Economias regionais entraram em desaquecimento no final de 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de março de 2023

As economias regionais entraram em desaceleração na segunda metade de 2022, com perdas generalizadas no último trimestre do ano de acordo com avaliação do Banco Central (BC), que ontem divulgou a edição mais recente de seu Boletim Regional. Tomando como base uma série de indicadores, consolidados em cinco Índices de Atividade Econômica Regional (IBCR), o departamento de economia do banco sugere baixas mais intensas no Centro-Oeste, onde o indicador sofreu redução de 3,9% na passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano passado, segundo dados dessazonalizados, com tropeço de 2,3% para o Norte do País. As regiões Sul e Nordeste anotaram quedas de 1,9% e 1,2% respectivamente, com recuo de 0,4% no Sudeste.

Apesar de sugerir uma intensidade menos severa para a redução da atividade no Nordeste, a região foi a única a experimentar três trimestres de perdas sucessivas, já que o Índice de Atividade Econômica Regional-Nordeste (IBCR-NE) havia recuado 0,1% e 1,6% no segundo e no terceiro trimestres. O indicador do nível da atividade no Centro-Oeste manteve-se no vermelho ao longo dos últimos dois trimestres do ano passado, depois de anotar leve baixa de 0,2% na saída do segundo para o terceiro trimestre. As demais regiões vinham de resultados positivos no terceiro trimestre, com variações de 1,4%, 0,7% e 1,8% respectivamente para Norte, Sudeste e Sul, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

No fechamento do ano, conforme divulgado em fevereiro, o indicador do BC apontou variação de 2,9% para a economia brasileira como um todo, aproximando-se do resultado preliminarmente registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Produto Interno Bruto (PIB), veiculado no dia 2 deste mês. Olhando à frente, o BC anota alguma influência negativa sobre a economia neste ano apenas quando menciona a expectativa em relação à atividade econômica no Sul do País. Não há qualquer consideração em relação aos efeitos devastadores da política de juros altos sobre o mercado de crédito e muito menos em relação aos riscos de um agravamento acelerado da crise como resultado direto da política monetária.

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Isto posto, os números do boletim regional trazem como destaque o avanço de 5,9% acumulado pelo Centro-Oeste, resultado do crescimento observado no primeiro semestre, saindo de variação de 2,7% em 2021 (sempre de acordo com o índice de atividade do BC). Em Goiás, especificamente, o BC projeta crescimento de 4,8% no ano passado, numa aceleração diante da variação de 3,0% estimada para 2021, num desempenho puxado principalmente pela produção agrícola. Nordeste e Sudeste surgem na sequência, com altas de 3,9% e de 3,5% na comparação com 2021, o que se compara com elevações de 2,3% e de 1,2% para o Norte e o Sul.

Comportamento heterogêneo

Na avaliação do BC, considerando os indicadores já fechados para o ano passado, o avanço relativo da atividade econômica foi marcado por “alguma heterogeneidade no desempenho dos setores, apesar da desaceleração ao longo do ano, em particular no quarto trimestre”. No setor industrial, a produção reverteu no segundo semestre o desempenho positivo registrado na primeira metade de 2022, fechando o ano em queda frente a 2021, enquanto o comércio varejista ampliado (que inclui, além das lojas do varejo convencional, concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais para construção) igualmente anotou retração. “Impactado pelo retorno da mobilidade após o fim das restrições impostas durante a pandemia, o setor de serviços manteve trajetória de expansão durante todo o ano, encerrando 2022 com crescimento expressivo”, anota o boletim do BC, ao destacar o único setor de atividade a apresentar avanços mais expressivos no ano que passou. Ainda assim, mesmo naquela área, registrou-se desaceleração no trimestre final de 2022. Os dados mercado de trabalho, da mesma forma, apontavam “perda de dinamismo na margem”, quer dizer, na passagem do terceiro para o quarto trimestre.

Balanço

  • As estimativas sobre o que aconteceu com a economia em cada uma das regiões brasileiras no ano passado levam em conta o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC), calibrado de forma a refletir as projeções para a atividade econômica regional a partir de indicadores de produção agrícola e industrial, vendas do comércio, emprego e desemprego, renda, crédito, exportações e importações.
  • No caso do Centro-Oeste, o BC sustenta perspectivas positivas para a economia neste ano, considerando “a estimativa de mais uma safra de grãos recorde”, o que tende a “manter o dinamismo da economia da região e amortecer os impactos da desaceleração de outros setores, projetando um desempenho acima da média nacional”.
  • Em 2022, registra o BC, a economia no Centro-Oeste “liderou a alta da atividade econômica, repercutindo o crescimento da produção agrícola, da indústria de alimentos e a forte expansão da construção pelo segundo ano consecutivo, além de avanço em todos os segmentos de serviços”. O “crescimento substancial” de 5,9% acumulado nos 12 meses do ano passado, na descrição do BC, foi “influenciado pela expansão significativa da agricultura, determinada principalmente pelo aumento da safra de milho, e do setor de serviços, especialmente os prestados às famílias, na esteira da superação das restrições de contato social ocorridas durante a pandemia”.
  • A produção recorde de grãos, de certa forma, contribuiu para dar sustentação ao aumento de 44,9% nas exportações da região, impulsionadas pelos embarques de soja, milho e carnes, ao mesmo tempo em que as importações cresceram 16,9%. A combinação desses números resultou no salto de 62,9% no superávit comercial, para US$ 37,7 bilhões, “e proporcionou a maior contribuição para o saldo nacional”.
  • Enquanto o varejo ampliado elevou o volume de vendas em 2,7% no ano passado, ainda no Centro-Oeste, o setor de serviços experimentou alta de 5,0%, “com destaque para os serviços prestados às famílias e transportes, além do conjunto de serviços ligados à atividade turística”, registra o BC. Na média anual, a taxa de desemprego baixou de 10,4% para 6,9%, como reflexo de uma expansão de 8,9% para o total de ocupados, o que, por sua vez, ajudou a elevar a massa de rendimentos reais em 8,7%.
  • Os números da safra já em fase de colheita prenunciam alguma sustentação à atividade econômica não apenas no Centro-Oeste, neste ano, mas ainda para o Nordeste, favorecida ainda pelos programas de transferência de renda e demais programas sociais, e para o Sul. Neste último caso, no entanto, a agricultura tende a amenizar impactos mais negativos de outros setores, imprimindo alguma “moderação do ritmo de crescimento da economia”.
  • A tendência de “arrefecimento” é esperada ainda para a atividade econômica do Sudeste, ao menos no início do ano. Na região Norte, a recuperação gradual das exportações de commodities minerais (minério de ferro, principalmente) e um desempenho mais positivo da indústria de transformação, esperados pelo BC, podem “contribuir para a continuidade do crescimento”.