Coluna

Dados do Cepea mostram que, desta vez, agronegócio poderá frear toda economia

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 26 de setembro de 2019

A possibilidade de o agronegócio ainda continuar funcionando como o grande motor da economia torna-se a cada mês mais distante, a se considerar o trabalho de acompanhamento do Produto Interno Bruto (PIB) do setor realizado periodicamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq). No conceito de “volume”, que incorpora o critério de preços constantes e se aproxima da metodologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para aferir o PIB do País, o setor flertou seriamente com a estagnação, ajudando a frear a atividade econômica como um todo no primeiro semestre deste ano.

Entre janeiro a junho deste ano, o PIB do agronegócio apresentou variação de apenas 0,15%, muito inferior ao já modesto crescimento de 0,74% identificado pelo IBGE para o conjunto da economia no primeiro semestre. O resultado semestral do agronegócio foi determinado por um recuo de 0,45% no PIB do setor agrícola e alta de 1,86% no setor pecuário, incluindo aqui a produção primária, os setores de produção de insumos (sementes, fertilizantes, defensivos, medicamentos veterinários e outros), a agroindústria de base agropecuária e setores de distribuição e de serviços associados ao setor.

O início da próxima safra, com a retomada efetiva do período chuvoso, pode vir a injetar algum ânimo a mais no agronegócio como um todo neste segundo semestre, mas não se deve esperar alguma reação mais relevante a ponto de estimular taxas de crescimento sensivelmente maiores para o PIB como um todo. A pecuária, influenciada principalmente pela alta das exportações, deverá manter taxas positivas. No setor agrícola, as vendas externas estão em baixa, influenciadas negativamente pela soja e seus derivados, açúcar e etanol, principalmente – a grande exceção fica por conta do milho, que tende a bater recorde de embarques neste ano, aproximando-se de 35,0 milhões de toneladas.

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Avanço modesto

No conceito “renda”, que inclui as variações de volume e de preço, adotado tradicionalmente pelo centro de estudos, o PIB do agronegócio recuou 0,80% em junho e encerrou o semestre com elevação de 0,53%, novamente com desempenho mais negativo do ramo agrícola, que recuou 0,74% em junho (na comparação com o mesmo mês de 2018) e acumulou perdas de 0,97% na primeira metade do ano. Depois de resultados mais positivos no início do ano, a pecuária sofreu baixa de 0,93% em junho, fechando o primeiro semestre ainda com alta de 4,65% em relação aos primeiros seis meses de 2018. Sob essa ótica, a metodologia do Cepea “reflete a renda real do setor”, considerandoas “variações de volume e de preços reais deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional”.

Balanço

·   Na agricultura, os piores resultados vieram do setor primário, ou seja, da porteira para dentro, com tombo de 7,71% no semestre. Os serviços diretamente relacionados ao setor agrícola recuaram 0,16% no período. Os resultados ruins foram apenas parcialmente compensados pela alta de 1,09% acumulada pela agroindústria e pelo salto de 9,08% no setor de insumos.

·   O ramo pecuário apresentou números melhores em todos os seus segmentos ao longo do semestre, mas com tropeços para a maioria em junho. Começando pelos resultados mensais, a retração de 0,93% no PIB pecuário em geral veio das quedas de 0,80% no setor de insumos, de 1,83% na agroindústria de setor (frigoríficos e laticínios, em destaque) e de 1,72% no segmento de serviços prestados à pecuária.

·   Os números semestrais da pecuária vieram embalados pelo salto de 10% na produção primária, assim como pelos avanços de 3,32% no segmento de insumos, de 2,66% para os serviços e 1,99% na agroindústria.

·   Os embarques de milho e soja pelos portos do chamado Arco Norte, localizados acima do Paralelo 16º, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), trabalhados pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), continuam avançando neste ano, consolidando aquela saída como alternativa real para o escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste e especialmente de Mato Grosso, maior produtor brasileiro.

·   Mais da metade do milho exportado pelo Estado deixaram o País por meio dos portos do Norte, somando 5,973 milhões de toneladas (50,46% do total despachado para outros países, diante de 30,67% em 2018) entre janeiro e agosto deste ano. O volume aumentou quase três vezes em relação ao mesmo período do ano passado, num salto de quase 171%.

·   No total, as exportações de milho de Mato Grosso cresceram 61,6%, para 11,837 milhões de toneladas. Um pouco mais oitenta toneladas a cada 100 embarcadas a mais na comparação com os oito primeiros meses de 2018 saíram do País pelos portos daquela região.

No caso da soja em grão, o Estado vendeu 17,286 milhões de toneladas até agosto deste ano, em baixa de 4,7%. Mas a saída Norte recebeu 1,7% mais grãos, num total de 8,512 milhões de toneladas (49,23% do total, frente a 46,2% em 2018).