Dados de novembro confirmam taxa de inflação dentro da meta neste ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de dezembro de 2023

A taxa média de variação dos preços pagos pelo consumidor com renda entre um e 40 salários mínimos voltou a desacelerar na quinzena final de novembro e caminha para fechar o ano abaixo do teto da meta inflacionária. A se confirmar, será a primeira vez em dois anos que a inflação estará comportadamente dentro dos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Caso a inflação de dezembro aproxime-se da taxa média registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no trimestre encerrado em novembro deste ano, algo em torno de 0,26%, a inflação deste ano tenderia a alcançar qualquer coisa ao redor de 4,31%.

Para relembrar, o centro da meta inflacionária foi fixada em 3,25% para este ano, com tolerância de 1,5 pontos percentuais para cima ou para baixo, o que define seus limites superior e inferior em respectivamente 4,75% 1,75%. Nas apostas do mercado financeiro, o IPCA de dezembro tenderia a se elevar para 0,45% diante de 0,28% em novembro, o que traria a inflação nos 12 meses deste ano para 4,48% – ainda abaixo do teto. Mesmo considerando, numa possibilidade mais pessimista, que o índice de dezembro deste ano possa repetir a inflação de igual período de 2022, quando a taxa havia atingido 0,62%, o IPCA acumulado em 2023 continuaria ligeiramente inferior ao teto, variando ao redor de 4,68%.

A série de dados do IBGE reafirma os diagnósticos e análises segundo as quais os preços têm mantido um comportamento positivo desde maio deste ano, com as pesquisas realizadas pelo instituto mostrando tendência a desaceleração das taxas mensais a partir de março. Para refrescar a memória, o IPCA chegou a seu nível mais elevado neste ano em fevereiro, quando havia atingido 0,84%, recuando ligeiramente para 0,71% em março e para 0,61% em abril. Com exceção da deflação colhida entre o final de junho e o início de julho, a inflação manteve-se ao redor de 0,25% entre agosto e novembro – o que corresponde a uma taxa anualizada até mesmo abaixo do centro da meta e apenas levemente acima de 3,0%.

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Teimosia programada

A esta altura, mesmo na visão dos mercados, parece claro que o Banco Central (BC) poderia acelerar os cortes nas taxas de juros básicas, reduzindo-as mais celeremente para níveis civilizados, de forma a reduzir os constrangimentos impostos à atividade econômica em geral e, mais especialmente, às decisões de investimento na economia. As expectativas do mercado, no entanto, sugerem que deverá ser mantido o roteiro antecipado desde o começo de agosto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC antecipou a decisão de adotar quatro cortes sucessivos de meio ponto percentual até dezembro. Hoje, o conselho deve anunciar, a se cumprir a programação antecipada pelo próprio Copom, mais um corte de meio ponto percentual, o que levaria os juros básicos para 11,75%. Descontada a inflação projetada pelo próprio mercado para 2024, ao redor de 3,93%, os juros a vigorar a partir desta quarta-feira corresponderiam a taxa real superior a 7,50% em 12 meses. No lado real da economia, dificilmente será possível encontrar um arranjo de investimentos produtivos que ofereça retorno tão elevado. A manutenção dos juros naqueles níveis poderá condenar o País a mais um ano de baixos investimentos.

Balanço

  • O IPCA de novembro recuou para 0,28% e ficou ligeiramente abaixo das apostas medianas dos mercados, que esperavam um índice mais próximo de 0,29%. A diferença é tão insignificante que, me geral, nem mereceria ser mencionada. Mas, como os mercados sempre buscam exacerbar expectativas quando a taxa supera suas projeções, a menção se justifica. Não que isso venha a fazer alguma diferença, já que o mais relevante é que a taxa encerrou a segunda quinzena do mês passado em desaceleração.
  • Para comparar, nos 30 dias finalizados em 14 de novembro, o IPCA-15 havia anotado variação de 0,33% sob efeito principalmente das altas de preços de alimentos mais sujeitos às intempéries geradas pelo fenômeno El Niño, a destacar verduras, hortaliças e legumes. A desaceleração no ritmo de alta dos custos da alimentação no domicílio explica boa parte da perda de velocidade do IPCA.
  • A taxa de variação dos preços dos alimentos consumidos em casa saiu de 1,06% na medição do IPCA-15 de novembro para 0,75% e sua influência na composição final do índice geral recuou de 48,1% para 40,4%. As tarifas residenciais da energia elétrica continuaram subindo, saindo de uma taxa de 0,42% no IPCA-15 do mês passado para 1,07% na medição final de novembro, respondendo sozinha por 15,4% da inflação “cheia”.
  • Isoladamente, o salto de 19,12% nos preços das passagens aéreas (muito próximo da alta de 19,03% observada nas quatro semanas finalizadas em 14 de novembro) foi responsável por pouco mais da metade do IPCA geral (numa conta menos imprecisa, uma contribuição de 51,3%). Aqueles dois focos de pressão inflacionária – a saber, energia e passagens aéreas – foram parcialmente compensados pela queda nos preços dos combustíveis, muito embora essa redução tenha perdido fôlego nas duas semanas finais de novembro, sugerindo algum movimento de recomposição dos preços, aparentemente sem sustentação, a se considerar decisão recente da Petrobrás de reduzir os preços do diesel nas refinarias.
  • Com a exclusão de alimentos no domicílio, passagens aéreas, energia e combustíveis, os demais preços apresentaram taxas de variação relativamente mais baixas nas quadrissemanas encerradas em 14 e em 30 de novembro, com variações de 0,12% e 0,09% respectivamente, o que parece reafirmar a tendência geral de desaquecimento das pressões inflacionárias.
  • Em Goiânia, observou-se movimento inverso, com a inflação saindo de 0,15% para 0,31% entre a primeira e a segunda quinzenas de novembro, sempre tomando as taxas mensais para cada intervalo. O avanço concentrou-se especialmente na alimentação no domicílio, com a inflação nesta área saindo de 1,21% para 1,51% (em tendência, portanto, inversa àquela observada no restante do País). Pesou ainda a redução menos intensa dos preços dos combustíveis, que haviam recuado 5,22% nas quatro semanas finalizadas em 14 de novembro e passaram a cair 1,98% nos 30 dias do mês passado. A contribuição negativa, que havia sido de 0,42 pontos percentuais, recuou para 0,16 pontos.
  • Ainda assim, excluindo-se do cálculo alimentos em domicílio, passagens aéreas, energia e combustíveis, os demais preços recuaram 0,06% diante de uma moderada elevação de 0,04% na medição do IPCA-15 de novembro.