Terça-feira, 19 de março de 2024

Emprego bate recorde, puxado por ocupações de baixa qualificação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de agosto de 2022

O mercado de trabalho recuperou-se da derrapagem sofrida no primeiro trimestre deste ano, em Goiás, chegando no trimestre seguinte ao maior número de pessoas ocupadas em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento dos empregos de menor qualificação, no entanto, foi o principal destaque por trás daquele recorde, o que parece explicar o fato de o rendimento real médio dos trabalhadores manter-se em baixa.

A economia goiana gerou 3,70 milhões de ocupações no segundo trimestre, crescendo 4,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior, quando o total de pessoas ocupadas havia alcançado 3,528 milhões – numa variação, portanto, de 172,0 mil. Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o total de empregos apresentou crescimento de 15,3%, correspondendo à abertura de 491,0 mil vagas no período. Os dados são evidentemente positivos, mas o dado recorde em números absolutos para o total de ocupados precisaria ser colocado sob perspectiva, levando-se em consideração, por exemplo, o nível de ocupação, ou seja, a relação entre o total de pessoas ocupadas e a população total em idade de trabalhar, com 14 anos ou mais de idade.

No segundo trimestre deste ano, o nível de ocupação chegou a 63,0% diante de 60,2% no trimestre encerrado em março e de 55,5% no segundo trimestre de 2021. Na série da PNADC, aquele percentual foi o segundo mais alto, superado apenas pelo índice do quarto trimestre de 2013, quando a relação entre ocupados e população em idade de trabalhar havia alcançado 63,3%. Caso o mesmo percentual fosse registrado no segundo trimestre deste ano, o emprego estaria ligeiramente mais elevado, próximo de 3,715 milhões. A diferença é pouco relevante, de fato, mas o suficiente para acrescentar alguma cautela na definição daquele recorde.

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Maior participação

Detalhes à parte, a participação de empregos que demandam menor qualificação cresceu acentuadamente e a categoria tem desempenhado papel central no avanço experimentado pelo emprego, sob influência da reabertura dos serviços, que tem registrado desempenho muito superior aos demais setores da economia, dado o crescimento modesto do comércio e da produção industrial. Somando as ocupações geradas pelos setores de agricultura e pecuária, construção, comércio e reparação de veículos, transporte, bares, restaurantes e hotelaria, serviços domésticos e outros serviços, a participação avançou de 52,9% no segundo trimestre do ano passado para 55,1% em igual período deste ano, saindo de 54,96% no trimestre imediatamente anterior.

Balanço

  • Ainda considerando segmentos que demanda qualificação mais baixa, o saldo de ocupações atingiu 2,038 milhões no trimestre finalizado em junho, crescendo 5,1% em relação a 1,939 milhão no primeiro trimestre. Foram abertas mais 99,0 mil vagas, o que representou 57,6% de todas as novas ocupações geradas entre aqueles dois trimestres.
  • Já na comparação com o segundo trimestre, quando aqueles segmentos acomodavam 1,696 milhão de trabalhadores, registrou-se um salto de 20,2%, o que representou a abertura de mais 342,0 mil ocupações. Ou seja, quase 70,0% das novas ocupações geradas pelo mercado de trabalho naqueles 12 meses vieram de trabalhos de menor qualificação e, supostamente, de baixa remuneração.
  • Não por coincidência, o rendimento real médio dos trabalhadores registrou baixas de 0,5% e de 4,6% em relação ao primeiro trimestre deste ano e frente ao segundo trimestre do ano passado, respectivamente. Em valores reais, já corrigidos com base na inflação, o rendimento caiu de R$ 2.659 no segundo trimestre de 2021 para R$ 2.550 no primeiro trimestre deste ano, recuando ainda para R$ 2.536 no trimestre seguinte. Foi o segundo valor mais baixo da série histórica, acima apenas do segundo trimestre de 2016, quando o rendimento real médio havia sido de R$ 2.534.
  • De toda forma, o crescimento da população ocupada, superando o avanço registrado pela força de trabalho (soma das pessoas ocupadas com aquelas desocupadas e ainda em busca de uma colocação), permitiu reduzir a taxa de desemprego para o menor nível desde o segundo trimestre de 2014, que girou ao redor de 5,2%. A taxa de desocupação no segundo trimestre deste ano ficou bem acima daqueles níveis, atingindo 6,8% diante de 8,9% no primeiro trimestre de 2022. No segundo trimestre do ano passado, a taxa de desemprego estava em 12,4%.
  • Ainda sob efeito do avanço do emprego e mesmo sem a ajuda do rendimento, que continuou encolhendo, a massa de rendimentos habitualmente recebidos pelos trabalhadores alcançou seu maior nível, em termos reais, desde 2012, quando a PNADC começou a ser realizada. Com altas de 4,2% em relação ao primeiro trimestre de 2022 e de 9,9% em relação ao segundo trimestre do ano passado, a massa de rendimentos somou R$ 9,289 bilhões no trimestre finalizado em março deste ano.
  • A informalidade continuava relevante na composição da ocupação no Estado, ainda que seu crescimento tenha observado desaceleração mais recentemente. No cálculo do IBGE, que não considera os trabalhadores sem carteira no setor público, o total de informais avançou de 1,314 milhão no segundo trimestre de 2021 para 1,462 milhão no mesmo trimestre deste ano, crescendo 11,3%. Na comparação com o primeiro trimestre, os informais aumentaram 4,1%.
  • O desaquecimento no ritmo de avanço dos informais fez cair a taxa de informalidade, que mensura a participação dos trabalhadores sem carteira e sem direitos trabalhistas no conjunto de ocupados. O percentual de ocupados na informalidade recuou de 40,9% no segundo trimestre do ano passado para 39,5% em igual período deste ano, o que praticamente se equipara à taxa de 39,4% registrada no quarto trimestre de 2020.