Comércio registra pior resultado para um mês de agosto desde 2016

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 07 de outubro de 2021

O comércio como um todo apresentou em agosto o pior resultado para o mês em cinco anos, comparado a igual período do ano anterior,numa retração de 4,1% para o varejo mais convencional e estagnação no setor varejista ampliado. Os números refletem um cenário de demanda enfraquecida pelo desemprego ainda elevado, pelo avanço da carestia e consequente perda de poder de compra dos salários, erodindo as bases mesmas de uma retomada sustentada ao longo do tempo. Em todo o País, na passagem de julho para agosto, o varejo convencional assistiu a uma redução de 3,1%, o que significou a queda mais intensa em um mês de agosto em toda a série de dados da pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).O varejo em seu conceito mais amplo, que inclui concessionárias de veículos e motos e lojas de autopeças e de materiais de construção, sofreu tombo de 2,5% também em relação a julho, no desempenho mais fraco desde agosto de 2008 nesse tipo de comparação.

Os números vieram negativos também para Goiás, que registrou a queda mais pronunciada para um mês de agosto em toda a série histórica da pesquisa mensal do comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no caso do varejo mais tradicional, tomando o mês imediatamente anterior como comparação. A redução chegou a 4,2%, na oitava queda mensal ao longo dos últimos 12 meses. O comércio ampliado bateu um recorde negativo em 13 anos também na evolução mês a mês, recuando 3,2% de julho para agosto. Mais precisamente, as vendas não sofriam perda tão pronunciada desde agosto de 2008.

Varejo amplo

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Na comparação com agosto de 2020, o setor varejista goiano apresentou perda de 5,4%, “superada” apenas pela retração de 8,3% registrada em agosto de 2017. As vendas no varejo ampliado, considerando a base ainda reduzida em 2020, subiram 7,6% (melhor resultado desde agosto de 2018, quando haviam crescido 8,7%). Os números foram puxados pelo salto de 40,2% nas vendas de veículos, motos e autopeças, variação que compensou com folga a redução de 3,0% registrada nas vendas do setor de materiais de construção, segunda queda mensal consecutiva, já que o volume vendido chegou a recuar 2,5% em julho (sempre em relação a igual mês do ano anterior). O segmento nitidamente perdeu fôlego após meses de números positivos, não só em Goiás, mas também no restante do País.

Balanço

  • No caso de veículos e motos, o avanço ainda vigoroso observado até aqui está estreitamente relacionado aos maus resultados de 2020. Para comparação, entre abril e setembro do ano passado, ainda em Goiás, as vendas nesta área haviam sofrido baixas, mês a mês, de 36,1% (abril), de 25,0% (maio), de 14,3% (junho), de 14,8% (julho), de 9,9% (agosto) e de 0,4% (setembro). Foram seis meses longos e tenebrosos, que achataram a base para comparação, insuflando os saltos anotados agora.
  • À medida em que os números de 2020 passam a anotar alguma melhoria (ou quedas em menor intensidade), o que se verifica é uma gradual desaceleração no ritmo de crescimento das vendas neste ano. Até junho, por exemplo, registrou-se um salto de 59,2%. No mês seguinte, a variação havia sido de 50,1%. Parte desse desaquecimento relativo pode estar relacionado às dificuldades da indústria para suprir suas linhas com semicondutores, em falta no mercado global por conta da desorganização relativas das cadeias de fornecimento, o que tem causado redução na produção e menos unidades disponíveis para venda imediata.
  • Mas aquele não parece ser o único problema. As vendas dos hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo desabaram 7,0% frente a agosto do ano passado, na sequência de perdas de 9,8% e de 9,7% em junho e julho. Na verdade, foram 13 meses consecutivos de perdas, num sintoma nítido da perda de capacidade de consumo das famílias, mesmo nos meses em que o auxílio emergencial, em seu valor “cheio”, esteve em vigor. Em 12 meses, as vendas do setor encolheram 10,8% frente aos 12 meses imediatamente anteriores.
  • As lojas de móveis e eletrodomésticos, um dos setores entre aqueles que dependem mais do crediário, registram quatro meses de queda nas vendas, com perdas de 5,5% em maio, de 10,1% em junho e de 15,2% em julho, chegando a agosto com tombo de 26,5%. No ano, comparado aos oito primeiros meses de 2020, as vendas recuaram 0,8%, lembrando que no primeiro semestre a pesquisa do IBGE registrava salto de 8,6%.
  • O setor de tecidos, vestuário e calçados veio de fortes perdas em 2020 (as vendas chegaram a desabar quase 90,0% em abril do ano passado, em Goiás) e tenta recompor-se agora. Mas enfrenta igualmente alguma desaceleração, saindo de alta de 88,3% em junho para variação de 15,2% em agosto. As lojas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumes e cosméticos têm sustentado números melhores, também depois de experimentar perdas em 2020, crescendo 23,9% em agosto.
  • No País, os supermercados igualmente sofrem, com perdas de 4,6% em agosto, no sétimo tropeço mensal em sequência, fechando os oito meses iniciais do ano com recuo de 2,9%. A perda de 19,8% nas vendas de móveis e eletrodomésticos em agosto reduziu o crescimento acumulado no ano de 11,0% no primeiro semestre para 2,6% até agosto.