Commodities passam a responder por 71% das exportações do País

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de julho de 2024
Commodities passam a responder por 71% das exportações do País

As vendas externas de commodities, lideradas pelo petróleo em bruto, passaram a representar em torno de 71% do volume total exportado pelo País ao longo dos primeiros seis meses deste ano, na participação mais elevada desde 1997, segundo o mais recente boletim do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) sobre o setor externo, consolidado no Indicador de Comércio Exterior (Icomex).

No mesmo período do ano passado, a participação das commodities havia alcançado 68%, que já havia sido mais elevado do que os 59% registrados em 2011, no auge do boom das commodities, marcado pela elevação vigorosa dos preços daqueles produtos no mercado internacional, o que havia turbinado a economia doméstica, sancionando um ciclo ainda não reeditado de crescimento econômico.


No ano imediatamente anterior à pandemia, em 2019, registra o Icomex, as commodities haviam assumido uma participação de 62%, percentual elevado nos dois anos seguintes para 68% e 70%. “Durante a pandemia da Covid-19”, anota o relatório, aquele “percentual aumentou e depois não recuou”. No primeiro semestre de 2024, medida em toneladas, as exportações de commodities cresceram 12%, enquanto os preços do setor baixaram 5,3%.

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Entre os bens classificados como “não commodities”, os volumes embarcados caíram 7,6%, com relativa estabilidade para os preços – na verdade, houve leve recuo de 0,2% em relação à primeira metade do ano passado.
Graças ao petróleo e, em contribuição proporcionalmente menos intensa, a indústria extrativa liderou o processo, com alta de 19,2% nos volumes embarcados entre os seis meses iniciais do ano passado e o mesmo intervalo deste ano, movimento acompanhado por discreta elevação nos preços médios, com variação de 1,7% no acumulado do primeiro semestre.


Altas e baixas


A indústria de transformação chegou a reduzir os volumes embarcados em 5,9% na comparação entre junho deste ano e igual mês do ano passado, mas encerrou o semestre com modesto incremento de 1,2%. A agropecuária, que havia assumido um papel de protagonista no setor exportador, acumulou alta de 4,7% nos volumes exportados entre janeiro e junho deste ano frente aos mesmos seis meses de 2023, embora os preços tenham despencado 16,6% em função da tendência de baixa para os preços internacionais dos grãos, com destaque negativo para a soja, e das carnes (que, no entanto, têm anotado crescimento relevante em volumes e nos valores finais exportados, especialmente no caso da carne bovina).


Balanço

  • Diante daqueles números, anota ainda o Icomex, a indústria extrativa passou a superar a agropecuária na pauta de exportações, ainda considerando os volumes destinados a mercados fora do Brasil. O setor de extração passou a representar 25,4% das exportações totais, diante de uma fatia de 22,0% ocupada pelos produtos agropecuários, sempre no primeiro semestre deste ano.
  • Os preços médios na indústria extrativa anotaram elevação de 1,7%, ao mesmo tempo em que a indústria de transformação exportou produtos, na média, 0,4% mais baratos do que no ano anterior.
  • O setor de transformação industrial manteve-se na liderança, expressando uma participação de 52,6% em volume. Mas, pondera o Icomex, as commodities responderam por mais da metade das exportações da indústria, registrando participação de 50,3%. Os números vêm em linha com as tendências apontadas pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que têm mostrado a maior influência de setores de baixa e baixa-média tecnologia na pauta de exportações de bens industriais.
  • Ainda em volume, prossegue o Icomex, as exportações da indústria extrativa em junho especificamente foram puxadas pelo salto de 31,6% nas vendas externas de petróleo bruto, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), trabalhados pelo Ibre. O petróleo sozinho respondeu por 12,8% das exportações totais do País naquele mês. “O minério de ferro, com participação de 8,9%, registrou queda de 3,0% no volume”, complementa o boletim.

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  • Os números agregados observados para o setor de petróleo e derivados, ainda conforme o Icomex, mostram alta de 26,6% em volume na saída do primeiro semestre do ano passado para igual período deste ano, enquanto os preços literalmente “andaram de lado”, recuando apenas 0,1%. Na ponta das importações do mesmo segmento, os volumes comprados lá fora praticamente não saíram do lugar, variando 0,1%, enquanto os preços médios recuaram 1,9%.
  • No prato das importações, num retrato do processo de desindustrialização sofrido pelo País, a indústria de transformação alcançou uma participação de 91,1%, seguida pela extrativa (com 6,7%) e pela agropecuária (2,3%), que historicamente responde por parcelas reduzidas das compras externas brasileiras.
  • Apesar da baixa participação, o desempenho das importações de produtos agropecuários foi o que mais se destacou, com alta semestral de 38,4%, seguido (conforme já registrado) pelo avanço de 12,9% nos volumes importados pela indústria de transformação. Em torno de 64,9% das importações realizadas pelo setor corresponderam a bens e produtos intermediários, que, por sua vez, anotaram elevação de 9,6% frente aos primeiros seis meses de 2023.
  • Numa análise por país de origem das importações, a China respondeu por 51% das importações totais de bens duráveis realizadas no primeiro semestre deste ano, o que se compara com 19,2% em igual período de 2022. A pauta das compras de produtos chineses tem sido dominada por veículos, sobretudo por automóveis elétricos mais recentemente.