Quinta-feira, 28 de março de 2024

Coluna

Em fase acelerada de desmonte pela equipe econômica, consultas ao BNDES desabam

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 06 de agosto de 2019

A
equipe econômica há muito já antecipou suas intenções em relação ao único banco
de fomento em atuação no País e vem anunciando decisões que deverão dar continuidade ao processo de desmonte do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Não deixa de ser notável que tudo
isso venha ocorrendo em meio ao mais clamoroso silêncio de lideranças
empresariais em geral e, mais especificamente, daquelas que se dizem
representantes do setor industrial (quando não há aplausos às medidas ultra
liberalizantes adotadas pelo ministro Paulo Guedes, mais conhecido como o
ministro dos mercados, e sua turma).

A
ideia, já indicada pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues Junior
(Valor Econômico, 02/08/19), é reduzir o banco a um terço do seu tamanho e
limitar as operações de financiamento a alguma coisa inferior a R$ 100,0
bilhões por ano (lembrando que os desembolsos, a valores de junho deste ano,
chegaram a superar R$ 280,0 bilhões em 2010). Os custos dos empréstimos, da
mesma forma, já sofreram ajuste para cima desde a entrada em vigor, no governo
passado, da Taxa de Longo Prazo (TLP), mais próxima dos juros extorsivos
cobrados pelo mercado financeiro em geral.

Parte
do desmonte e ainda reflexo da baixa disposição das empresas para retomar
investimentos, num ambiente de demanda encolhida, desemprego elevado e
ociosidade alta, as consultas ao BNDES para a contratação de novos empréstimos
e financiamentos atingiu no primeiro semestre deste ano o seu nível mais baixo
em toda a série estatística do banco, iniciada em 1995. Como a consulta é o
primeiro passo para a contratação de crédito, pode-se presumir que os
desembolsos tendem a continuar ladeira baixo nos próximos semestres, reduzindo
ainda mais a participação do BNDES no mercado de crédito e demolindo sua
capacidade de dar sustentação a projetos de investimento de longo prazo na
indústria e na infraestrutura a custos competitivos internacionalmente.

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Na contramão

O
País vai abrindo mão de uma ferramenta estratégica para o planejamento de longo
prazo e para o apoio a setores essenciais para seu desenvolvimento. Mais grave,
a equipe que promove o desmonte do banco de fomento não tem o que colocar em
seu lugar. Supõe-se que os mercados se ocuparão de suprir crédito de longo
prazo e barato às empresas, desconsiderando que praticamente todos os países
desenvolvidos (sim, até os Estados Unidos) abrigam bancos de desenvolvimento
nos mesmos moldes do BNDES ou, alternativamente, dispõem de instituições e
programas do setor público, bancados por recursos dos Tesouros locais. Tristes
tempos, triste “modernização”.

Balanço

·  
Em
valores atualizados com base na inflação até junho deste ano, as consultas
encaminhadas ao BNDES entre janeiro e junho deste ano mergulharam para R$
25,854 bilhões, num tombo de 50,7% em relação ao primeiro semestre de 2018,
quando haviam alcançado R$ 52,447 bilhões.

·  
As
perdas atingiram a maioria dos setores de atividade e seus principais
segmentos, na divisão adotada pelo banco, com raras exceções. O maior
retrocesso veio para uma área onde os investimentos já vinham minguando, na
esteira do encolhimento radical sofrido pelo investimento público. As consultas
para projetos de infraestrutura murcharam quase 59%, achatados de R$ 20,246
bilhões para R$ 8,308 bilhões.

·  
Pouco
mais de metade dessa queda (mais precisamente 53,7%) foi causada pelo tombo de
96,1% nas consultas para financiamentos ao setor de atividades auxiliares do
setor de transportes, que despencaram de R$ 6,664 bilhões para somente R$
257,63 milhões.

·  
As
consultas no setor de ferrovias foram achatadas para apenas R$ 50,704 mil
diante de R$ 78,545 milhões na primeira metade do ano passado (queda de 99,9%).
O setor de construção, já duramente castigado pela crise, reduziu as consultas
em 77,8%, de R$ 508,648 milhões para R$ 112,896 milhões.Na área de energia, as
consultas baixaram de quase R$ 8,930 bilhões para R$ 4,624 bilhões, numa queda
de 48,2%.

A indústria cortou R$ 10,198 bilhões no valor
das consultas entre um semestre e o outro, derrubando esse número de R$ 17,882
bilhões para R$ 7,684 bilhões, uma retração de 57%. Como na indústria extrativa
registrou-se salto de quase 80% (de R$ 313,72 milhões para R$ 877,36 milhões),
o setor de transformação industrial apresentou queda mais acentuada (-61,3%),
com as consultas despencando de R$ 17,568 bilhões para R$ 6,806 bilhões.