Coluna

Concentração da renda do trabalho piora no Brasil, mas cede ligeiramente em Goiás

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 16 de outubro de 2019

A
concentração da renda no Brasil e em Goiás, medida pelo índice de Gini (que
varia de zero – o que seria a igualdade total – até um, a máxima desigualdade
possível), vinha sofrendo baixa até 2015 e, desde a crise, voltou a aumentar,
segundo essa tendência até o ano passado para o País como um todo,
desacelerando discretamente na passagem de 2017 para 2018 no caso do Estado.
Embora em desaceleração, a desigualdade voltou a se aproximar dos índices mais
elevados observados no início da década.

Os
indicadores estão nos dados consolidados pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), sobre os rendimentos recebidos pelas pessoas ocupadas entre 2012 e o
ano passado, num retrato da má distribuição da renda no mercado de trabalho. No
Brasil, o índice de Gini (uma medida de desigualdade desenvolvida pelo
estatístico italiano CorradoGini) recuou de 0,540 para 0,524 entre 2012 e 2015,
o mais baixo da década, refletindo o crescimento experimentado pela economia no
período. Em Goiás, que historicamente apresenta uma concentração de rendimentos
inferior à média brasileira, o mesmo coeficiente recuou de 0,475 para 0,458.

Os
anos de recessão e de baixíssimo crescimento econômico, com desemprego em
elevação, fizeram o indicador avançar até 0,545 na média de todo o País no ano
passado, saindo de 0,538 em 2017. Com a piora, a concentração tornou-se ainda
mais severa do que nos primeiros anos da década. O índice de Gini igualmente
voltou a anotar piora em Goiás a partir de 2016, alcançando sua pior marca em
2017 (0,478) para recuar apenas levemente no ano passado, para 0,471. De
qualquer forma, trata-se de um resultado pior do que aquele observado em 2015.

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Má distribuição

A
desigualdade está igualmente retratada na má distribuição da massa total real
de rendimentos por domicílio. A metade mais pobre da população goiana chegou a
ter 22,4% da soma de todos os rendimentos (o que forma naturalmente a massa de
rendimentos) em 2015, saindo de 21,4% em 2012. Essa fatia encolheu para 20,9%
em 2018, quando a faixa dos 10% mais ricos passou a acumular 36,6% dos
rendimentos totais recebidos pela população. Trata-se de uma participação
inferior aos 38,1% registrados em 2012 e 2013, mas muitas vezes superior à
renda total destinada à metade de renda mais baixa.

Balanço

·  
Os
números para o Brasil são ainda piores. Os 50% mais pobres saíram de uma
participação de 16,9% em 2012 para 17,7% em 2015, mas foram perdendo espaço nos
anos seguintes até alcançar uma participação de apenas 16,2% no ano passado.

·  
Na
outra ponta da pirâmide, os 10% mais ricos da população brasileira perderam
participação no período que antecedeu a crise, saindo de 43,0% para 41,4% entre
2012 e 2015. Mas recuperaram o terreno perdido com alguma sobra, avançando para
43,1% no ano passado.

·  
A
massa real de rendimentos médios domiciliar avançou num ritmo mais acelerado
antes da crise, crescendo 30,3% no País e 31,3% em Goiás na comparação entre
2012 e 2015. Na soma total do País, a massa passou de R$ 173,03 bilhões para R$
225,50 bilhões, evoluindo, em Goiás, de R$ 5,412 bilhões para R$ 7,104 bilhões.

·  
A
partir da crise observa-se alguma desaceleração, com a massa crescendo 23,2% na
média do Brasil e 24,8% em Goiás, atingindo respectivamente R$ 277,70 bilhões e
R$ 8,869 bilhões em 2018.

·  
A
participação goiana manteve-se praticamente inalterada desde o início da série
estatística da PNADC, variando de 3,12% para 3,19% de 2012 para 2018.

·  
A
distância entre os mais pobres e os muito ricos continuou exacerbada. A
diferença entre a massa de rendimentos da população incluída entre o 1,0% mais
rico e aquela percebida pelos 10% mais pobres chegou a 15,2 vezes na média
brasileira e a 6,0 vezes em Goiás.

·  

outras diferenças entre Goiás e o restante do País quando se consideram as duas
faixas de rendimentos. Além da menor distância relativa, que ainda assim tem se
mantido ao longo dos anos, no Estado a massa de rendimentos dos 10% de menor
renda subiu de forma mais intensa, numa variação de 35,1% entre 2012 e 2018. No
mesmo intervalo, a massa de rendimentos do 1% mais rico aumentou 30,8%.

Na média do Brasil, o 1% mais rico acumulou um
ganho de 60,5%, o que se compara com uma variação de 34% para os 10% mais
pobres. Isso se refletiu na divisão da massa por faixa de rendimentos. No
Brasil, apenas 1% da população detinha, no ano passado, 12,2% da soma total de
rendimentos (mesmo índice de 2012), participação que havia recuado em Goiás
para 8,6% (diante de 10,8% em 2012).