Consultas ao BNDES dobram em Goiás, num salto enganoso no 2º tri deste ano
A intenção de investimentos do empresariado goiano parece ter ganho novo fôlego a partir do segundo trimestre deste ano, explicado mais especificamente por um salto registrado em maio para o valor das consultas submetidas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O comportamento, até aqui, não parece configurar ainda uma tendência firme de retomada do interesse em investir em novos projetos, como mostram os dados do banco de fomento, considerando que a melhora observada ficou concentrada em um único mês.
No primeiro trimestre, em valores nominais, ou seja, sem atualização inflacionária, as consultas ao BNDES em Goiás haviam despencado 66,1% na comparação com os primeiros três meses do ano passado, encolhendo de R$ 1,292 bilhão para aproximadamente R$ 437,4 milhões. Cabe lembrar que as consultas ao longo de 2024 já haviam sofrido baixa de quase 49%, com tombo de 78,9% no trimestre final daquele ano. De certa forma, os dados iniciais de 2025 pareciam confirmar uma tendência de retração, na sequência de números muito negativos nos meses finais de 2024.
No segundo trimestre, as estatísticas divulgadas na sexta-feira (22) pelo BNDES mostraram um salto de 102,63% no valor das consultas acumuladas entre abril e junho deste ano em relação ao mesmo período de 2024, passando de R$ 991,061 milhões para R$ 2,008 bilhões. No entanto, quase 68% das consultas ocorreram apenas em maio, que concentrou um total de R$ 1,365 bilhão – cinco vezes mais que em maio do ano passado, quando ficaram em torno de R$ 272,541 milhões. Excluído o dado de maio, as consultas realizadas em abril e junho somaram R$ 643,27 milhões, o que representa queda de 10,47% frente aos mesmos dois meses de 2024, quando haviam alcançado R$ 718,52 milhões.
No semestre
O incremento vigoroso registrado em maio ajudou a puxar o resultado de todo o primeiro semestre, gerando avanço acumulado de 7,13% diante dos números de igual período do ano passado. Entre janeiro e junho deste ano, empresas goianas ou instaladas no Estado encaminharam ao BNDES propostas de crédito num total de R$ 2,446 bilhões, frente a R$ 2,283 bilhões na primeira metade de 2024 – cerca de R$ 162,671 milhões a mais. Sem o impacto de maio, no entanto, haveria uma queda de 46,24%, com as consultas reduzidas de pouco mais de R$ 2,010 bilhões para pouco menos de R$ 1,081 bilhão. Essa comparação não parece sustentar, por enquanto, uma tendência de retomada.
Balanço setorial
Por setor de atividade, considerando os números acumulados nos seis meses iniciais de cada exercício, as consultas tiveram melhor desempenho no comércio e serviços, com salto de 71,0%, passando de R$ 464,0 milhões para R$ 794,0 milhões. Houve alta de 19,8% na agropecuária, de R$ 533,0 milhões para R$ 639,0 milhões, numa reação frente à retração de 30,7% registrada no primeiro semestre do ano passado. Já a indústria reduziu em 38,7% o valor das consultas, de R$ 830,0 milhões para R$ 508,0 milhões. No mesmo período de 2024, esse setor havia triplicado o montante em relação a 2023, o que ajuda a explicar o retrocesso atual.
No setor de infraestrutura, a melhora registrada até junho deste ano não foi suficiente para compensar a perda de 83,8% em 2024. Ainda assim, as consultas cresceram 10,7% frente ao primeiro semestre do ano passado, passando de R$ 455,0 milhões para R$ 504,0 milhões. Na comparação com os R$ 2,811 bilhões alcançados nos seis primeiros meses de 2023, porém, ainda há retração de 82,1%. Esse número de 2023 parece ter sido “fora da curva”, já que representou aumento de 1.128,5% em relação a 2022.
Os serviços de utilidade pública, que incluem empresas de saneamento básico, limpeza e tratamento de resíduos, mantiveram o ciclo de forte crescimento. As consultas já haviam quintuplicado no primeiro semestre de 2024, embora sobre valores baixos, passando de R$ 5,0 milhões em 2023 para R$ 24,0 milhões no ano seguinte. Em 2025, o crescimento foi ainda mais impressionante: 937,9%, com o valor das consultas atingindo R$ 245,0 milhões.
Já o transporte rodoviário apresentou queda de 59,3% nas consultas, saindo de R$ 353,0 milhões para R$ 144,0 milhões. Em compensação, o setor de energia mostrou recuperação de 77,0%, com aumento das consultas de R$ 57,0 milhões para R$ 101,0 milhões. Apesar disso, os valores continuam tímidos quando comparados aos R$ 2,441 bilhões registrados na primeira metade de 2023, que haviam puxado o desempenho da infraestrutura naquele ano.
Desembolsos
Embora as consultas na área de energia sigam modestas, o setor liderou o crescimento dos desembolsos do BNDES em Goiás no primeiro semestre deste ano. No total, foram desembolsados R$ 1,481 bilhão, frente a R$ 1,106 bilhão nos seis meses iniciais de 2024, numa alta de 34,0%, o que compensou a perda de 5,9% registrada entre o primeiro semestre de 2023 e o mesmo intervalo de 2024. O avanço foi integralmente concentrado no setor de energia, cujos desembolsos saltaram de R$ 2,683 milhões para R$ 644,896 milhões – um aumento de 23.939%. A base comparativa, contudo, era muito baixa. Um único projeto, provavelmente contratado pela atual concessionária de distribuição de energia elétrica, levou R$ 300,0 milhões.
Na indústria, onde os desembolsos haviam recuado pela metade no primeiro semestre do ano passado, houve alguma recuperação: de R$ 156,0 milhões para R$ 215,0 milhões, em alta de 37,6%. O movimento, no entanto, não foi suficiente para eliminar a defasagem frente aos R$ 314,0 milhões desembolsados no mesmo período de 2023, configurando ainda retração de 31,5%. Já na agropecuária e no comércio e serviços, os desembolsos recuaram 25,9% e 31,1%, respectivamente, na comparação com o primeiro semestre de 2024.