Coluna Foco econômico
Dependência chinesa explica tombo de 38% no saldo comercial do Estado
Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de abril de 2024![](https://ohoje.com/public/imagens/fotos/amp/2022/05/Lauro-Dinheiro-Generico-3-13-1024x615.jpg)
Os resultados da balança comercial de Goiás no primeiro trimestre deste ano deixam mais evidentes os riscos envolvidos na dependência desenvolvida nos últimos anos em relação ao mercado chinês. Evidentemente, o problema não é a China, mas a dependência propriamente, qualquer que seja a região do globo. Esse tipo de relação acaba produzindo uma acomodação das políticas comerciais, reduzindo ou entorpecendo os esforços para a prospecção de novos mercados e consequente diversificação da pauta comercial.
Nos três primeiros meses deste ano, as exportações goianas registraram queda de 17,26% em relação ao mesmo período do ano passado, caindo de US$ 2,902 bilhões para US$ 2,401 bilhões – de toda forma, foi o terceiro maior valor da série histórica, iniciada em 1997. As importações, por sua vez, avançaram de US$ 1,236 bilhão para US$ 1,367 bilhão, num incremento de 10,57%, atingindo o segundo maior valor da série. Em dólares, enquanto as exportações “perderam” US$ 500,969 milhões, a importações “ganharam” US$ 130,640 milhões, impondo uma redução de US$ 631,609 milhões no saldo comercial goiano.
O superávit comercial do Estado com o restante do mundo, quer dizer, a diferença entre exportações e importações, despencou 37,92% entre os primeiros três meses de 2023 e igual período deste ano, caindo de praticamente US$ 1,666 bilhão para US$ 1,034 bilhão. A despeito do tombo registrado, foi o terceiro maior saldo na série estatística do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), num resultado influenciado pela China, que também exerceu papel relevante nos rumos das exportações e das importações goianas ao longo do período.
Dois lados da balança
A balança comercial do Estado com a China manteve-se ainda positiva, mas o saldo ficou menor, reagindo a um encolhimento das exportações goianas para aquele mercado e um avanço das vendas chinesas com destino a Goiás. Os dados do Mdic mostram que Goiás exportou algo próximo a US$ 1,088 bilhão para aquele destino asiático, o que correspondeu a uma retração de 29,84% frente a exportações de US$ 1,550 bilhão no acumulado dos primeiros três meses do ano passado, correspondendo a uma redução de US$ 462,555 milhões. Para dar uma dimensão desses movimentos, a queda das vendas externas para a China foi responsável por 92,33% da redução das exportações goianas totais, enquanto a participação chinesa nas vendas externas estaduais recuou de 53,42% para 45,30%. As importações da China para Goiás, embora tenham representado 19,07% das compras externas totais realizadas pelo Estado até março deste ano, desempenharam papel decisivo, já que experimentaram um salto de 51,37% e essa variação contribuiu com 67,72% para o aumento das compras externas totais de Goiás.
Balanço
- Aferidas em dólares, as vendas de bens e mercadorias chinesas para Goiás saíram de US$ 172,239 milhões, em torno de 13,93% das importações goianas totais, para US$ 260,712 milhões, num incremento de US$ 88,473 milhões – o que, por sua vez, se compara com o acréscimo de US$ 130,640 milhões registrado pelas importações goianas totais.
- Com exportações em baixa e importações crescentes, o saldo comercial do Estado frente à China desabou quase 40,0% no primeiro trimestre, saindo de US$ 1,378 bilhão no acumulado entre janeiro e março do ano passado para US$ 826,952 milhões no mesmo período deste ano, ou seja, uma redução de US$ 551,028 milhões, o que explica 87,24% da queda experimentada pelo superávit comercial total.
- A concentração nesta área mantém níveis expressivos ainda, com o saldo comercial com os chineses respondendo por 79,98% do superávit total, o que se compara com 82,73% nos primeiros três meses de 2023.
- A redução das exportações goianas para a China esteve concentrada na soja em grãos, ao mesmo tempo em que as compras goianas de produtos chineses foram reforçadas pelas importações de veículos, tratores, peças e acessórios. Os chineses importaram 1,874 milhão de toneladas de soja em grão, numa queda de 20,96% diante dos três meses iniciais do ano passado (2,371 milhões de toneladas). Ainda assim, 83,21% dos embarques goianos de soja tiveram a China como destino, diante de 92,73% em 2023.
- Em dólares, as exportações de soja para os chineses encolheram 37,77% na mesma comparação, despencando de US$ 1,307 bilhão para US$ 813,472 milhões. Diante de sua participação expressiva nos negócios da soja, a China ajudou a derrubar as exportações totais do grão realizadas a partir de Goiás, que caíram de US$ 1,411 bilhão para US$ 980,313 milhões, numa redução de 30,52%. Os volumes de soja embarcados para o resto do mundo sofreram redução de 11,91%, saindo de 2,557 milhões para 2,252 milhões de toneladas, ao mesmo tempo em que os preços médios do grão baixaram 21,12%.
- Na outra ponta, as vendas de veículos, tratores, peças e acessórios chineses para Goiás definiram não só a alta das importações no setor, como ajudaram a incrementar as compras externas do Estado como um todo. As importações de veículos, suas partes e acessórios da China para Goiás aumentaram de US$ 39,350 milhões (ou 31,42% do total) para US$ 97,728 milhões (59,39% das compras realizadas pelo Estado nesta área). Nessa comparação, registrou-se salto de 148,32%. As compras totais no setor cresceram 31,38%, de US$ 125,249 milhões para US$ 164,551 milhões (uma alta em torno de US$ 39,302 milhões a mais – o que significa dizer que as importações dos demais mercados encolheu).
- Além da soja, a queda das exportações goianas foi fortemente impactada pelo tombo de 71,9% nas vendas externas de milho, que cresceram vigorosamente no ano passado. Em dólares, o Estado havia exportado US$ 223,333 milhões no primeiro trimestre do ano passado, valores reduzidos para apenas US$ 62,763 milhões nos mesmos três meses deste ano, ou seja, perto de US$ 160,570 milhões a menos. Em volume, os embarques caíram para um terço do que haviam sido, desabando de 748,927 mil para 250,219 milhões de toneladas, numa redução de 66,59%. Para completar, os preços médios dos grãos caíram 15,88% na mesma comparação.