Coluna Foco econômico
Economias regionais entraram em desaquecimento no final de 2022
Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de março de 2023![](https://ohoje.com/public/imagens/fotos/amp/2022/05/Lauro-Dinheiro-Generico-3-13-1024x615.jpg)
As economias regionais entraram em desaceleração na segunda metade de 2022, com perdas generalizadas no último trimestre do ano de acordo com avaliação do Banco Central (BC), que ontem divulgou a edição mais recente de seu Boletim Regional. Tomando como base uma série de indicadores, consolidados em cinco Índices de Atividade Econômica Regional (IBCR), o departamento de economia do banco sugere baixas mais intensas no Centro-Oeste, onde o indicador sofreu redução de 3,9% na passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano passado, segundo dados dessazonalizados, com tropeço de 2,3% para o Norte do País. As regiões Sul e Nordeste anotaram quedas de 1,9% e 1,2% respectivamente, com recuo de 0,4% no Sudeste.
Apesar de sugerir uma intensidade menos severa para a redução da atividade no Nordeste, a região foi a única a experimentar três trimestres de perdas sucessivas, já que o Índice de Atividade Econômica Regional-Nordeste (IBCR-NE) havia recuado 0,1% e 1,6% no segundo e no terceiro trimestres. O indicador do nível da atividade no Centro-Oeste manteve-se no vermelho ao longo dos últimos dois trimestres do ano passado, depois de anotar leve baixa de 0,2% na saída do segundo para o terceiro trimestre. As demais regiões vinham de resultados positivos no terceiro trimestre, com variações de 1,4%, 0,7% e 1,8% respectivamente para Norte, Sudeste e Sul, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior.
No fechamento do ano, conforme divulgado em fevereiro, o indicador do BC apontou variação de 2,9% para a economia brasileira como um todo, aproximando-se do resultado preliminarmente registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Produto Interno Bruto (PIB), veiculado no dia 2 deste mês. Olhando à frente, o BC anota alguma influência negativa sobre a economia neste ano apenas quando menciona a expectativa em relação à atividade econômica no Sul do País. Não há qualquer consideração em relação aos efeitos devastadores da política de juros altos sobre o mercado de crédito e muito menos em relação aos riscos de um agravamento acelerado da crise como resultado direto da política monetária.
Isto posto, os números do boletim regional trazem como destaque o avanço de 5,9% acumulado pelo Centro-Oeste, resultado do crescimento observado no primeiro semestre, saindo de variação de 2,7% em 2021 (sempre de acordo com o índice de atividade do BC). Em Goiás, especificamente, o BC projeta crescimento de 4,8% no ano passado, numa aceleração diante da variação de 3,0% estimada para 2021, num desempenho puxado principalmente pela produção agrícola. Nordeste e Sudeste surgem na sequência, com altas de 3,9% e de 3,5% na comparação com 2021, o que se compara com elevações de 2,3% e de 1,2% para o Norte e o Sul.
Comportamento heterogêneo
Na avaliação do BC, considerando os indicadores já fechados para o ano passado, o avanço relativo da atividade econômica foi marcado por “alguma heterogeneidade no desempenho dos setores, apesar da desaceleração ao longo do ano, em particular no quarto trimestre”. No setor industrial, a produção reverteu no segundo semestre o desempenho positivo registrado na primeira metade de 2022, fechando o ano em queda frente a 2021, enquanto o comércio varejista ampliado (que inclui, além das lojas do varejo convencional, concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais para construção) igualmente anotou retração. “Impactado pelo retorno da mobilidade após o fim das restrições impostas durante a pandemia, o setor de serviços manteve trajetória de expansão durante todo o ano, encerrando 2022 com crescimento expressivo”, anota o boletim do BC, ao destacar o único setor de atividade a apresentar avanços mais expressivos no ano que passou. Ainda assim, mesmo naquela área, registrou-se desaceleração no trimestre final de 2022. Os dados mercado de trabalho, da mesma forma, apontavam “perda de dinamismo na margem”, quer dizer, na passagem do terceiro para o quarto trimestre.
Balanço
- As estimativas sobre o que aconteceu com a economia em cada uma das regiões brasileiras no ano passado levam em conta o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC), calibrado de forma a refletir as projeções para a atividade econômica regional a partir de indicadores de produção agrícola e industrial, vendas do comércio, emprego e desemprego, renda, crédito, exportações e importações.
- No caso do Centro-Oeste, o BC sustenta perspectivas positivas para a economia neste ano, considerando “a estimativa de mais uma safra de grãos recorde”, o que tende a “manter o dinamismo da economia da região e amortecer os impactos da desaceleração de outros setores, projetando um desempenho acima da média nacional”.
- Em 2022, registra o BC, a economia no Centro-Oeste “liderou a alta da atividade econômica, repercutindo o crescimento da produção agrícola, da indústria de alimentos e a forte expansão da construção pelo segundo ano consecutivo, além de avanço em todos os segmentos de serviços”. O “crescimento substancial” de 5,9% acumulado nos 12 meses do ano passado, na descrição do BC, foi “influenciado pela expansão significativa da agricultura, determinada principalmente pelo aumento da safra de milho, e do setor de serviços, especialmente os prestados às famílias, na esteira da superação das restrições de contato social ocorridas durante a pandemia”.
- A produção recorde de grãos, de certa forma, contribuiu para dar sustentação ao aumento de 44,9% nas exportações da região, impulsionadas pelos embarques de soja, milho e carnes, ao mesmo tempo em que as importações cresceram 16,9%. A combinação desses números resultou no salto de 62,9% no superávit comercial, para US$ 37,7 bilhões, “e proporcionou a maior contribuição para o saldo nacional”.
- Enquanto o varejo ampliado elevou o volume de vendas em 2,7% no ano passado, ainda no Centro-Oeste, o setor de serviços experimentou alta de 5,0%, “com destaque para os serviços prestados às famílias e transportes, além do conjunto de serviços ligados à atividade turística”, registra o BC. Na média anual, a taxa de desemprego baixou de 10,4% para 6,9%, como reflexo de uma expansão de 8,9% para o total de ocupados, o que, por sua vez, ajudou a elevar a massa de rendimentos reais em 8,7%.
- Os números da safra já em fase de colheita prenunciam alguma sustentação à atividade econômica não apenas no Centro-Oeste, neste ano, mas ainda para o Nordeste, favorecida ainda pelos programas de transferência de renda e demais programas sociais, e para o Sul. Neste último caso, no entanto, a agricultura tende a amenizar impactos mais negativos de outros setores, imprimindo alguma “moderação do ritmo de crescimento da economia”.
- A tendência de “arrefecimento” é esperada ainda para a atividade econômica do Sudeste, ao menos no início do ano. Na região Norte, a recuperação gradual das exportações de commodities minerais (minério de ferro, principalmente) e um desempenho mais positivo da indústria de transformação, esperados pelo BC, podem “contribuir para a continuidade do crescimento”.