Coluna

Dados de abril sinalizam perdas severas para o PIB no 2º trimestre

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 18 de junho de 2020

Lauro Veiga

Todos
os fatores considerados, a economia ensaia um tombo recorde no segundo
trimestre do ano, em Goiás e no resto do País. Os números de abril, com exceção
para a produção na indústria goiana, influenciada pelo comportamento dos
setores de alimentos, biocombustíveis, medicamentos e extração mineral, vieram
tão negativos quando se antecipava e mesmo um tanto mais ruins do que as
previsões apontavam. Numa estimativa mais geral, o dado final para abril do
Indicador de Atividade Econômica da Fundação Getúlio Vargas (IAE- FGV),
anunciado ontem, sugere retração de 8,8% para a atividade econômica em todo o
País, na comparação com março, fechando o trimestre móvel encerrado em abril
com baixa de 5,8% frente aos três meses imediatamente anteriores.

Em
Goiás, de forma mais específica, a pesquisa mensal do comércio, divulgada na
terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já
havia mostrado redução nos volumes vendidos pelo varejo de 15,8% de março para
abril, ficando 19,6% abaixo dos níveis de abril do ano passado, com perdas
respectivamente de 19,5% e de 24,1% para o chamado “varejo ampliado”. Nesta
classificação, como se sabe, o IBGE inclui, além das lojas tradicionais do
varejo, as concessionárias de veículos, motos e autopeças e as lojas de
materiais de construção.

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A
pesquisa mensal de serviços, liberada ontem à imprensa pelo mesmo IBGE, apenas
confirma os resultados muito mais negativos observados para o setor, um dos
mais atingidos pelas medidas de isolamento e distanciamento. A atividade
registrou quedas menos vigorosas do que aquelas registradas pelos serviços em
todo o País, mas as perdas não foram desprezíveis. Ao contrário. Na comparação
com março, os serviços encolheram 9,4% em abril no Estado, frente a uma
retração de 11,7% na média brasileira, a mais severa desde o início da série
histórica do IBGE sobre o setor, em janeiro de 2011. Em relação a abril do ano
passado, no entanto, o tombo foi praticamente o mesmo e as atividades de
serviços desabaram 17,0% no Estado e 17,2% no País como um todo.

Riscos adiante

Portanto,
o prejuízo foi grande e quase generalizado. Para comparação, em apenas quatro
meses, os serviços tiveram uma perda acumulada de 4,5% no País, o que
praticamente se equipara à retração de 5,0% observada nos 12 meses de 2016 (até
ali, o pior desempenho na série mais recente de dados do IBGE). O retrocesso
inicia-se ainda antes da pandemia, em fevereiro, o que levou a uma redução de
6,4% em Goiás, igualmente na comparação entre o acumulado dos quatro primeiros
meses deste ano e o mesmo intervalo de 2019. Os serviços, incluindo o segmento
de comércio e reparação de veículos, respondem por algo em torno de 67% de tudo
o que se produz em Goiás, resumido no Produto Interno Bruto (PIB). Nessa
composição, o comércio representa pouco mais de um quinto do PIB dos serviços. Maio
deve trazer números menos ruins, mas na comparação com abril, quando os
resultados foram extremamente negativos. Até o momento, esse tipo de oscilação
dificilmente poderia ser classificado como uma “recuperação” de fato, sem
considerar os riscos de novos mergulhos ainda mais recessivos dado os níveis de
incerteza presentes nos cenários político e econômico e da possibilidade ainda
não afastada de um agravamento adicional da pandemia, o que obrigaria o País a
adotar medidas de afastamento mais duras.

Balanço

·  
Dificilmente
a indústria e a agropecuária, que respondem em conjunto por quase um terço do
PIB, terão fôlego para compensar as perdas no setor de serviços. Seria preciso
que os dois setores combinados apresentassem taxas de crescimento ao redor de
6,5% neste ano para simplesmente manter o PIB estagnado frente a 2019,
imaginando uma retração de apenas 3,1% para os serviços (que foi o resultado
acumulado pelo setor nos 12 meses encerrados em abril).

·  
Em
grandes números, numa conta muito aproximada, uma queda naquelas proporções
traria um impacto negativo em torno de 2,0% para o PIB como um todo. Para
compensar a perda, indústria e agropecuária teriam que crescer a uma taxa
combinada próxima de 6,5% neste ano, o que não parece real até aqui.

·  
A
agropecuária tende a apresentar crescimento relativamente importante neste ano,
diante dos volumes recordes da safra agrícola. Mas sua contribuição para o PIB
gira em torno de 11,3% (nos dados de 2017, o mais recente disponível). A
participação da indústria, que vem caindo, atingiu 21,6% naquele ano (comparada
a 24,5% em 2015).

·  
Embora
a produção industrial tenha crescido 2,3% de março para abril, a variação
frente a 0,4% em relação ao quarto mês de 2019 não antecipa dias muito melhores
para o setor, que encerrou o primeiro quadrimestre com recuo de 0,7% (o que
sugere pistas para indicar como tem sido difícil a trajetória recente da
indústria aqui no Estado e em todo o País).

·  
Apenas
como exercício (totalmente infrutífero a esta altura dos acontecimentos),
suponham, raras leitoras e raros leitores, por um acaso pouco razoável, que a
indústria goiana consiga manter o crescimento de 2,6% acumulado nos 12 meses
encerrados em abril. A agropecuária teria que crescer qualquer coisa ao redor
de 15%, o que apenas ajudaria a “zerar” o PIB no ano.

·  
Claro,
trata-se de um exercício futurista com chances muito reduzidas de realização.
Um dos motivos está no fato de que a retração no setor de serviços no acumulado
do ano tende a ser maior do que a queda de 3,1% registrada até abril, além de
sobrarem dúvidas em relação à capacidade de a indústria preservar o ritmo de
crescimento anotado em 12 meses até abril passado.

·  
Resumindo
o resumo, os riscos de uma recessão em Goiás são muito concretos e as perdas
tendem a ser elevadas, com impactos muito duros para a
renda das famílias, com desemprego em alta, fechamento de empresas e queda de
receitas igualmente severas para as que sobreviverem.