Disparada de custos deprime PIB do agronegócio em 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de março de 2023

As perdas nos volumes produzidos ao longo do ano passado e a alta vigorosa dos custos de produção, em intensidade quase seis vezes maior do que o incremento das receitas faturadas pelo setor, derrubaram o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2022, reduzindo a participação do setor na economia como um todo. Medido sob o conceito de renda, na definição estabelecida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em colaboração com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agronegócio acumulou retração de 4,22% em relação a 2021, combinando um tombo de 6,39% para a agricultura e para as atividades de base agrícola e elevação de 2,11% para a pecuária, puxada pela alta de 7,11% na renda da porteira para dentro (quer dizer, no segmento primário da atividade).

Sob a ótica adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera a variação do volume de bens e serviços produzidos em toda a economia, o PIB do agronegócio apresentou ligeiro avanço de 0,71% depois de experimentar estagnação virtual em 2021, numa variação insignificante de 0,02%. O desempenho veio abaixo dos números registrados pelo instituto para a economia como um todo pelo segundo ano em sequência, o que parece indicar que o agronegócio não foi tão beneficiado como o restante da economia pela reabertura da economia e a retomada das atividades depois de relaxadas as medidas mais duras de restrição a aglomerações e de distanciamento social adotadas a partir de março de 2020.

Para comparação, o PIB em todo o País havia anotado variação de 5,0% em 2021, na sequência da redução de 3,3% registrada em 2020, passando a crescer 2,9% no ano passado, em nítida desaceleração. Numa observação adicional, o PIB do agronegócio, ainda a preços constantes (ou seja, na ótica dos volumes produzidos), havia caído 1,51% em 2020, uma taxa correspondente a praticamente metade da redução sofrida pelo restante da economia. A alta de custos, sobretudo, parece ter quebrado a resiliência do setor, reduzindo sua capacidade de influenciar todo o restante da economia.

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Os melhores anos

O Cepea pondera que o PIB do setor, agora sob o critério da renda gerada pelo setor (que dizer, dos efeitos conjugados de volume e de preços sobre o valor das riquezas produzidas pelo agronegócio), havia alcançado “recordes sucessivos em 2020 e em 2021, com esse biênio se caracterizando como um dos melhores da história recente do agronegócio brasileiro”. No ano seguinte, ao contrário, o PIB do setor anotou “recuos sucessivos ao longo dos três primeiros semestres”, deixando perda acumulada, como visto, de 4,22%, já que a variação de 0,34% observada no trimestre final de 2022 foi nitidamente insuficiente para recolocar o setor em terreno positivo. “O principal fundamento para esse cenário de baixa é a forte alta dos custos com insumos no setor, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias, que tem corroído o PIB ao longo das cadeias”, registra o centro de estudos.

Balanço

  • A queda trouxe a participação do agronegócio no PIB geral do País para 24,8% em 2022, a mais baixa desde 2019, quando havia alcançado apenas 20,4%. Em 2020 e 2021, a fatia do agronegócio havia saltado para 25,7% e para 26,6% respectivamente, percentual mais próximo dos 27,5% alcançados em 2004 (mas distante do recorde de 34,8% anotado em 1996, quando se inicia a série histórica do Cepea).
  • Na visão do centro de estudos, o tombo de 6,39% no PIB agrícola, considerando todas as atividades do segmento, “decorreu especialmente da forte alta dos custos com insumos para a produção agrícola dentro da porteira, como dos fertilizantes, defensivos, combustíveis, sementes e outros”. O avanço dos custos, registra ainda o Cepea, “superou em grande medida o crescimento do faturamento”.
  • Na média ponderada das culturas acompanhadas pelo Cepea, os custos dos insumos utilizados na previsão saltaram nada menos do que 37,4% frente a uma variação real de 6,44% no lado das receitas, o que determinou um encolhimento relativo da renda líquida da agricultura. Medido em volume, o PIB do ramo agrícola recuou 0,86% no ano passado, o que se compara com a variação de 1,75% em 2021.
  • A despeito da enorme discrepância prevalecente entre gastos e receitas, houve certa melhoria no cenário de custos, mas alguma piora no segundo caso. Até o terceiro trimestre do ano passado, as projeções do Cepea registram a expectativa de um aumento real de 9,52% para o faturamento anual do ramo agrícola, um pouco melhor do que aquele que viria a ser verificado. No lado dos preços dos insumos, a estimativa era de aumento ainda mais expressivo, na faixa de 53,3%.
  • A escalada dos custos parece explicar o salto observado no setor de insumos para a agricultura, que experimentou alta de 35,11%. Para comparação, no PIB avaliado sob o ponto de vista dos volumes produzidos, o setor de insumos agrícolas observou variação de 2,58%, depois de um salto de 21,15% em 2021. Num registro, foi o único segmento da agricultura a apresentar ganhos no ano passado, já que os setores primário, industrial e de serviços apontaram baixas, respectivamente, de 2,01%, de 0,26% e de 0,91%.
  • A redução da produção em culturas relevantes para o setor, destacadamente no caso da soja, “que detém peso expressivo no PIB”, igualmente contribuiu para pressionar o PIB renda para baixo. Além da soja, pontua o Cepea, “observou-se menor produção no ano para o arroz, a batata, o cacau, o fumo, a mandioca, o tomate, a uva, a madeira em tora e lenha e carvão”.
  • Na pecuária, o PIB no conceito de renda avançou 2,11%, puxado pelo segmento primário, que apresentou alta de 7,11% (mas com perdas de 4,83% e de 0,58% para insumos pecuários e para a agroindústria). Em volume, o PIB pecuário cresceu 5,65% na sequência de uma redução de 3,95% em 2021. A indústria pecuária elevou seu PIB (medido em volume) em 7,44%, depois de sofrer perda de 6,01% em 2021. Os serviços prestados à pecuária, que no conceito de renda avançou modestamente (0,28%), saltaram 8,52% em volume (resultado que veio em seguida à redução de 5,83% anotada em 2021).