Coluna

Dívida global cresce e está mais próxima do recorde alcançado no início de 2018

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 22 de julho de 2019

Impulsionada
pela baixa nas taxas de juros ao redor do mundo, a dívida global voltou a
crescer no primeiro trimestre deste ano e já se aproxima dos níveis recordes
anotados em igual período do ano passado, aponta o Instituto de Finanças
Internacionais (IIF, na sigla em inglês). O crescimento da dívida mundial tem
despertado temores entre economistas de vários países em relação às
perspectivas de sustentação do ritmo atual da atividade econômica global, que
vem perdendo velocidade mais recentemente, especialmente por conta da
desaceleração relativa experimentada pela economia chinesa. Mas igualmente em
relação ao risco de formação de novas “bolhas” no mercado financeiro, o que
colocaria os países sob a ameaça de nova crise mais adiante.

Os
números computados pelo IIF sugerem um avanço (descrito como “pesado” em
relatório divulgado na segunda-feira passada pelo instituto, em tradução livre)
em torno de 1,2% na dívida mundial, para um total de US$ 246,5 trilhões, entre
o final do ano passado e o terceiro trimestre deste ano, superando 320% do
Produto Interno Bruto (PIB) global. O instituto anota ainda que a dívida
estaria “apenas” US$ 2,0 trilhões (praticamente um Brasil inteiro) abaixo do
recorde registrado no trimestre inicial de 2018, quando havia alcançado perto
de US$ 248,5 trilhões. Ou seja, a dívida no começo deste ano estaria apenas
0,8% abaixo daqueles níveis.

Aparentemente,
prossegue o IIF, o recuo na contratação de novas dívidas ao longo do ano
passado, desde os níveis históricos observados no primeiro trimestre, teria
sido apenas um ponto fora da curva e não precisamente uma tendência mais
duradoura. Olhando à frente, o IIF teme que as políticas de afrouxamento
monetário (corte nos juros, literalmente) adotadas pelos bancos centrais nas
principais economias poderão estimular a contratação de mais dívidas, minando
os esforços conduzidos nos últimos meses pelos setores financeiro e não
financeiro para reduzir o endividamento e ainda reforçando as preocupações em
torno das tendências de mais longo prazo para o crescimento mundial. Os riscos
seriam maiores para países de baixa renda, assim como para empresas de menor
porte ou altamente endividadas em todo o mundo.

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Emergentes e
recorde

Entre
as economias emergentes, o endividamento cresceu especialmente entre famílias e
governos, levando a um avanço da dívida consolidada para níveis históricos no
primeiro trimestre deste ano. Percentualmente, a variação foi tímida, algo ao
redor de 0,3% entre o primeiro trimestre do ano passado e igual período deste
ano, saindo de US$ 68,9 trilhões para US$ 69,1 trilhões (quer dizer,
praticamente US$ 200 bilhões a mais). O saldo das dívidas contratadas pelas
famílias aumentou 4,2%, saindo de US$ 12,0 trilhões para US$ 12,5 trilhões, com
elevação de 2% no endividamento dos governos, de US$ 15,3 trilhões para US$
15,6 trilhões. Em ambos os casos, conforme o IIF, os números atingiram novos
recordes.

Balanço

·  
A
tendência de aumento no endividamento nas economias emergentes foi aliviada
pela redução de 2,3% nas dívidas do setor corporativo não financeiro, passando
de US$ 30,8 trilhões para US$ 30,1 trilhões. Mas, no setor financeiro, a dívida
ainda avançou de US$ 10,8 trilhões para US$ 10,9 trilhões, variando quase 0,9%.

·  
Ainda
de acordo com IIF, as taxas de crescimento das dívidas totais foram mais
significativas no Chile, na Coreia do Sul, no Brasil, na África do Sul,
Paquistão e China. “Em contraste, Ucrânia, Egito, Hungria, Líbano e Emirados
Árabes Unidos reduziram os índices de endividamento em relação ao ano passado”,
acrescenta ainda o relatório.

·  
Nos
mercados mais maduros (ou mais desenvolvidos), a dívida chegou a apresentar
redução na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, saindo de US$
179,6 trilhões para US$ 177,4 trilhões (-1,2%). A maior contribuição para a
queda veio do setor financeiro, que reduziu sua alavancagem (endividamento) de
US$ 50,9 trilhões para US$ 49,5 trilhões, em baixa de 1,2%.

·  
Mas
alguns indicadores causam preocupação. O IIF lembra que a dívida corporativa
nos Estados Unidos tem crescido acima da tendência geral observada para o
conjunto do setor em todo o mundo e já se aproxima de 75% do PIB,
“acrescentando temores em relação a vulnerabilidades” naquele setor.

A dívida total dos EUA aumentou 4,4% desde o
primeiro trimestre de 2018, atingindo o recorde de US$ 69,0 trilhões (quase
toda a dívida dos emergentes), ganhando cerca de US$ 2,9 trilhões a mais. A
dívida do governo por lá superou 101% do PIB, elevando os gastos anuais com
juros para US$ 830 bilhões.