Emprego cai desde novembro e famílias perdem R$ 2,4 bilhões

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 03 de maio de 2023

O fechamento de empregos e o consequente encolhimento da massa de rendimentos pagos às famílias de trabalhadores no País ajudam a entender o desaquecimento da atividade econômica e o cenário de incertezas dali decorrente na economia em geral, enquanto o Banco Central (BC) persiste em sua política de juros escorchantes. O total de pessoas ocupadas e a renda familiar proveniente de salários e outros rendimentos do trabalho entraram em baixa desde novembro do ano passado, numa tendência que não parece influenciada exclusivamente pela demissão sazonal de empregados contratados principalmente pelo comércio para atender à demanda mais expressiva dos consumidores nos festejos de fim de ano.

A queda no número de pessoas com alguma forma de ocupação no começo deste ano foi a mais intensa desde o começo da pandemia em 2020, além de atingir praticamente todos os setores da economia, não se limitando a atividades afetadas pelo incremento da demanda no fim de ano e seu consequente esvaziamento nos meses imediatamente seguintes. Apenas para comparar, o total de pessoas ocupadas caiu de 99,370 milhões no último trimestre de 2022 para 97,825 milhões no trimestre finalizado em março deste ano, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação entre aqueles dois períodos, a economia fechou em torno de 1,545 milhão de ocupações, numa redução de 1,6% conforme já divulgado na semana passada.

A queda ganhou intensidade muito mais relevante do que nos dois anos anteriores. Em 2021 e 2022, sempre considerando as variações ocorridas entre o trimestre final do ano imediatamente anterior e os três meses iniciais do ano analisado, o número de ocupações havia experimentado quedas respectivamente de 0,5% e de pouco menos do que 0,2%, significando o afastamento, na mesma ordem, de 472,0 mil e de 143,0 mil trabalhadores. Neste ano, a baixa foi a mais intensa desde o primeiro trimestre de 2020, quando a economia chegou a anotar a demissão de 2,4 milhões de pessoas, numa redução de 2,5%.

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Uma das consequências da redução do emprego surge sob a forma de um encolhimento da massa salarial, quer dizer, da soma de todos os rendimentos recebidos pelos trabalhadores. A massa de rendimentos, que havia alcançado R$ 279,606 bilhões no trimestre terminado em novembro de 2022, recuou para R$ 271,194 bilhões ao final do primeiro trimestre deste ano, em baixa de 0,9% em termos reais, o que correspondeu a uma perda de renda de R$ 2,412 bilhões.

Serviços na liderança

Desde novembro do ano passado, considerando o trimestre encerrado naquele mês, a economia perdeu ao redor de 1,868 milhão de ocupações, gerando recuo de 1,9% no total de trabalhadores ocupados em todo o País até o final do primeiro trimestre deste ano. O total de pessoas ocupados encolheu de 99,693 milhões para 97,825 milhões. No mesmo intervalo, o comércio demitiu 365,0 mil pessoas, correspondendo a 19,5% do total de demitidos, com o número de ocupados no setor saindo de 19,257 milhões para 18,892 milhões, numa redução de 1,9%. Assim como desempenharam papel relevante na reação relativa experimentada pelo mercado de trabalho depois de encerradas as medidas de distanciamento social adotadas para conter a pandemia, os serviços assumiram a duvidosa liderança entre os setores que mais demitiram. Apenas nesta área, o número de pessoas ocupadas, informais em boa parte, baixou de 51,574 milhões para 50,870 milhões, correspondendo ao fechamento de 704,0 mil vagas, em queda de 1,4%.

Balanço

  • Dentro dos serviços, o segmento consolidado pelo IBGE como “administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais” afastou 484,0 mil trabalhadores desde novembro do ano passado, representando 68,7% do número de demitidos na área de prestação de serviços em geral e 25,9% do total de trabalhadores que perderam o emprego na soma de todas as atividades. Assim, o número de ocupados naquele segmento caiu de 17,655 milhões para 17,171 milhões, em baixa de 2,7%.
  • Pode-se afirmar, apenas a título de argumentação, que a administração pública, detentora da parte importante daquelas colocações, segue lógica diferente do restante da economia e que, dessa forma, demissões no setor não poderiam ser necessariamente associadas aos ciclos vivenciados pela atividade econômica. Vale dizer, uma retração ou mero desaquecimento da atividade como um todo poderia talvez não causar um movimento reflexo e imediato de demissões no setor público. O raciocínio inverso, fases de crescimento da atividade nem sempre seriam acompanhadas por crescimento do emprego naquele setor.
  • Embora problemático, o argumento não pode levar a ignorar que as demissões ocorridas afetarão a demanda em seu conjunto, já que as famílias afetadas passarão a sofrer perda de renda por conta do desemprego. O efeito macroeconômico seria, portanto, no sentido de um desaquecimento do consumo, de toda forma.
  • Elucubrações à parte, o fato é que a tendência mais recente de demissões e elevação do desemprego tem sido influenciada mais decisivamente pelo emprego formal, que tem sofrido revezes mais intensos do que a informalidade, revertendo o comportamento anterior daquelas formas de ocupação. Entre novembro do ano passado e março deste ano, a PNADC mostra que os trabalhadores na informalidade foram reduzidos de 38,808 milhões para 38,118 milhões, ou seja, praticamente 690,0 mil vagas a menos, numa redução de 1,8% – o que significa dizer que a queda nas ocupações informais teve participação de 36,94% na redução do emprego como um todo.
  • Por inferência, o total de trabalhadores formais, incluindo trabalhadores com carteira de trabalho assinada, aqueles ocupados por conta própria e empregadores, ambos com registo no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), recuou de 60,885 milhões em novembro de 2022 para 59,707 milhões em março deste ano. As ocupações nesta área sofreram baixa de pouco mais do que 1,9%, correspondendo a 1,178 milhão de demitidos, pouco mais de 63,0% de todas as demissões ocorridas na economia naquele período.
  • O total de ocupados, que chegou a crescer 10,6% entre o trimestre março-maio de 2021 e igual período de 2022, avançou meros 2,7% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo intervalo do ano passado.