Coluna

Dívida global atinge recorde e supera 322% do PIB em setembro de 2019

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 14 de janeiro de 2020

Ainda
sob efeito dos juros baixos e condições financeiras “mais frouxas”,com sobra de
dinheiro (barato) ao redor do mundo, a dívida global voltou a crescer no terceiro
trimestre do ano passado e atingiu um novo recorde,
superando em mais de quatro vezes o tamanho de toda a economia mundial, aponta
o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), formado pelos
500 maiores bancos do mundo. A instituição projeta novos avanços para o
endividamento dos governos, empresas, bancos e das famílias no início deste
ano, numa tendência determinada principalmente pelo aumento dos débitos
registrados pelo setor não financeiro.

Em
grandes números, a dívida total ao redor do mundo subiu de qualquer coisa
próxima de US$ 243,0 trilhões no terceiro trimestre de 2018 para US$ 252,6
trilhões em igual período do ano passado, num incremento de quase 4,0%. O recorde
anterior havia sido registrado no trimestre inicial de 2018, quando a dívida
havia alcançado perto de US$ 248,5 trilhões. Dados preliminares apurados pelo
IIF sugerem que a dívida global em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) deve
ter experimentado em 2019 o maior crescimento proporcional desde 2016, ainda
que a velocidade do crescimento global tenha caído para o nível mais reduzido
desde o colapso financeiro de 2008-2009 (o que poderia ter levado a uma
moderação no ritmo do endividamento global, o que, muito claramente, não
ocorreu).

Por
isso mesmo, a relação entre dívida e PIB saiu de quase 319% no trimestre
encerrado em setembro de 2018 para pouco mais de 322% em igual período do ano
seguinte. O pesado endividamento provoca temores, entre economistas e
especialistas, em relação às possibilidades de sustentação do ritmo de
crescimento da atividade econômica observado nos anos anteriores, assim como a
respeito da capacidade de financiamento e renovação dessa dívida, muito embora
o mundo financeiro ainda conviva com níveis elevados de liquidez (ou, mais
claramente, com sobras gigantescas de dinheiro), o que tende a facilitar a
rolagem de posições devedoras.

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Dívida a vencer

Mas
os riscos de “refinanciamento” da dívida encontram-se em níveis elevados,
conforme relatório liberado ontem pelo IIF, diante das incertezas causadas
pelos conflitos gerados em sequência pela administração Trump, da perspectiva
de alguma desaceleração adicional no crescimento global e de eventual (mas não
antevisto no horizonte) endurecimento nas condições do crédito. Ao longo deste
ano, entre títulos e empréstimos “sindicalizados” (quer dizer, concedidos em
conjunto por um grupo de instituições financeiras a determinado país), mais de
US$ 19,0 trilhões estarão vencendo e terão que ser liquidados ou refinanciados
(adiados para mais adiante por meio de novas operações de empréstimo). Em torno
de 30% daquele total são devidos por países emergentes (categoria que inclui a
China, o Brasil e outros países antigamente classificados como “em
desenvolvimento”). Os vencimentos são mais elevados, entre os emergentes, na
China, na Índia e no Brasil e, entre os mais ricos, nos Estados Unidos, no
Japão, onde o endividamento total atingia, no terceiro trimestre de 2019, algo
como 327% e 540% do PIB respectivamente, eainda na Alemanha. O endividamento
médio dos países que formam a “área do Euro”, apenas como referência, girava em
torno de 389% do PIB no mesmo período.

Balanço

·  
Olhando
à frente, o IIF teme que as políticas de afrouxamento monetário (corte nos
juros, literalmente) adotadas pelos bancos centrais nas principais economias
poderão estimular a contratação de mais dívidas, minando os esforços conduzidos
nos últimos meses pelos setores financeiro e não financeiro para reduzir o
endividamento e ainda reforçando as preocupações em torno das tendências de
mais longo prazo para o crescimento mundial.

·  
Os
riscos seriam maiores para países de baixa renda, assim como para empresas de
menor porte ou altamente endividadas em todo o mundo.

·  
Com
larga contribuição da China, onde a dívida atingia perto de 308% do PIB no
terceiro trimestre do ano passado (pouco mais da metade sob responsabilidade de
empresas não financeiras), o endividamento dos países emergentes cresceu 9,7% em
relação ao mesmo trimestre de 2018, saindo de US$ 66,1 trilhões para US$ 72,5
trilhões.

·  
Embora
aquele conjunto de países responda por menos de 29% da dívida global, sua
contribuição para o avanço do endividamento em todo mundo chegou a pouco mais
de dois terços, o que significa dizer que os emergentes responderam por quase
US$ 67 a cada US$ 100 adicionados à dívida mundial.

·  
O
principal fator a impulsionar o endividamento das economias emergentes foi o
crescimento de 8,3% na dívida das corporações não financeiras, que avançou de
US$ 28,9 trilhões para US$ 31,3 trilhões – num contraste com os países
desenvolvidos, onde o aumento na dívida foi liderado pelos governos, que
elevaram seu endividamento em 4,2% (de US$ 50,4 trilhões para US$ 52,5
trilhões).

·  
A
dívida brasileira total passou de 196,7% para 199,9% do PIB no período
analisado (abaixo da média dos emergentes, que vinha se aproximando de 222% do
PIB. A diferença é que 44% dessa dívida estava em mãos do setor público no
Brasil, diante de uma participação de 23% na média dos emergentes. Em relação
ao PIB, os governos deviam 87,9% em 2019 (86,3% em 2018). A relação entre os emergentes
atingiu 52,1% no ano passado.

·  
Mesmo
assim, a dívida privada (considerando o setor não financeiro) foi a que mais
contribuiu para aquele crescimento, respondendo por mais de 70% da variação
observada. As empresas não financeiras passaram a dever 42,9% do PIB, frente a
40,6% em setembro de 2018.