Concentração de renda entre os super ricos atinge novo recorde histórico
A renda dos muito, mas muito ricos mesmo, com ganhos médios – médios – de R$ 441,29 mil ao mês, experimentou um salto de 87% entre 2017 e 2022, quase três vezes maior do que o avanço de 33% acumulado em igual período pelos 95% dos brasileiros com renda média mensal ao redor de R$ […]
A renda dos muito, mas muito ricos mesmo, com ganhos médios – médios – de R$ 441,29 mil ao mês, experimentou um salto de 87% entre 2017 e 2022, quase três vezes maior do que o avanço de 33% acumulado em igual período pelos 95% dos brasileiros com renda média mensal ao redor de R$ 3,68 mil. No primeiro caso, em 2017, a renda média aproximava-se de R$ 235,89 mil, diante de R$ 2,62 mil recebidos por 95% da população com 18 anos ou mais de idade. O abismo entre os dois extremos, que já era expressiva lá atrás, alargou-se ainda mais, com o ganho mensal médio dos super ricos superando a renda dos 95% mais pobres em 119,8 vezes. Essa diferença, em 2017, havia alcançado 90,1 vezes.
Essa discrepância, “ao que tudo indica, a ser confirmado por estudos complementares, elevou o nível de concentração de renda no topo da pirâmide para um novo recorde histórico, depois de uma década de relativa estabilidade da desigualdade”, registra o economista Sérgio Wulff Gobetti, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em nota técnica divulgada na terça-feira, 16, no Observatório de Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
O objetivo da nota, segundo o pesquisador, é abrir ao público, ou “socializar”, como prefere o autor, resultados ainda preliminares de “análises realizadas sobre os dados divulgados recentemente pela Receita Federal relativos às declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF)”. As iniquidades observadas a partir daqueles dados sugerem que os níveis de concentração da renda e das riquezas no Brasil parecem ser ainda mais dramáticos do que aqueles já conhecidos e surgem num momento em que a discussão sobre um ajuste fiscal regressivo, que penalizará os mais pobres e que mais dependem do Estado, ganha ainda maior força, utilizando como pretexto o suposto interesse em conter um déficit falsamente explosivo nas contas do governo.
Mais discrepâncias
Os mecanismos que alimentam a concentração da renda (e da riqueza) incluem a rede de isenções e de subtributação dos ganhos entre os mais ricos, o que tem gerado uma situação esdrúxula e contribuído para agravar as desigualdades nesta área. “O que se vê é que, além dos mais ricos terem, em média, maior crescimento de renda do que a base da pirâmide, a performance é tanto maior quanto maior é o nível de riqueza”, observa Gobetti. Enquanto para 95% dos brasileiros a renda foi elevada em 33% entre 2017 e 2022, conforme já registrado, os rendimentos daqueles colocados entre os 5% mais ricos avançou 51%, com aumentos de 67% para quem alcançou o grupo do 1% com maiores rendas. “Entre os 15,4 mil milionários que compõem o 0,01% mais rico, (o aumento da renda) foi maior ainda”, prossegue o pesquisador, num salto de 96%.
Balanço