Coluna

Crise sanitária explica parcialmente queda da indústria goiana em março

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 15 de maio de 2020

A
crise sanitária detonada pela pandemia de coronavírus explica apenas em parte
os maus resultados da indústria goiana em março e prenuncia números ainda
piores para abril, diante das restrições impostas à movimentação de pessoas e
às medidas de isolamento social para tentar gerenciar o avanço das contaminações
e das mortes. Como já anotado neste espaço, março registrou praticamente duas
semanas de afastamento social, medida adotada de forma mais prolongada em
abril, muito embora o governo estadual tenha iniciado um processo de
afrouxamento das restrições na semana iniciada em 20 de abril.

A
retomada das atividades na indústria, ainda que parcial, certamente não ocorreu
de forma automática e nem generalizada, o que tende a comprometer os resultados
do setor no mês passado. Principalmente quando se considera que a atividade
vinha em desaquecimento nos meses anteriores. A pesquisa regional da produção
industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra,
por exemplo, que o setor em Goiás registrou perdas mensais de 3,4%, 1,0% e 1,5%
dezembro de 2019, janeiro e fevereiro deste ano, baixando 1,2% em março, sempre
na comparação com o mesmo mês do ano imediatamente anterior.

Mês
a mês, a produção avançou 1,6% de dezembro para janeiro, mas ficou estagnada em
fevereiro (com crescimento zero, conforme a pesquisa, repetindo os níveis do
primeiro mês do ano). Em março, a pesquisa aponta retração de 2,8% frente a
fevereiro, o que se compara com a queda de 9,1% registrada pela produção
industrial em todo o País. Na comparação com os demais Estados e regiões
acompanhadas pelo IBGE, a indústria goiana foi a terceira “menos pior” no mês.

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Puxada
pela produção de fosfato, pedras calcárias e brita, a indústria extrativa
mineral avançou 2,3% em março, comparado a igual período de 2019. Note-se que
os dois primeiros segmentos estão ligados diretamente ao agronegócio, setor que
tem se saído melhor na crise e promete entregar números positivos neste ano
(com exceção provável para a indústria sucroalcooleira, atingida em cheio pela
queda no consumo de combustíveis e baixa nos preços do etanol).

Surpresa
negativa

A
indústria de transformação, por sua vez, encolheu 1,4% em março, depois de
anotar perdas de 1,0% e 2,0% em janeiro e fevereiro (em relação aos mesmos
meses de 2019). Os piores números no mês foram registrados pelas indústrias de
metalurgia e de veículos, embora a fabricação de produtos alimentícios,
surpreendentemente, não tenha contribuído para aliviar o cenário. Neste caso, a
expectativa era de algum crescimento diante da maior demanda nos supermercados
(como mostraram os dados das vendas no setor anunciados na quarta-feira pelo
IBGE). A produção não avançou, manteve-se estagnada, depois de quedas de 4,3% e
de 8,1% em janeiro e fevereiro, o que sugere dificuldades que vão além daquelas
causadas pela pandemia.

Balanço

·  
Ainda
no setor de alimentos, o levantamento do IBGE mostra altas para a produção de
leite em pó e de óleo de soja em bruto em março, mas queda para carne bovina
fresca e resfriada, maionese e leite. No acumulado do primeiro trimestre, a
produção no setor sofreu retração de 4,1%, maior influência negativa para a
redução de 1,2% anotada pela produção da indústria como um todo no período.

·  
Tomando
março isoladamente, e mais uma vez comparando com o terceiro mês do ano
passado, as indústrias metalúrgicas e de veículos sofreram tombos de 21,8% e de
22,4%. A metalurgia vinha de um salto de 32,4% em janeiro, seguido de redução
de 9,4% em fevereiro. As montadoras, da mesma forma, vinham alternando bons e
maus momentos desde o ano passado e não fugiram do padrão neste ano, desabando
24,1% em janeiro, avançando 7,5% em fevereiro e voltando a despencar 22,4% em
março. No primeiro trimestre, as montadoras encolheram 13,7% e a metalurgia
registrou baixa de 4,4%.

·  
No
caso das montadoras, houve cortes na produção de automóveis bicombustíveis e
veículos de carga, mas avanço para automóveis a diesel. Na metalurgia, as
baixas foram puxadas pela menor produção de ouro em forma
bruta destinado à fabricação de joias e pela redução deferronióbio.

·  
O
terceiro pior desempenho veio da indústria de minerais não metálicos, com
perdas de 9,7% explicadas pela queda na produção de cimento, concreto e
pré-fabricados de cimento para a construção civil. O dado sinaliza números
igualmente negativos para o setor de construção como um todo, lembrando que os
não metálicos já haviam desacelerado seu ritmo de avanço entre janeiro e
fevereiro, saindo de alta de 6,9% para uma variação de apenas 0,3%.

·  
Também
por conta da influência positiva do agronegócio, a indústria de outros produtos
químicos apresentou alta de 17,1% em março, acumulando crescimento de 14,4% no
primeiro trimestre. O desempenho foi explicado pelo incremento na produção de
adubos e fertilizantes.

·  
A
indústria de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, que vinha de um tombo de
6,1% em fevereiro, recuou 0,4% em março, no que pode ser visto como uma melhora
relativa diante da maior demanda por medicamentos e outros produtos do setor
motivada pela pandemia.

·  
Os
números do IBGE para a indústria de biocombustíveis demonstram certas discrepâncias
em relação aos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP). Na visão do IBGE, houve alta na produção de biodiesel e
baixa na de etanol. Mesmo assim, a produção do setor como um todo avançou 7,9%
em março e 12,9% no primeiro trimestre.

·  
Para
a ANP, a produção de biodiesel de fato cresceu 30,8% frente a março do ano
passado, atingindo 75,3 milhões de litros. O volume de etanol produzido, na
mesma linha, aumentou 8,4% no mês, atingindo 91,8 milhões de litros.