Como o arranjo entre Campos e mercados detonou a chance de novo corte nos juros
A possibilidade de ocorrer um novo corte nas taxas de juros básicas na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para os dias 18 e 19 de junho, tornou-se mais remota, se já não pode ser descartada desde já. Mas não por qualquer motivo de ordem macroeconômica. Simplesmente por que a conspiração articulada […]
A possibilidade de ocorrer um novo corte nas taxas de juros básicas na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para os dias 18 e 19 de junho, tornou-se mais remota, se já não pode ser descartada desde já. Mas não por qualquer motivo de ordem macroeconômica. Simplesmente por que a conspiração articulada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, envolvendo uma parcela do mercado financeiro, foi de fato bem-sucedida.
Como já sabido e repisado, desde a segunda metade de abril, Campos Neto tem exercitado sua tendência ao terrorismo fiscal, ajudando a aguçar incertezas de forma a influenciar expectativas e congelar, enfim, os juros na economia em níveis estratosféricos. Sempre falando a públicos selecionados, formado por banqueiros, agentes financeiros e grandes empresários, em audiências fechadas ao restante da opinião pública, o presidente do BC primeiro tratou de torpedear as mudanças apenas cosméticas na política fiscal, como já relatado neste espaço (O Hoje, 17.04 e 09.05.2024).
Na sequência, numa jogada certeira, tratou de reverter o tal “guidance” – a orientação definida pelo Copom para a política de juros, quando adiantou ao mercado sua decisão de realizar pelo menos mais dois cortes de meio ponto percentual sobre os juros neste ano, mensagem reforçada em março. Como se sabe, na primeira semana de maio, o Copom decidiu aplicar uma redução de 0,25 pontos percentuais, deixando os juros básicos em estranguladores 10,50% ao ano.
Manipulação
A orquestração dos mercados, agora sob o silêncio comprometedor de Campos Neto, aparentemente teria envolvido, ao que indicam os arquivos do próprio BC, até mesmo uma manobra para manipular a taxa Selic, quer dizer, os juros que servem de base para a definição do custo do crédito em toda a economia. Na sequência da reunião mais recente do Copom, ocorrida entre 8 e 9 de maio, um agente do setor financeiro passou a incluir nas projeções para a inflação de 2026 e de 2027 uma taxa inflacionária de 8,0%, um salto em relação à taxa máxima de 5,70% verificada nas aferições anteriores pelo próprio BC por meio do relatório Focus.
O chute para cima da inflação esperada para aqueles períodos passou a fazer parte do relatório na relação das taxas máximas esperadas pelo mercado financeiro e influiu no cálculo da inflação média projetada. Essa média, que havia recuado de 3,87% no início de janeiro para 3,74% no dia 2 de maio, fechou a primeira semana de junho em 3,90%.
Balanço