Custo logístico no Brasil supera 12% do PIB, 58% mais caro que nos EUA

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de julho de 2021

As distorções causadas pelo baixo investimento em infraestrutura no País terminaram por consolidar os gargalos históricos enfrentados pela logística de transporte e escoamento de cargas desde os principais polos de produção agrícola até os portos, impondo custos excessivos e desnecessários a toda a economia eao agronegócio em particular, retirando competitividade dos produtos brasileiros lá fora. Os custos da logística sobem continuamente pelo menos desde 2012, por conta precisamente do investimento muito reduzido, sustenta Maurício Lima, sócio diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), e já superam a marca de 12,0% do Produto Interno Bruto (PIB), o que se compara com 7,6% nos Estados Unidos. A operação logística no Brasil sai, portanto, quase 58,0% mais cara do que nos EUA, se consideradas as proporções informadas pelo instituto.

Essa despesa inclui não apenas o transporte de cargas em todo o País, mas também custos de armazenamento, distribuição, estocagem e todas as demais etapas até a chegada do produto ao seu destino final, incluindo fretes marítimos no caso da exportação. Embora o levantamento do instituto mostre uma redução nos custos de armazenagem e estocagem, relacionada basicamente à quedamais recente dos juros, barateando custos de capital, os transportes ficaram mais caros como proporção do PIB.

Na estimativa do Ilos, os custos de transporte de cargas teriam alcançado níveis históricos no ano passado, superando 7,8% do PIB, levemente acima de 7,7% em 2019. A alta do diesel, seguindo o avanço do petróleo no mercado internacional, e ainda a retração do PIB, afetando o denominador nessa conta, tiveram maior influência no curto prazo. Os preços do diesel chegaram a cair em média 4,5% na primeira metade de 2020, voltaram a subir no segundo semestre e, neste ano, detalha Lima, já acumulavam elevação de 20,8% até meados de junho. “Como os preços internacionais do barril de petróleo já haviam subido mais de 25,0% até ali, a pressão sobre os preços domésticos deverá se manter”, antecipa ele.

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Muito além do PIB

Os números mais atuais do Ilos mostram que o custo de transporte de cargas no Brasil experimentou um salto de 141,8% entre 2010 e 2019, pulando de R$ 232,0 bilhões, em grandes números, para R$ 561,0 bilhões. Medido em valores correntes, o PIB brasileiro apresentou evolução mais modesta, subindo 90,6% naquele mesmo intervalo, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na média anual, agora considerando o período entre 2004 e 2019, o Ilos aponta variação de 10,0% para esse tipo de custo, quadruplicados no período, em valores nominais.

Balanço

  • Como tendência geral, prossegue Lima, a demanda por transporte acompanha o desempenho da atividade econômica, mas os números do setor seguiram estáveisno ano passado e devem apontar avanço de 7,0% neste ano, batendo o recorde de 2014 na carga geral, sustentada pelo agronegócio e pela indústria de base, com destaque, entre outros, para cimento e produtos siderúrgicos. O e-commerce, diante das medidas de distanciamento social adotadas com maior rigor nos primeiros meses da pandemia, vem igualmente contribuindo para alavancar as atividades de transporte e armazenagem em áreas urbanas, destaca ele.
  • Além do diesel mais caro, o aumento do frete nas cargas agrícolas no pico da colheita da safra 2020/21, em março deste ano, resultou ainda de uma combinação desfavorável para a logística no setor, acrescenta Fernando Pauli De Bastiani, pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog). A falta de chuvas atrasou o plantio da soja no Centro-Oeste, que concentra pouco mais de 45,0% da produção nacional, e a colheita, que deveria ocorrer em janeiro, acabou se estendendo até o final de fevereiro e o início de março.
  • “Houve uma concentração dos pontos de colheita com a entrada também da produção do Nordeste e do Paraná, com todos precisando de caminhões ao mesmo tempo”, observa Bastiani. Os dados do EsalqLog mostram saltos de 39,0%, 55,0% e de 58,0% nos custos médios do frete para a soja, respectivamente, entre Sorriso (MT) e Itaituba (PA), de Sorriso para Rondonópolis, também em Mato Grosso, e de Cascavel para Paranaguá, na comparação entre março deste ano e o mesmo mês do ano passado. O escoamento da segunda safra de milho, mesmo com perdas estimadas em pouco mais de 8,0 milhões de toneladas em relação ao ciclo 2019/20, na previsão mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), tende a manter os custos de frete sob pressão até agosto ou setembro, acredita Bastiani.
  • Neste cenário, a Lei 13.703/2018, que criou a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas na sequência da paralisação dos caminhoneiros em maio daquele ano, “caiu meio em desuso” e corre risco de se tornar mais uma “lei que não pegou”, sugere Lima. No mercado de cargas, anota aindaBastiani, “oferta e procura têm predominado, até porque é muito difícil para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) fiscalizar a aplicação da tabela de fretes”.
  • A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) sempre classificou como “absurda” a decisão de impor ao mercado um valor mínimo de frete, relembra Sérgio Mendes, diretor geral da entidade. Ainda que o trabalho posteriormente realizado pelo EsalqLog tenha amenizado as disparidades em relação ao mercado, a aplicação da tabela de fretes continua polêmica, ainda que quase sempre prevaleçam as condições de mercado. “Não posso afirmar, hoje, que isso esteja prejudicando os exportadores de alguma forma”, comenta Mendes.