebidos pelos exportadores e aqueles pagos pelos importadores, o que significa dizer que foi preciso exportar um valor proporcionalmente mais baixo para importar um volume equivalente de bens e mercadorias.

Os dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia mostram que as exportações do Estado registraram queda de 19,59% entre os primeiros dois meses deste ano e igual período do ano passado, encolhendo de US$ 1,653 bilhão para pouco mais de US$ 1,329 bilhão, numa perda de US$ 323,825 milhões. As importações sofreram baixa ainda mais intensa, num tombo de praticamente 26,0%, despencando de alguma coisa abaixo de US$ 975,587 milhões para US$ 722,057 milhões (redução equivalente a US$ 253,530 milhões).

Continua após a publicidade

Como os valores exportados são bem maiores do que as despesas com importações (na verdade, pouco mais de 84% maiores), a redução em valores absolutos foi maior na ponta das exportações. Essa relação permitiu que a queda no saldo comercial ficasse limitada a 10,37%. Ainda assim, uma redução expressiva, com o superávit (exportações menos importações) baixando de US$ 677,721 milhões para US$ 607,426 milhões. Será preciso aguardar os próximos resultados para se ter uma visão mais clara de qual tendência deverá prevalecer no restante do ano, embora os dados iniciais tenham vindo negativos.

Primeiras baixas

As receitas de exportações e as despesas com importações foram ambas influenciadas, como já anotado, pela redução nos volumes e nos preços médios dos produtos embarcados para fora do País e despachados do exterior em direção ao mercado goiano. Em volume, as exportações anotaram redução de 4,89%, caindo de 1,983 milhão para 1,886 milhão de toneladas entre o primeiro bimestre de 2022 e igual período deste ano. Nas importações, a redução foi mais intensa, atingindo sobretudo as compras de adubos e fertilizantes, que haviam crescido fortemente no ano passado. Entre janeiro e fevereiro do ano passado e os mesmos dois meses deste ano, os volumes importados recuaram de 630,016 mil para 577,349 mil toneladas, numa redução de 8,36%.

Balanço

  • Os preços médios nas duas pontas caíram acentuadamente, mas com intensidade diferente. Os valores médios recebidos pelos exportadores baixaram 15,49% entre os dois bimestres analisados neste espaço, com tombo de 19,24% no custo médio de cada tonelada importada, a valores aferidos em dólares. Essa discrepância favoreceu uma ligeira recuperação dos termos de troca, com elevação estimada em 4,7%.
  • A despeito dessa melhora relativa, os termos de troca continuam muito mais altos na importação, já que os preços médios das mercadorias importadas ainda foi 77,4% mais elevado do que o valor médio recebido pelo exportada a cada tonelada destinada a mercados fora do País. No primeiro bimestre do ano passado, essa diferença era de 85,7%.
  • Essa diferença é um reflexo da composição das exportações e das importações goianas. No primeiro caso, predominam produtos de origem agropecuária e, em escala menor, também mineral. Na balança das compras externas, há uma participação mais relevante de bens e produtos de valor agregado mais elevado, incluindo medicamentos e seus insumos, veículos, tratores, suas peças e acessórios, além de caldeiras, máquinas e produtos químicos, além de adubos e fertilizantes.
  • A redução em quase um terço das exportações do chamado “complexo soja”, que inclui o grão, o farelo e o óleo, respondeu por praticamente 73,9% da queda sofrida pelas vendas externas estaduais como um todo. As indústrias de processamento de soja, tradings do setor e produtores exportaram US$ 493,843 milhões nos dois primeiros meses deste ano, o que correspondeu a uma redução de 32,63% na comparação com vendas de US$ 733,050 milhões realizadas em janeiro e fevereiro do ano passado. A queda, portanto, foi de US$ 239,207 milhões. A participação do “complexo soja” sobre o total exportado encolheu de 44,34% para 37,15%.
  • Proporcionalmente, as perdas mais severas atingiram os embarques de óleo de soja, que desabaram de US$ 60,943 milhões para US$ 22,401 milhões, numa retração de 63,24%. Em valores absolutos, de toda forma, a maior contribuição para a queda das exportações em geral veio da soja em grão, que teve suas vendas ao exterior reduzidas de US$ 526,288 milhões para US$ 350,008 milhões, em baixa de 33,49%. A receita ficou menor em US$ 176,280 milhões, o que explica 54,44% das perdas anotadas pelo total do setor exportador. Para completar, as exportações de farelo de soja anotaram redução de 16,72%, saindo de US$ 145,819 milhões para US$ 121,434 milhões.
  • Registrado em Marabá (PA), os impactos do caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), mais conhecido como o mal da vaca louca e agora confirmado como atípico, afetaram as exportações de carne bovina, diante da paralisação de várias plantas frigoríficas dedicadas a exportações. As vendas goianas de carne bovina fresca ou congelada, somadas, baixaram de US$ 257,226 milhões para US$ 156,128 milhões, numa redução de 39,30%.