Coluna

Em tempos de coronavírus, empresas do agronegócio apostam na tecnologia

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de agosto de 2020

O
avanço do Sars-CoV-2 no País forçou a mudança de hábitos, rotinas e
procedimentos também entre empresas do agronegócio, que passaram a direcionar
esforços de seus respectivos times de tecnologia para desenvolver soluções mais
adequadas aos tempos de pandemia. Lançado em maio passado, o aplicativo John
Deere Conecta reflete esses novos tempos. Com a suspensão do circuito de feiras
e exposições agropecuárias, a empresa teve que reinventar seu modelo de
negócios, afirma Rodrigo Bonato, diretor de marketing de produto e ISG (grupo
de soluções inteligentes) da companhia para a América Latina. A nova
ferramenta, que roda em ambiente WEB e em sistemas operacionais IOS e Android,
permite uma interação mais efetiva com o mercado e “consegue dar maior atenção
ao cliente”, detalha.

Em
menos de 30 dias, o aplicativo registrou em torno de 320,0 mil acessos e
abrigou 2,6 mil chats, conectando o pessoal da indústria e produtores
interessados em tirar dúvidas sobre máquinas e sua operação. Mais do que isso,
o sistema foi transformado em verdadeira plataforma comercial, gerando a venda
de 300 máquinas desde sua criação, comemora Bonato. As mudanças atingiram o
relacionamento entre clientes e a área técnica da companhia. De acordo com ele,
“mais de 85% dos atendimentos (na área de manutenção) foram solicitados por
meio virtual e solucionados virtualmente, com economia de custos para os dois
lados”.

As
máquinas hoje em operação carregam sistemas digitais que descarregam dados
sobre a operação a campo nas nuvens, com uso do sistema JDLink, por sua vez
interligado ao Centro de Suporte a Operações da John Deere. Instalado no País
há três anos, o centro oferece ao ciente acesso integral a todos os dados do
maquinário e da operação agrícola. As regulagens necessárias e mesmo a
manutenção preventiva podem ser realizadas remotamente, em tempo real, quando
há conexão na fazenda. “Em um ano, mais de 13,0 milhões de hectares na América
do Sul, dos quais 9,5 milhões no Brasil, já estão
conectados”, sustenta Bonato. Na área de conectividade rural, a John Deere
trabalha em parceria com a Trópico, responsável pela implantação de redes
privadas de telecomunicação em banda de 250 megahertz.

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Conectividade

Essencial
para o avanço da digitalização no campo e para a consolidação de uma
agricultura de precisão no País, a conectividade no setor deverá experimentar
um salto nos próximos anos, prevê Arthur Igreja, especialista em tecnologia e
inovação. O cenário atual, no entanto, é menos animador. Segundo ele, em torno
de 70% das propriedades rurais no Brasil não têm acesso à internet e muito
menos conexão com a rede 4G. A melhor aposta para mudar essa realidade,
antecipa ele, “são os satélites suborbitais, que envolvem custos mais baixos”,
comparativamente às demais opções.Os sistemas inteligentes já embarcados em
tratores e colheitadeiras produzem uma enorme quantidade de dados, prossegue
Igreja, mas o agronegócio não tem demonstrado capacidade, até aqui, para “transformar
esses dados em inteligência na tomada de decisões”, em parte pela baixa
conectividade na fazenda. O processo de digitalização da gestão do negócio pode
agravar desigualdades no setor, alerta ainda, pois “grandes produtores
conseguem contratar os melhores técnicos e gestores, enquanto médios e pequenos
enfrentam maiores dificuldades”. Por isso, afirma Igreja, as cooperativas
poderão desempenhar “papel fundamental” nesta área ao facilitar o acesso
daqueles segmentos às novas tecnologias.

Balanço

·  
Hub
dedicado à inovação aberta, instalado pela Raízen em Piracicaba (SP) há
praticamente três anos, o Pulse abriga atualmente pouco mais de 28 startups,
que produziram meia centena de projetos pilotos já testados ou em fase de
avaliação pela usina. “Os resultados gerados nesse período superam em quase
cinco vezes o valor do investimento. Fechamos mais de seis contratos com
startups associadas ao projeto até o momento, alguns com resultados importantes
já alcançados”, comenta José Massad, diretor de tecnologia da Raízen.

·  
Entre
esses, Massad destaca o caso da Aimirim, que desenvolveu uma solução de
inteligência artificial que permite otimizar o consumo de vapor nas caldeiras,
com economia de bagaço e redução de emissões. O sistema já opera em seis usinas
do grupo e está em fase de implantação em mais duas. A PerfectFlight criou um
sistema de gestão e acompanhamento de aplicações de defensivos com uso de
drones, além de gerar relatórios interativos, facilitando a tomada tempestiva
de decisões. Na Raízen, a aplicação atingeatualmente 417,0 mil hectares de
cana.

·  
Adquirida
pela Syngenta desde 2018, a Strider também participou do hub e teve seu projeto
adotado em 19 unidades da Raízen. A solução oferecida pela empresa utiliza tablets
como plataforma para monitoramento da lavoura e o software permite gerenciar 18
tipos de amostras para identificação de pragas e até o acompanhamento da
qualidade da cana no campo.

·  
Criada
em 25 de julho do ano passado, a Agro 10X registrou faturamento de R$ 25,0
milhões em seu primeiro ano de operações e mais de 1,0 milhão de doses de sêmen
vendidas por meio da plataforma desenvolvida pelo veterinário Wagner Oliveira,
dono da empresa. “Foram três anos para desenvolver o sistema, que classifico
mais como um método inovador de vendas, totalmente digital, que permite
conectar a indústria de inseminação e o consumidor final, além de gerar demanda
no campo”, afirma.

·  
Com
sede em Uberaba (MG), a empresa conseguiu reunir em torno de sua plataforma
“quatro entre as seis maiores indústrias do setor”, detalha Oliveira. Trata-se,
na verdade, conforme ele, de uma “multiplataforma” de negócios, que inclui recursos
do WhatsApp e do YouTube, além de plataformas do Google. Grupos de WhatsApp,
formados por representantes comerciais das indústrias parceiras, técnicos
especializados e produtores rurais, operam como salas de negócio virtuais, que
aproximam vendedores e clientes. O grupo de técnicos dá suporte e responde a dúvidas
dos produtores, que podem participar de palestras especificas on-line.

·  
Em
sua plataforma, Oliveira oferece um combo que inclui sêmen e protocolos de
inseminação artificial em tempo fixo (IATF).O empresário espera aumentar as
receitas em 50% no segundo ano de vida da empresa e estuda ampliar o portfólio
com a inclusão do segmento de nutrição animal e venda de animais vivos.