Efeito dos juros sobre investimentos e gasto das famílias desaquece economia
Qualquer que seja a base escolhida para comparação, o Produto Interno Bruto (PIB), a soma o volume total de “riquezas” produzidas pelo lado real da economia, apresentou desaceleração no segundo trimestre deste ano, puxada principalmente pelo menor ritmo de crescimento do consumo das famílias e pela perda de fôlego dos investimentos, que vinham em ritmo muito forte nos trimestres anteriores. Na série dessazonalizada, depois de descontados eventos e fatores que ocorrem sempre na mesma época a cada ano, o PIB saiu de um crescimento de 1,3% no primeiro trimestre, puxado pelo salto de 12,3% registrado pela agropecuária e pela alta de 2,9% na indústria extrativa, para uma variação de 0,4%.
Na comparação com idêntico período do ano anterior, a trajetória no médio prazo reforça a tendência de desaquecimento, com a taxa de crescimento saindo de 4,0% no terceiro trimestre de 2024 para 3,6% nos três meses finais daquele ano, para registrar elevação de 2,9% no primeiro trimestre deste ano, desacelerando mais uma vez para 2,2% nos três meses seguintes. O incremento acumulado na primeira metade deste ano chegou a 2,5%, o que se compara com a alta de 3,8% registrada no segundo semestre do ano passado, igualmente em relação aos mesmos seis meses de 2023, na série de dados sobre as contas nacionais divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A economia brasileira pisou no freio no segundo trimestre de 2025, como muitos sinais conjunturais antecedentes já vinham apontando”, registra o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Na visão do instituto, um “fator decisivo para a evolução” recente do PIB foi o nível “elevado de taxas de juros no País”, o que vem “restringindo a demanda interna” e afetando negativamente “as decisões de investimento e o consumo das famílias”, especialmente no caso de bens duráveis, trazendo como outra consequência o recuo das importações (que sofreram baixa de 2,9% no segundo trimestre, comparadas aos três meses imediatamente anteriores. “Outro fator a ser mencionado”, acrescenta ainda o Iedi, “foi o declínio do consumo do governo”, num recuo de 0,6% também na passagem do primeiro para o segundo trimestre deste ano, já com ajuste sazonal.
Sob a ótica do consumo
Ao analisar o PIB ainda pelo lado da demanda, o consumo das famílias, responsável por 63,2% do produto total, teve seu ritmo reduzido pela metade, saindo do crescimento de 1,0% no primeiro trimestre para 0,5% no seguinte, com a taxa desacelerando de 2,6% nos trimestre inicial deste ano para 1,8% no segundo trimestre quando comparada aos mesmos períodos do ano passado. A despeito da menor variação, o IBGE atribui o desempenho ainda positivo aos efeitos da “melhora no mercado de trabalho”, com avanço da massa salarial real, aos programas governamentais de transferência de renda às famílias menos favorecidas e ainda ao crescimento nominal de 12,9% observado para o saldo das operações de crédito para pessoas físicas dentro do sistema financeiro. Na contramão, ainda conforme o IBGE, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 3,9% no segundo trimestre do ano passado para 5,4% no mesmo período deste ano, ao mesmo tempo em que os juros básicos foram relevados de 10,5% para 14,0% ao ano em igual intervalo.
Balanço