Crédito do BNDES para a indústria de transformação cresce 48% até setembro

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de novembro de 2023

Embora o desempenho geral dos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a indústria goiana como um todo tenha sido muito negativo no terceiro trimestre, num tombo de 61,3% como mostrado aqui (O Hoje, 24/11/2023), em aparente desalinho em relação à tendência sugerida pelo avanço de 6,2% na produção industrial no período, o resultado acumulado no ano mostra um saldo ainda bastante positivo. Nitidamente, um comportamento impulsionado pelos números muito melhores registrados nos meses iniciais deste ano, o que não anula a piora ocorrida no período mais recente.

De toda forma, em valores nominais, os desembolsos destinados à indústria goiana de transformação subiram de R$ 374,630 milhões nos nove primeiros meses do ano passado para R$ 554,141 milhões no acumulado em igual período deste ano, correspondendo a uma variação de 47,92%. A indústria extrativa recebeu R$ 14,250 milhões entre janeiro e setembro deste ano, num avanço de 9,62% em relação a desembolsos de R$ 12,999 milhões em idêntico período do ano passado.

Na soma geral, a indústria contratou e recebeu perto de R$ 568,391 milhões até setembro deste ano, o que representa alta de 46,63% na comparação com os R$ 387,629 milhões desembolsados pelo BNDES em favor do setor ao longo dos nove meses iniciais de 2022. Para comparação, no primeiro semestre, havia sido registrado um salto de 72,93%, já que os desembolsos avançaram de R$ 313,926 milhões para R$ 542,876 milhões respectivamente no primeiro semestre de 2022 e nos mesmos seis meses deste ano.

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Alimentação na liderança

O incremento observado até setembro deste ano esteve concentrado integralmente na indústria de alimentos e bebidas, predominando os desembolsos para compra de bens de capital destinados a plantas industriais de Goianésia com atuação no mesmo setor. No total, fabricantes de bens alimentícios e bebidas receberam do BNDES ao redor de R$ 287,692 milhões entre janeiro e setembro deste ano, o que se compara com apenas R$ 22,560 milhões em igual intervalo de 2022. Em termos nominais, com valores ainda não corrigidos com base na inflação decorrida no período, os desembolsos nesta área cresceram 1.175,2% – especialmente porque a base para comparação era muito reduzida. Na comparação entre os mesmos períodos de 2022 e de 2023, a indústria de alimentos recebeu R$ 265,132 milhões a mais e respondeu por 50,62% do total de recursos desembolsados pelo BNDES para o conjunto da indústria no Estado.

Balanço

  • Com a exclusão da indústria de bens alimentícios e bebidas, os ramos restantes do setor industrial goiano contrataram e receberam perto de R$ 280,699 milhões entre janeiro e setembro deste ano, num tombo de 23,11% em relação a desembolsos muito próximos de R$ 365,069 milhões nos mesmos nove meses do ano passado, correspondendo a uma retração de R$ 84,370 milhões.
  • Três operações ainda no setor de alimentos, envolvendo a aquisição de bens de capital (máquinas, equipamentos, instalações industriais), receberam perto de R$ 259,491 milhões do BNDES, representando em torno de 90,2% do total desembolsado para toda a indústria alimentícia no Estado nos primeiros nove meses deste ano. Elas foram responsáveis ainda por quase 98,0% do crescimento dos desembolsos no setor, já que não foram registradas operações semelhantes no mesmo período do ano passado.
  • Como já registrado, o desembolso total de recursos pelo banco de fomento em Goiás experimentou variação modesta de 8,98% no acumulado até setembro, considerando igual intervalo de 2022, saindo de R$ 2,307 bilhões para pouco menos de R$ 2,515 bilhões, num acréscimo de R$ 207,138 milhões. A qualificação adotada acima justifica-se quando se compara o crescimento de quase 20% experimentado pelo total de desembolsos em todo o País.
  • A variação observada em Goiás deveu-se em grande parte ao comportamento dos desembolsos para empresas de médio porte e principalmente entre aquelas do setor agropecuário. Não por coincidência, aqueles dois setores – alimentos e agropecuária – registram em Goiás participação acima da média brasileira em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Para comparação, numa estimativa da Tendências Consultoria Integrada, a fatia da agropecuária no PIB aproxima-se de 14,5% no Estado, diante de uma participação de 6,0% na média de todo o País.
  • Os desembolsos destinados às médias empresas, na soma de todos os setores de atividade, mais do que triplicaram neste ano, saltando de R$ 785,503 milhões nos nove meses iniciais de 2022 para R$ 965,271 milhões até setembro deste ano. Nominalmente, o volume de recursos injetados no segmento aumentou 228,85%, agregando mais R$ 179,768 milhões a esse tipo de operação – o que significa dizer que as médias empresas foram responsáveis por 86,8% do aumento geral dos desembolsos em Goiás, muito embora sua participação no total tenha se limitado a 38,39% (superando a fatia de 34,04% registrada no ano passado).
  • As médias empresas do setor agropecuário receberam R$ 512,470 milhões do BNDES entre janeiro e setembro deste ano, representando um aumento de 48,24% em comparação com R$ 345,701 milhões em igual período de 2022, ou seja, R$ 166,769 milhões a mais. Para comparação, o acréscimo nos desembolsos para médias empresas da agropecuária correspondeu a 80,51% da variação acumulada para o total dos desembolsos na comparação com o ano passado.
  • Para completar, portanto, além de ter sofrido queda vertical no terceiro trimestre, o desembolso tem sido puxado por empresas de setores de baixa complexidade e pouca interação com o restante da economia.