Dois terços dos países acompanhados pelo FMI fecharão 2024 com déficit
No mundo muito além do fantasioso universo cobiçado por dez em cada dez economistas, analistas e comentaristas alinhados à “esquadrilha austericida”, que domina há décadas o pensamento econômico e a grande imprensa corporativa, a maioria dos governos ao redor do globo vai fechar o ano com rombos em suas contas primárias. Quer dizer, em português […]
No mundo muito além do fantasioso universo cobiçado por dez em cada dez economistas, analistas e comentaristas alinhados à “esquadrilha austericida”, que domina há décadas o pensamento econômico e a grande imprensa corporativa, a maioria dos governos ao redor do globo vai fechar o ano com rombos em suas contas primárias. Quer dizer, em português claro e estridente, as receitas não serão suficientes para fazer frente a todas as despesas, já excluídos os gastos com juros e amortizações das dívidas do setor público. Nada muito diferente do que o cenário projetado para o Brasil.
Mas só aqui o mundo parece desfrutar seus últimos suspiros, com a economia condenada ao abismo final porque – atenção, atenção – a meta anteriormente fixada pela equipe econômica para 2025 e 2026 foi alterada, saindo de saldos positivos de 0,5% e 1,0% respectivamente para um equilíbrio entre receitas e despesas no ano que vem e um superávit de 0,25% no exercício seguinte. Foi o suficiente para despertar a ira sagrada dos mercados, embora no restante da economia global os dados do setor público demonstrem um quadro geral de desequilíbrios entre despesas e receitas e dívidas elevadas – em vários casos, muito mais elevadas do que a dos governos no País.
A mais recente edição do Monitor Fiscal do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra, por exemplo, que 123 países entre 185 com dados projetados pela instituição continuarão com governos deficitários, o que significa dizer que praticamente 66,5% deles fecharão o exercício deste ano com rombos. Na média global, o déficit primário dos governos deverá alcançar algo em torno de 3,40% do Produto Interno Bruto (PIB), repetindo o rombo realizado em 2023. O acompanhamento do fundo mostra ainda que, na maioria dos casos, os governos não conseguiram retomar a relação observada antes da pandemia, quando o déficit primário global (aquele que desconsidera as despesas com juros, para deixar claro) havia atingido algo em torno de 2,7% do total de riquezas produzidas pelo lado real da economia em todo o planeta.
Distantes de 2019
Em 2020, como reflexo das medidas adotadas para socorrer as vítimas do vírus Sars-Cov-19, reforçar a assistência à saúde e dar suporte à economia, o rombo global havia saltado para 6,9% do PIB, com a dívida bruta dos governos passando a somar 99,4% do produto diante de 84,2% um ano antes. O grupo das sete economias mais avançadas, reunidas no G7, teve seu rombo elevado de 2,11% para 10,04% na passagem de 2019 e 2020, enquanto a dívida pública bruta avançou de 118,02% para 139,58% do PIB no mesmo intervalo. Com a reabertura dos negócios e a recuperação da economia e o fim dos gastos extraordinários gerados pela pandemia, o superávit primário chegou a baixar para 1,78% do PIB em 2022, mas voltou a se elevar até 4,69% no ano seguinte, projetando-se para este ano um déficit menor, na faixa de 2,96%, mas ainda superior àquele observado imediatamente antes da pandemia. A relação entre dívida bruta e PIB recuou para 126,15% no ano passado e tende a atingir 126,53% neste ano, mantendo-se bem acima dos valores registrados em 2019.
Balanço