Dólares investidos no cassino dos juros disparam, saltando 156% em setembro
Os rendimentos elevados oferecidos por títulos de dívida atraíram US$ 4,841 bilhões em setembro
Os recursos direcionados por estrangeiros ou brasileiros fora do País para a compra de títulos de dívida emitidos aqui dentro ou no mercado internacional pelo setor público, bancos e empresas privadas entraram em disparada em setembro, estimulados pelas possibilidades de ganhos elevados no cassino dos juros a que foi transformado o sistema financeiro por conta da política monetária em vigor. Os rendimentos elevados oferecidos por títulos de dívida, nas estatísticas apuradas pelo Banco Central (BC), atraíram em torno de US$ 4,841 bilhões apenas em setembro deste ano, representando quase um quarto do total registrado nessa conta entre janeiro e setembro deste ano, por volta de US$ 20,654 bilhões.
Na comparação com setembro do ano passado, quando os títulos brasileiros de dívida receberam aplicações de quase US$ 1,891 bilhão, o valor experimentou salto de nada menos do que 156,0%, correspondendo a um ingresso adicional de US$ 2,950 bilhões. Apenas o mês de setembro contribuiu com 34,65% do avanço acumulado por esse tipo de ativo nos primeiros nove meses deste ano. Em relação aos valores acumulados entre janeiro e setembro de 2023, quando os títulos de dívida chegaram a atrair US$ 12,141 bilhões, registrou-se um incremento de 70,12%, com o estoque avançando para US$ 20,654 bilhões – perto de US$ 8,513 bilhões a mais.
A entrada de dólares para suprir esse tipo de investimento atingiu US$ 12,750 bilhões apenas em setembro, num aumento de 63,34% diante de US$ 7,806 bilhões em igual mês do ano passado. A liquidação de investimentos anteriormente alocados para aqueles títulos, correspondendo à saída de dólares, cresceu de forma menos acelerada, variando 33,73% ao passar de US$ 5,915 bilhões para US$ 7,910 bilhões. Em nove meses, ingressos e saídas somaram respectivamente US$ 105,449 bilhões e US$ 77,720 bilhões neste ano, crescendo, na mesma ordem, 35,68% e 29,30% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
Discurso furado
Entre outras “novidades”, os dados da conta de transações correntes apontam um crescimento muito mais expressivo dos valores de títulos de dívida emitidos no exterior, seja pelo governo, seja por empresas e bancos públicos e privados. Neste caso, com desempenho muito acima da média para títulos de longa maturação, o que nitidamente contraria a retórica muito pessimista adotada pelos mercados quando se trata de avaliar o desempenho brasileiro e de seu setor público.
Como parte dessa retórica, recentemente exercitada enquanto representantes do País dialogavam com agências de classificação de risco no exterior, a “esquadrilha austericida” tem afirmado cansativamente que o cenário fiscal estaria de fato afugentando investidores estrangeiros, diante das incertezas geradas pela trajetória da dívida pública brasileira, o que de resto impediria o Brasil de alcançar o almejado nível de investimento, classificação mais elevada na avaliação daquelas agências.