Dívida de famílias e das empresas segue em alta

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 30 de agosto de 2022

Em meio à disparada nas taxas de juros, a dívida das famílias e das empresas não financeiras continuavam em elevação até o final do primeiro semestre, ao mesmo tempo em que as estatísticas de inadimplência dentro e fora do setor financeiro mantinham-se em franco crescimento, quebrando recordes como têm demonstrando as estatísticas do Serasa Experian e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O saldo do chamado crédito ampliado contratado pelas famílias experimentou avanço de 4,1% na comparação entre o segundo e o primeiro trimestres deste ano, acumulando incremento de 19,9% na comparação entre junho deste ano e o mesmo mês do ano passado. No caso das empresas, o avanço no trimestre chegou a 7,0%, com alta de 14,0% em 12 meses.

No caso das famílias, o crédito ampliado inclui empréstimos e financiamentos de bancos e outras instituições financeiras, empréstimos de fundos, a exemplo do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), além de empréstimos tomados fora do País. Para as empresas, a modalidade contempla igualmente financiamentos e empréstimos tomados em bancos, demais instituições financeiras e fundos governamentais, além da venda de títulos privados nos mercados doméstico e internacional e empréstimos internacionais contratados em moeda estrangeira.

A dívida ampliada das famílias saiu de praticamente R$ 2,624 trilhões em junho do ano passado para R$ 3,146 trilhões em igual mês deste ano, num acréscimo de algo em torno de R$ 522,2 bilhões. A variação supera o ganho nominal observado para a renda nacional disponível bruta das famílias, que no mesmo período havia experimentado variação de 7,97%, saindo de R$ 5,539 trilhões para R$ 5,981 trilhões nos cálculos do Banco Central (BC), responsável também pelas estatísticas do crédito. O ganho, apenas nominal, chegou a R$ 441,67 bilhões. Como a inflação acumulada em 12 meses até junho deste ano havia alcançado 11,89%, a renda chegou a encolher em torno de 3,5% em termos reais.

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Nessa mesma medida, que a autoridade monetária passou a adotar desde os meses finais de 2021, a relação entre crédito ampliado e renda nacional disponível das famílias elevou-se de 44,6% em dezembro de 2020 para 47,4% em junho de 2021, saltando para 52,6% em junho deste ano. O avanço do endividamento deu-se também na comparação entre a dívida ampliada das famílias e o Produto Interno Bruto (PIB), demonstrando que o endividamento tem avanço em maior velocidade do que a variação eventualmente experimentada pela atividade econômica. Em junho do ano passado, portanto, o crédito ampliado das famílias representava 32,4% do PIB, subindo para 34,2% em junho, praticamente repetindo o dado de maio.

Balanço

  • O BC decidiu substituir a massa salarial disponível das famílias por uma medida mais ampla, que teoricamente permite identificar todas as formas de renda das famílias, somando salários dos trabalhadores, dividendos e outras rendas recebidos por donos de empresas, rendimentos de aluguéis e juros e demais rendimentos de aplicações financeiras, aposentadorias, pensões e benefícios do sistema nacional de assistência social, como os benefícios de prestação continuada, renda mensal vitalícia e Bolsa Família (hoje Auxílio Brasil), além de transferências eventuais de renda, a exemplo do auxílio emergencial.
  • Depois de somar todos aqueles valores, o BC desconta os valores pagos pelas famílias a título de imposto de renda e impostos sobre o patrimônio (como IPTU e ITR), as contribuições para a Previdência e transferências de renda feitas pelas famílias para outras instituições e para fora do Brasil.
  • O crédito ampliado para as empresas aumentou de R$ 4,252 trilhões, em valores aproximados, para R$ 4,848 trilhões entre junho do ano passado e o mesmo mês deste ano, oscilando de 52,5% para 52,7% sobre o PIB, numa variação de 14,0%. Na comparação entre o final do primeiro trimestre junho deste ano, a dívida saltou 7,0% e avançou 4,6% apenas na passagem de maio para junho.
  • A desvalorização do dólar em 10,8% no período empurrou para cima o tamanho da dívida externa, o que foi determinante para o crescimento total do endividamento das empresas. Assim, o estoque da dívida externa corporativa, quando tomada em reais, subiu de R$ 1,588 trilhão para R$ 1,726 trilhão, num salto de 8,6% de maio para junho, correspondendo a um acréscimo de R$ 137,3 bilhões. Essa variação correspondeu a 64,07% do aumento observado para o crédito geral, que saiu de R$ 4,634 trilhões em maio para os já mencionados R$ 4,848 trilhões, subindo R$ 214,3 bilhões.
  • Olhando apenas o crédito liberado pelo sistema financeiro tradicional, com base em recursos livres, o saldo total aumentou 22,2% entre o final do primeiro semestre do ano passado e junho deste ano, variando de R$ 2,465 trilhões para R$ 3,012 trilhões. O valor das concessões, ajustado sazonalmente (quer dizer, descontados fatores que mês a mês podem influenciar naqueles números), aumentou 26,4% em 12 meses, passando de R$ 366,5 bilhões em junho de 2021 para R$ 449,0 bilhões em igual mês deste ano. Os novos empréstimos (concessões) saltaram 29,5% para as empresas (para R$ 209,6 bilhões) e 23,8% no caso das pessoas físicas (atingindo R$ 230,1 bilhões).
  • As taxas de juros escalaram, como consequência da política de juros altos do BC, de 28,4% para 39,0% ao ano, o que corresponde a uma taxa real de indecentes 30%, num percentual aproximado, considerando uma taxa de inflação esperada em torno de 7,0% para os próximos 12 meses. Os juros para as pessoas físicas atingiram níveis escandalosos, aproximando-se de 51,5% ao ano, o que se compara com 39,8% em junho do ano passado, no que já era uma taxa abusiva. No caso das pessoas físicas, a taxa real de juros estaria mais próxima de 42% ao ano.