Em Goiás, consultas ao BNDES saltam 65,8% no primeiro semestre deste ano

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 21 de agosto de 2021

Numa tendência inversa àquela registrada para o conjunto das empresas no País, as consultas endereçadas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em Goiás experimentaram salto nominal de 65,8% na primeira metade deste ano, diante de um retrocesso também nominal de 33,65% na soma de todos os Estados. O banco não apresenta dados mais detalhados sobre as consultas por região, apenas o número consolidado, que em Goiás avançou de R$ 1,451 bilhão para R$ 2,406 bilhões entre o primeiro semestre de 2020 e igual período deste ano.

A pandemia poderia explicar em parte o crescimento mais alentado neste ano, supondo-se uma base mais reduzida no ano passado. Mas não parece ser o caso, já que as consultas haviam simplesmente dobrado entre a primeira metade de 2019 e idêntico período do ano seguinte. Ainda em valores correntes, quer dizer, sem correção com base em índices de inflação, as consultas nos seis meses iniciais de 2021 foram a mais elevadas desde igual período de 2014, quando atingiram R$ 3,159 bilhões (indicando uma redução de 23,8% desde lá).

O desempenho contraria a tendência geral apontada pelo BNDES, superando ainda o desempenho em todo o Centro-Oeste, que apresentou variação de 29,0%, com o valor das consultas passando de R$ 3,893 bilhões para R$ 5,023 bilhões. A participação goiana nas consultas da região elevou-se de 37,3% para 47,9%. O Estado foi ainda responsável por 84,5% de todo o crescimento observado para o Centro-Oeste na mesma comparação.

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A alta nas consultas, que podem antecipar decisões de investimento no setor produtivo, não tem correspondido a desempenho similar no lado dos desembolsos. Da mesma forma que parecem um tanto contraditória se observado o comportamento da atividade econômica neste ano. A produção industrial em Goiás sofreu baixa de 4,2% no primeiro semestre deste ano. As vendas do comércio oscilam mês a mês, ainda que tenham crescido 15,2% em relação aos primeiros seis meses do ano passado, quando haviam sofrido retração importante. Os serviços reagem à liberação das atividades no setor, o mais atingido pelas medidas de distanciamento e restrições à movimentação de pessoas adotadas no início da pandemia.

Mais baixo em 15 anos

O salto nas consultas no ano passado, aparentemente, não se concretizou num aumento correspondente dos desembolsos, muito ao contrário. O volume de recursos de fato emprestado pelo BNDES chegou no primeiro semestre deste ano ao nível mais baixo desde 2006, ou seja, em uma década e meia, também considerando os primeiros seis meses daquele ano, quando haviam somado algo próximo a R$ 511,8 milhões. Entre janeiro e junho de 2021, os desembolsos somaram R$ 591,078 milhões (sempre em valores correntes), frente a aproximadamente R$ 768,050 milhões desembolsados na primeira metade do ano passado, expressando uma retração ade 23,0%. Sempre em valores não atualizados, o melhor momento para os desembolsos em Goiás havia sido alcançado em 2009. Nos seis primeiros meses daquele ano, o BNDES chegou a desembolsar R$ 2,806 bilhões. Quer dizer, o dado da primeira metade deste ano ainda estaria quase 79,0% abaixo dos níveis de 12 anos atrás.

Balanço

  • No caso dos desembolsos, o BNDES divulga dados mais completos, desagregados por setor de atividade, o que permite observar quais foram as áreas da economia que tiveram maior influência no desempenho geral. E a principal influência veio do tombo de quase 34,0% nos desembolsos destinados ao comércio e aos serviços, como já dito, os mais atingidos pela pandemia. Tomados em conjunto pela instituição, os desembolsos direcionados a empresas daqueles setores caíram de R$ 195,315 milhões para R$ 128,920 milhões, em baixa de R$ 66,395 milhões (ou seja, em torno de 37,5% da queda anotada para o total dos desembolsos no Estado).
  • Setor estratégico, a infraestrutura respondeu por um terço da queda experimentada pelos desembolsos totais. Os projetos do setor, que haviam contratado e recebido R$ 115,528 milhões entre janeiro e junho de 2020, tiveram esse valor reduzido para R$ 56,918 milhões, num tombo de 50,7%. Em termos absolutos e também proporcionalmente, a maior queda veio do setor de construção – paradoxalmente, uma área que vinha experimentando algum vapor nos primeiros meses deste ano.Os desembolsos para a área da construção desabaram de R$ 32,750 milhões para meros R$ 200,0 mil, numa redução de 99,4%.
  • Ainda na infraestrutura, os desembolsos para o setor de energia sofreram corte de 61,4% e encolheram de R$ 20,896 milhões para R$ 8,073 milhões. O setor de transporte rodoviário perdeu um terço dos desembolsos, que saíram de R$ 38,838 milhões para R$ 26,023 milhões. Os desembolsos para telecomunicações ficaram resumidos a R$ 273,313 mil no primeiro semestre deste ano, frente a R$ 1,653 milhão em 2020, uma queda de 83,5%. Como contraponto, houve crescimento de 98,6% e de 35,8% nos desembolsos para projetos de atividades auxiliares de transporte e serviços de utilidade pública. Mas os valores ali são relativamente baixos para compensar as quedas em outras áreas, chegando, respectivamente, a R$ 1,280 milhão e R$ 1,618 milhão.
  • A terceira maior influência negativa veio de um setor que tem se notabilizado por sua resiliência durante a crise e capacidade de reagir em meio a turbulências, especialmente quando o mercado internacional colabora positivamente. Os desembolsos para a agropecuária baixaram 11,48% entre a primeira metade de 2020 e o mesmo intervalo deste ano, saindo de R$ 411,184 milhões para R$ 363,996 milhões (quer dizer, R$ 47,189 milhões a menos, o que correspondeu a 26,7% da queda geral dos desembolsos).
  • Uma parte dessa redução veio da queda nos desembolsos da Finame, linha que financia a aquisição de máquinas e equipamentos. No setor agropecuário, os desembolsos para esse tipo de operação recuaram 4,81%, saindo de R$ 328,804 milhões para R$ 313,004 milhões (cerca de 78,2% dos desembolsos totais no setor).
  • Na indústria, a queda foi de 10,38%, com os desembolsos saindo de R$ 46,022 milhões para R$ 41,244 milhões. O setor de alimentos e bebidas recebeu R$ 7,615 milhões nos seis primeiros meses deste ano, numa retração de 57,5% diante dos R$ 17,907 milhões liberados em 2020. Essa perda foi parcialmente compensada pelo salto de 1.262% registrado no setor de química e petroquímica (de R$ 871,456 milhões para R$ 11,869 milhões, dos quais 84,25%, ou R$ 10,0 milhões, foram destinados a um projeto em Rubiataba enquadrado no Programa de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro). Os recursos foram destinados à produção de biocombustível.