Custos logísticos tendem a bater recorde, superando 13% do PIB

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 05 de agosto de 2022

Os custos logísticos no País tendem a alcançar “recorde total da série histórica” neste ano, aproximando-se de algo em torno de 13,3% do Produto Interno Bruto (PIB), frente a 12,6% registrados em 2020, projeta Maurício Lima, sócio-diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). A previsão considera fatores como o aumento nos custos de capital, o que encareceu o carregamento de estoques, a escalada nos preços do diesel desde o ano passado e seu impacto sobre os custos de transporte, além da expectativa de baixo crescimento para o PIB, afetando o denominador nessa conta.

As estimativas ainda não estão inteiramente fechadas, acrescenta Lima, “mas não há dúvidas de que os custos têm subido mesmo e são desproporcionais ao tamanho de uma economia como a brasileira”. Item de maior peso na composição dos custos logísticos, o transporte de cargas tende a elevar sua participação de 8,3% em 2020 para 8,6% neste ano.

Os aumentos sequenciais decretados pela Petrobrás para o diesel ganham relevância em função da dependência elevada do País em relação aos caminhões no transporte de cargas. Os dados do Ilos mostram que o modal rodoviário havia respondido por 62,0% de todas as cargas transportadas em 2021, somando algo como 1,240 bilhão de toneladas por quilômetro útil (TKU), um volume histórico, cerca de 8,6% maior do que em 2020. “O produtor agrícola já vinha enfrentando cenário de elevação nos custos do diesel, mas, neste ano, o desafio tornou-se maior”, afirma Thiago Rodrigues, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

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No ano passado, enumera ele, foram 12 rodadas de aumentos decididos pela petroleira, acumulando alta nas refinarias de 53,0%, diante de quatro reajustes decretados até junho deste ano, numa elevação ainda mais significativa, próxima a 68,0%. “Foi um sinal de alerta para os produtores que não fecharam antecipadamente a compra de combustíveis”, considera Rodrigues. O milho de segunda safra, que registrava 11% da área já colhida até junho, e o trigo, com plantio de 55% da área esperada para este ano, estavam entre as culturas potencialmente mais afetadas. As atividades de plantio, segundo o assessor, consomem, em média, entre cinco a seis litros de diesel por hora, frente a três ou cinco litros na colheita.

Custo em dobro

No modelo definido pela CNA, parte do projeto Campo Futuro, destinado a gerar informações para a agropecuária, o custo do diesel da porteira para dentro registrou alta em torno de 49,0% “para um produtor que já sofre com o encarecimento dos fertilizantes”, anota Rodrigues, lembrando que os gastos com diesel respondem por 3,0% a 6,0% do custo final da soja. Em outro efeito mencionado por ele, os fretes cobrados a curta distância, entre as fazendas e os armazéns, mais do que dobraram na região de Rio Verde, no sudoeste goiano, saindo de R$ 29 para R$ 61,50 por tonelada de soja carregada na comparação com o ano passado, num salto de 112%.

Balanço

  • Nas séries históricas de dados consolidados pelo Ilos, retoma Lima, os preços do petróleo estavam, até junho, muito próximos dos valores registrados em 2012 e 2013, quando o barril variou entre US$ 109 e US$ 111 em dezembro de cada ano. Na média de junho, chegou perto de US$ 113, subindo 52,7% frente a dezembro de 2021, pressionado pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Convertido em reais, os preços aumentaram 38,2% na mesma comparação. Já o preço médio do diesel ao consumidor final experimentou elevação de 29,7% e mais do que dobrou desde 2016.
  • Até 2020, o preço do diesel respondia por 27% do custo do frete rodoviário, proporção elevada para 30% no ano passado. Para este ano, Lima calcula que o diesel passará a responder por 36% do frete, no pior ano da série, iniciada em 2006.
  • Fernando Pauli De Bastiani, pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog), identifica uma ruptura no mercado de fretes agrícolas neste ano. Na sua avaliação, o segmento sempre foi fortemente influenciado pelo comportamento da oferta e da demanda, mas, entre o final do ano passado e o início deste, registrou-se uma mudança na precificação dos fretes, como consequência da alta vigorosa do diesel.
  • No início da safra de verão, mesmo diante da quebra na produção de soja na região Sul do País, os preços do frete para algumas rotas atingiram níveis históricos. Nos dados da EsalqLog, o custo para transporte de uma tonelada de soja entre a região de Sorriso e Rondonópolis, no Mato Grosso, subiu 56,5% na comparação entre maio deste ano e o mesmo mês do ano passado, saindo de R$ 105,39 para R$ 164,96. Na rota entre Sorriso e Itaituba (PA), prossegue Bastiani, a alta foi menos intensa, mas ainda representativa, com o custo elevando-se de R$ 208,70 para R$ 267,39, correspondendo a uma variação de 28,1%. Entre maio do ano passado e igual mês de 2020, considerando as mesmas rotas, o frete havia subido 4,8% e 13,75% respectivamente.
  • A CNA, afirma Rodrigues, registrou aumentos de magnitude semelhante em outros polos de produção agrícola no Centro-Oeste. Saindo de Querência (MT) para o porto de Santos, aponta ele, o custo de transporte de uma tonelada de grãos aumentou de R$ 290 para R$ 420 entre maio de 2021 e igual mês deste ano, subindo 44,8%. O transporte de igual volume desde Rio Verde (GO) a Santos ficou 50% mais caro. Nos cálculos de Bastiani, ao considerar trechos de mil quilômetros, os preços do diesel passaram a responder por 40% a 50% do custo de transporte, comparado a algo entre 30% a 40% no ano passado.
  • O encarecimento do frete alterou ainda a relação de trocas na pecuária, constata Rodrigues. Até maio do ano passado, um produtor de leite precisava vender 1,9 litros de seu produto para comprar um litro de diesel. Em junho deste ano, cada litro de diesel exigiu a venda de 2,9 litros de leite. A perda para confinadores de gado chegou a 57%. Até junho de 2021, o confinador conseguia comprar 70,8 litros de diesel com a venda de uma arroba de boi gordo, em igual período deste ano, a relação desabou para 44,8 litros.