Custo de transporte alcança marca histórica e supera 12% do PIB

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de agosto de 2021

Em alta desde 2012 por conta de gargalos históricos no setor, os custos logísticos já superam 12,0% do Produto Interno Bruto (PIB), diante de 7,6% nos Estados Unidos, afirma Maurício Lima, sócio diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Os transportes ficaram mais caros como proporção do PIB, muito embora o levantamento do instituto mostre uma redução nos custos de armazenagem e estocagem, relacionada basicamente à queda mais recente dos juros, o que havia barateado custos de capital antes que o Banco Central (BC) voltasse a puxar a taxa básica para cima novamente.

Na estimativa do Ilos, os custos de transporte de cargas teriam alcançado níveis históricos no ano passado, superando 7,8% do PIB, levemente acima de 7,7% em 2019. A alta do diesel, seguindo o avanço do petróleo no mercado internacional, e ainda a retração do PIB, afetando o denominador nessa conta, tiveram maior influência no curto prazo. Os preços do diesel chegaram a cair em média 4,5% na primeira metade de 2020, voltaram a subir no segundo semestre e, neste ano, detalha Lima, já acumulavam elevação de 20,8% até meados de junho. “Como os preços internacionais do barril de petróleo já haviam subido mais de 25,0% até ali, a pressão sobre os preços domésticos deverá se manter”, antecipa ele.

Como tendência geral, prossegue Lima, a demanda por transporte acompanha o desempenho da atividade econômica, mas a operação seguiu estável no ano passado e deve avançar 7,0% neste ano, batendo o recorde de 2014 na carga geral, sustentada pelo agronegócio e pela indústria de base, com destaque, entre outros, para cimento e produtos siderúrgicos. O e-commerce, diante das medidas de distanciamento social adotadas com maior rigor nos primeiros meses da pandemia, vem igualmente contribuindo para alavancar as atividades de transporte e armazenagem em áreas urbanas, sublinha ainda.

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Fretes mais caros

Além do diesel mais caro, o aumento do frete nas cargas agrícolas no pico da colheita da safra 2020/21, em março deste ano, resultou ainda de uma combinação desfavorável para a logística no setor, acrescenta Fernando Pauli De Bastiani, pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog). A falta de chuvas atrasou o plantio da soja no Centro-Oeste, que concentra pouco mais de 45,0% da produção nacional, e a colheita, que deveria ocorrer em janeiro, acabou se estendendo até o final de fevereiro e o início de março. “Houve uma concentração dos pontos de colheita com a entrada também da produção do Nordeste e do Paraná, com todos precisando de caminhões ao mesmo tempo”, observa Bastiani.

Balanço

  • Os dados do EsalqLog mostram saltos de 39,0%, 55,0% e de 58,0% nos custos médios do frete para a soja, respectivamente, entre Sorriso (MT) e Itaituba (PA), de Sorriso para Rondonópolis, também em Mato Grosso, e de Cascavel para Paranaguá, na comparação entre março deste ano e o mesmo mês do ano passado. O escoamento da segunda safra de milho, mesmo com perdas estimadas em pouco mais de 8,0 milhões de toneladas em relação ao ciclo 2019/20, na previsão mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), tende a manter os custos de frete sob pressão até agosto ou setembro, acredita Bastiani.
  • Neste cenário, a Lei 13.703/2018, que criou a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas na sequência da paralisação dos caminhoneiros em maio daquele ano, “caiu meio em desuso” e corre risco de se tornar mais uma “lei que não pegou”, sugere Lima. No mercado de cargas, anota aindaBastiani, “oferta e procura têm predominado, até porque é muito difícil para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) fiscalizar a aplicação da tabela de fretes”.
  • Desde o início, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) classificou como “absurda” a decisão de impor ao mercado um valor mínimo de frete, relembra Sérgio Mendes, diretor geral da entidade.  O trabalho posteriormente realizado pelo EsalqLog, que desenvolveu nova metodologia para fixar o preço de frete, conseguiu colocar a tabela mais próxima dos valores de mercado. “Não posso afirmar, hoje, que isso esteja prejudicando os exportadores de alguma forma”, comenta Mendes.
  • O diretor geral da Anec lembra que os exportadores de cereais movimentam em torno de 120,0 milhões de toneladas de soja em grão, farelo de soja e milho, o que requer anualmente em torno de 3,8 milhões de viagens de caminhão, além de mobilizar uma frota de 2,2 milhões de navios Panamax. “Apesar do grande volume, o setor opera com margens líquidas entre 0,5% e 1,0% e, por isso, tem que trabalhar no unitário para reduzir custos na operação”, sustenta ele.
  • A crescente utilização dos portos localizados no chamado Arco Nortetem ajudado a reduzir custos na exportação de grãos, conforme Mendes. Os dados da ANTT apontam que um terço das exportações brasileiras de milho e soja deixaram o país pelos portos da região, correspondendo a 37,6 milhões de toneladas no ano passado. Desde 2010, os embarques pelo Arco Norte registraram taxa média de crescimento anual de 19,9% diante de quase 4,2% nos demais portos do país. “A região está retirando praticamente 1,0 milhão de caminhões que iriam para Santos a cada ano, com ganho por tonelada acima de R$ 86 no caso da soja, na comparação entre Sorriso ao porto paulista e de Sorriso a Santarém (PA)”, calcula Mendes. Segundo a Anec, o custo sairia de R$ 305 por tonelada na média do primeiro trimestre deste ano no trajeto até Santos para R$ 219 na rota pelo Norte.