Quinta-feira, 28 de março de 2024

Desalento experimenta salto de 94,7% entre 2015 e 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 22 de abril de 2022

A tendência de deterioração das condições de trabalho tem se mantido ao longo do tempo, numa avaliação de prazo mais longo, e acompanha o desaquecimento apontado neste espaço com base em trabalho desenvolvido pelo economista Bruno Ottoni, pesquisador da consultoria IDados e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Um dos lados mais perversos das séries estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está no crescimento acelerado do número de trabalhadores desalentados, complementado pelo avanço expressivo da informalidade. Tudo isso embalado pelas medidas de “desregulamentação” de direitos e pela reforma trabalhista de 2017, que, supostamente, deveria animar as empresas a dispararem contratações em massa, fazendo crescer a renda das famílias, o que de quebra puxaria a economia como um todo, retirando-a do lodaçal em que está mergulhada desde meados da década passada.

Como se sabe e mostram os números, nada daquilo alardeado pelos arautos do neoliberalismo pátrio aconteceu. Ao contrário. O mercado de trabalho continua desaquecido, o ritmo de abertura de novos empregos tem sido insuficiente para acompanhar o crescimento da população em idade para trabalhar, o desemprego mantém-se em níveis elevados e a renda das famílias não retomou níveis anteriores à pandemia. O número de trabalhadores que deixaram de procurar emprego por falta de perspectivas, por desânimo em relação às condições de trabalho oferecidas, vale dizer, pela ausência de oportunidades dignas, disparou nos últimos sete anos, apenas para utilizar o horizonte visualizado por Ottoni em seu trabalho.

O número de pessoas desalentadas disparou de 1,603 milhão para 4,724 milhões entre os trimestres finalizados em fevereiro de 2015 e igual período deste ano, num salto de 94,70%. Esse contingente respondia por 1,58% em relação ao total de pessoas na força de trabalho ou desalentadas e a participação cresceu para 4,22%. Parece pouco, mas essa variação correspondeu à inclusão entre os desalentados de 3,121 milhões de trabalhadores, que perderam seus empregos e desistiram de buscar uma colocação no mercado.

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Talentos desperdiçados

Na mesma linha, a subutilização dos trabalhadores continua em níveis historicamente elevados e por um período excessivamente alongado no tempo, o que poderá dificultar a volta desse contingente ao mercado, lembrando que os subutilizados reúnem igualmente aspessoas desempregadas. O País continua desperdiçando seus talentos, como mostram os dados disponíveis, como resultado de políticas econômicas equivocadas e de reformas que liquidaram direitos e facilitaram a contratação de trabalhadores sem registro formal ou com seus direitos expressivamente manietados. O total de trabalhadores subutilizados, que incluem desempregados, ocupados que trabalham um total de horas insuficientes para assegurar sua subsistência e de suas famílias e trabalhadores fora do mercado, mas disponíveis para trabalhar, aumentou nada menos do que 62,53% entre fevereiro de 2015 e o trimestre finalizado em fevereiro deste ano, subindo de 16,767 milhões para 27,251 milhões de trabalhadores.

Balanço

  • A taxa de subutilização, por sua vez, avançou de 16,08% para 23,50%. Foram incluídos entre os subutilizados perto de 10,484 milhões de pessoas. Para comparar, a população com 14 anos ou mais aumentou em 12,528 milhões de pessoas entre o trimestre encerrado em fevereiro de 2015 e o mesmo trimestre deste ano, evoluindo de 160,018 milhões para 172,546 milhões de pessoas. Tudo considerado, a cada 100 pessoas que desembarcaram no mercado nos últimos sete anos perto de 84 tornaram-se subutilizados.
  • Nas séries estatísticas da PNADC, os números da informalidade passaram a ser calculados a partir do último trimestre de 2015. Desde lá, o total de trabalhadores informais aumentou mais do que proporcionalmente em relação ao total de ocupados, o que mais uma vez confirma os desafios à frente para que o mercado possa retomar um crescimento mais duradouro e inclusivo. O número de informais avançou 8,4%, passando de 35,361 milhões para 38,326 milhões, num acréscimo de 2,965 milhões.
  • Considerando o mesmo período, quer dizer, os trimestres terminados em fevereiro de 2015 e igual mês de 2022, o total de pessoas ocupadas cresceu apenas 3,1%, avançando de 92,366 milhões para 95,235 milhões, ou seja, 2,869 milhões a mais. Mais claramente, todo o crescimento do emprego foi sustentado por ocupações informais, sem direito a férias, 13º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e nem a aposentadoria. Os demais trabalhadores, supostamente formais, praticamente não registraram variação. Eram 57,005 milhões no início de 2015 e recuaram ligeiramente para 56,909 milhões de pessoas.
  • Adicionalmente, agora conforme Bruno Ottoni, a relação entre o total de ocupados e o número de pessoas na força de trabalho havia sido de 92,5% em fevereiro de 2015 e baixou para 88,8% em fevereiro deste ano. Para que o mercado retomasse a situação vivenciada em 2015, a economia teria que gerar mais 3,971 milhões de empregos, o que exigira um crescimento de 4,2%.
  • O rendimento real médio habitualmente recebido caiu 6,9% entre fevereiro de 2015 e o mesmo mês de 2022, encolhendo de R$ 2.697 para R$ 2.511. Comparado a julho de 2020, o rendimento desabou 13,4%.
  • A soma de todos os rendimentos corrigidos pela inflação, ou seja, a massa de rendimentos reais habitualmente pagos, sofreu baixa de 2,9% naquele período, caindo de R$ 241,115 bilhões para R$ 234,104 bilhões (numa perda de R$ 7,011 bilhões). Num período mais recente, considerado o dado do trimestre setembro a novembro de 2019, quando atingiu seu maior valor real na série de dados da PNADC, a massa de renda caiu 7,9% e registrou perdas de R$ 19,979 bilhões.